Por vezes acontece. Sento-me a beberricar a meia de leite escura sem fazer a mínima ideia do tema da crónica. Demoro muito pouco tempo a começar e ela acaba sempre por sair. Rápida, segura e sentida.
Hoje olhei para televisão. O Elton John estava a cantar “This train don’t stop there anymore”. Gostei da melodia. Procurei a letra na internet para lhe entender melhor o sentido. Conta a estória de alguém desencantado com o amor que confessa nunca ter percebido muito do assunto e não conta lá parar de novo. Como acontece com toda a poesia, posso ter falhado na interpretação. Ou então este é apenas um dos muitos sentidos das estrofes.
O importante é pensarmos um pouco sobre o nosso combóio. Parou ele em demasiadas estações? Ou terá parado em muito poucas? Parou por demasiado tempo? Ou arrancou cedo demais? Não terá prestado atenção e falhado alguma estação importante? Será que partiu com a última estação ainda no pensamento?
O que pergunto é: poderemos dizer que o nosso combóio não volta a parar no amor? Dizer isso até podemos, mas não quer dizer que corresponda à realidade futura.
De qualquer forma, e mesmo correndo o risco de desvirtuar os parágrafos anteriores, creio que esta analogia não faz muito sentido. Porque os combóios andam sozinhos: apenas se cruzam com outros e param por breves momentos nas suas estações. Se amor e combóios podem ter alguma poética relação, creio que só podemos dizer que, das duas uma: ou saltamos lá para dentro, ou ficamos na estação… a ver passar os combóios…
Ana Amorim Dias