O deck do Ipod faz soar uma música latina apetecível. Começo, lenta, a abanar-me, até que deixo o corpo tomar o controlo da situação e rendo-me a passos mais apaixonados e expansivos. Há instintos, reflexos denotadores de bem estar e felicidade, que são quase irreprimíveis e, por isso mesmo, não devem ser refreados, sob pena de perdermos momentos únicos da vida.
É certo que estou na minha sala e que não tenho por hábito abanar-me tão volumptuosamente em público, embora confesse que, por vezes, me deixo levar por suaves movimentos na fila do supermercado ou enquanto espero os meus filhos à porta da escola. Sou uma criminosa!
- Aqui não se dança, pois não? - Perguntou-me, certo dia, um agente da autoridade que fiscalizava o bar de família.
- Aqui no “Piratas” não costumam dançar, não…” – Respondi.
- Pois! É bom que não dancem! – Frisou bem as palavras pois o “Piratas” não tem licença para que as pessoas respirem a vida com dança.
Lembrei-me deste episódio devido caso do proprietário de um restaurante que chegou mesmo a ser preso por ter tido clientes suficientemente felizes e descomplexados a ponto de se exprimirem com uns passitos de dança. A meu ver o senhor devia ser premiado por lograr causar tal efeito nos clientes que, provavelmente fartos da austeridade da época, se conseguiram, ali, render à despreocupação de um bom momento.
E não consigo evitar um pensamento: e se, pelo contrário, conseguíssemos obrigar todos os seres cinzentos a dançar? E se todos os legisladores ignorantes, burocratas arrogantes e engravatados pedantes, que operam em todas as estruturas rígidas e austeras, perdessem o seu pelouro a menos que, de hora a hora, fossem obrigados a dançar por dez minutos como se não houvesse amanhã?
Parece-vos uma ideia estúpida? A mim parece-me suficientemente sábia para encerrar a solução de uma infinidade de problemas!
Ana Dias