(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

Há culpa?

O que acontece quando o amor desfalece e a paixão que  nos faz arder por dentro e por fora se apaga, deixando atrás de si apenas as cinzas de um passado incandescente?  O que acontece quando percebemos que o que ficou foi história, ternura e património interior que nada jamais poderá apagar?
O que acontece se tivermos a coragem de dizer ao outro:
- “ Olha.. tenho algo a dizer-te…. Provavelmente já o sentiste... Já não te amo… Desculpa…”
- “ Como podes dizer isso? Tu não estás bem! Estás louca!  … A deitar assim fora tudo o que construímos juntos! És interesseira, egoísta! Como podes fazer-me isto,  depois de tudo o que fiz por ti?”  - E a telenovela mexicana continua. Às vezes durante meses, anos… durante demasiado tempo!
  E agora pergunto: que culpa tem quem deixa de amar? Seja com justa causa ou sem ela, o fim do amor é apenas o fim de um sentimento. E que sentimento poderá ser verdadeiro se for controlado e comandado pela razão, pensamento ou vontade? Que sentimento é verdadeiro se for uma rendição de conformidade aos padrões instituídos; se for algo baseado no “tem que ser” ou nas dívidas de gratidão?  Ninguém tem culpa de deixar de amar… da mesma forma que ninguém tem culpa por começar a sentir amor por alguém ( mesmo que esse amor seja proibido)!
  Mas vejamos este outro cenário:
- “Olha.. tenho algo a dizer-te…. Provavelmente já o sentiste... Já não te amo… Desculpa…”
- “ Pedes desculpa porquê? Ninguém é culpado por deixar de amar… a não ser, talvez, a pessoa que era amada e deixou de ser… Não peças desculpa! Talvez consiga fazer com que um dia te voltes a apaixonar por mim…”
  Como tudo muda de figura neste cenário, não é?  E, enquanto escrevo, não consigo deixar de pensar em todos os ditos “casais” cujo único alicerce deveria ser o sentimento de amor, e que se regem por leis que nada têm a ver com o sentimento que os uniu… Penso em quantas pessoas vivem justapostas sem mais pontos de toque do que a ausência de sentido na sua vida emocional.  Penso em quantas pessoas não têm nem podem ter a coragem de dizer:  - “ Já não te amo… Desculpa.” Não têm como enfrentar a vida exterior sozinhas e, pior, não sabem como enfrentar a vida interior consigo mesmas, no respeito mais importante que se pode ter: o respeito pelo seu ser, pelo seu sentir ( ou, neste caso, não sentir…) 
   Quantos de vós, ao ler isto, não estarão a analisar pela primeira vez se realmente amam ( ou já não) a pessoa ao lado de quem todos os dias adormecem e acordam… Estão a pensar se ainda a amam, se ainda a admiram… se ainda a conhecem…   E, por momentos, talvez pensem também se ainda se conhecem a vós mesmos, ou se se perderam da vossa verdadeira essência apenas para poderem continuar confortavelmente justapostos ao lado de quem, um dia, já vos incendiou os sentidos…. 
   E penso ainda que é muito mais justo saber que sentimentos os outros realmente têm por nós…  e é por isso que   sei que se algum dia alguém me disser: - “ Já não te amo, desculpa….”  - a resposta será apenas: - “ Obrigada!”
Ana Dias

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