(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

17.1.12

Partir


   Partir requer força.  Implica espírito de sacrifício e capacidade de lidar com o desconhecido.  Ficar é muito mais fácil. Não incomodamos ninguém quando não nos mexemos do sítio; não levantamos ondas nem semeamos ventos de tempestade. 
   Aceito quem não queira partir. Aceito quem aceita ficar imóvel. E até aceito quem, em tentativas vãs, me tenta impedir de partir. Entendo que  as pessoas são todas diferentes e que, por isso mesmo, têm visões distintas do Mundo, da vida e de si mesmas. Entendo que há seres que, apesar de serem grandiosos nas suas capacidades, se resignam ao espaço confinado da habituação.
  Partir requer força. Mas quem parte ganha sempre. Ganha a riqueza da conquista do seu espaço pessoal. Ganha  cultura e  experiências. Ganha os momentos inesquecíveis que compõem o puzzle da vida. E se querem saber, quem tem a força de partir, mesmo quando a tempestade está forte, ganha inevitavelmente o respeito de quem o queria fazer ficar…
- Ana, já acabaste ? – a minha mãe chega das lojas que tem andado a ver, enquanto esperamos pelo nosso voo.
- Espera, mamy, ainda me falta dizer uma coisa.  
   E o que vos quero dizer é simples: não sucumbam, por favor, a quem vos quer fazer ficar. A nossa vida é demasiado preciosa para que possamos permitir que outros a vivam por nós! Lembrem-se:  para partir é preciso força. E é essa força que nos vai trazer de volta como pessoas mais completas, inteiras e felizes.
Ana Dias
 

Saudades?



- Meninos, vão ter saudades minhas? –
- Vaaamos! – Respondem em coro,  com um tom de voz que não deixa antever qualquer tipo de sofrimento.
- Mas não tenham muitas, está bem? –
- Sim, mãe!
 Em véspera de partir para dez dias fora, tento assegurar-me que estão bem com a minha breve ausência, afinal eles próprios já foram viajar sem mim durante mais tempo que isto.
  Mas o tema das saudades deixa-me a pensar… Sei que um dia os meus filhos vão sair de casa. Talvez para estudar fora ou para viajar pelo Mundo. É a lei da vida. É assim que deve ser. As crias a sairem do ninho e a trilharem o seu próprio destino. Quero que vivam aventuras, conheçam muita coisa e se descubram a si mesmos.  Sei que quando esse momento chegar quero estar preparada para os ver partir. Sei que é provável que custe um pouco, mas amar é isso: é aceitar a saudade como uma benção magnífica.  Só o amor perfeito aceita a partida e  exulta o abraço à vida dado pelo outro.
   Acredito que estou a construir esse tipo de relação com os meus filhos. De parte a parte. Porque os estou a deixar perceber que as saudades são um reflexo do amor, enquanto ao mesmo tempo lhes demonstro que é possível torná-las suaves e boas.... por amor!
Ana Dias