(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.7.12

Este combóio não pára




   Por vezes acontece. Sento-me a beberricar a meia de leite escura sem fazer a mínima ideia do tema da crónica. Demoro muito pouco tempo  a  começar e ela acaba sempre por sair. Rápida, segura e sentida.  
   Hoje olhei para televisão. O Elton John estava a  cantar  “This train don’t stop there anymore”.    Gostei da melodia. Procurei a letra na internet para lhe entender melhor o sentido.  Conta a estória de alguém desencantado com o amor que confessa nunca ter percebido muito do assunto e não conta lá parar de novo.   Como acontece com toda a poesia, posso ter falhado na interpretação. Ou então este é apenas um dos muitos sentidos das estrofes.
   O importante é pensarmos  um pouco sobre o nosso combóio. Parou ele em demasiadas estações?  Ou terá parado em muito poucas?  Parou por demasiado tempo? Ou arrancou cedo demais?   Não terá prestado atenção e falhado alguma estação importante?  Será que partiu com a última estação ainda no pensamento?
  O que pergunto é:  poderemos dizer que o nosso combóio não volta a parar no amor? Dizer isso até podemos, mas não quer dizer que corresponda à realidade futura.
  De qualquer forma, e mesmo correndo o risco de desvirtuar os parágrafos anteriores,  creio que esta analogia não faz muito sentido. Porque os combóios andam sozinhos:  apenas se cruzam com outros e param por breves momentos nas suas estações.  Se amor e combóios podem ter alguma poética relação, creio que só podemos dizer que, das duas uma: ou saltamos lá para dentro, ou ficamos na estação… a ver passar os combóios…
Ana Amorim Dias