(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

Escritor


O escritor vive para se emocionar e para despertar emoções… A parte complicada é que, quando percebemos que somos escritores, a realidade deforma-se… como se uma dimensão intermédia se interpusesse entre nós e o exterior.
  Quando descobrimos que somos escritores já não sabemos se dominamos as ideias ou se são elas que nos dominam a nós; se possuímos a criatividade ou nos deixamos possuir por ela. No dia em que temos que deixar um banho a meio ( carregando, durante o resto do dia, o duro fardo de termos ficado mal lavados ) porque não podemos deixar fugir conceitos ou conjuntos harmoniosos de palavras que nos ecoam debaixo do chuveiro… nesse dia percebemos que somos escritores!
  E quando a cruel e abençoada realidade se abate sobre nós, com todo o seu turbulento manancial de constante nascimento criativo, percebemos que nunca mais seremos os mesmos… que a responsabilidade nos pesa a cada momento. Porque a cada momento podemos absorver algo precioso que temos a obrigação de partilhar com o mundo!
  Um escritor tem que perpetuar  a atenção a todos os sinais e estímulos exteriores e interiores. Para nós não há horários, férias, noites nem fins-de-semana. Um escritor está eternamente “de serviço” porque nada lhe pode nem deve escapar!
  Um escritor, um verdadeiro escritor, só está realmente vivo e inteiro em dois momentos: quando  escreve e enquanto pensa no que vai escrever!!

Agora a parte cómica…
   Se eu me visse, desde fora de mim, talvez me considerasse louca… ou talvez apenas excêntrica… Vivo numa amálgama de pensamentos, ideias, personagens, letras, invenções, conclusões, questões  e intuições. E faço-o enquanto vou cumprindo todas as outras funções (as de pessoa normal) com a cabeça a mil léguas de distância. Vivo entre uma amálgama de cadernos, caderninhos, agendas, folhas soltas, guardanapos… qualquer coisa serve desde que haja uma caneta à mão… Porque não dá jeito fazer tudo com o computador sempre ao alcance dos frenéticos dedos…  Porque não dá tempo, às vezes, de sequer o ligar…
  Amanhã vou comprar uma caneta que dê para escrever nos azulejos da parede da banheira…. A sério que vou!
Ana Dias

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