(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

A carta mágica

Na minha misteriosa e apaixonada relação com as palavras escritas é frequente que textos, cartas e  outros escritos que me são queridos, desapareçam sem deixar rasto para surgirem, depois, quando menos o espero, nos mais surpreendentes lugares ( normalmente bem à vista dos meus olhos como que a dizer-me: “ Lê-me agora! É por isso que aqui estou…”)
   E por isso habituei-me a respeitar, mais que a vontade racional, esse impulso inexplicável de “absorver”,  ao calhas, as palavras que aleatoriamente se me cruzam no caminho.
  A carta que vos vou transcrever é algo que guardo com um carinho imenso  (apesar de  ter vida própria porque quando a quero ler não a encontro… é só quando  ela decide aparecer…) e que me foi escrita por uma grande amiga dos tempos da faculdade. Vivemos na mesma residência universitária,  “Domus Nostra” e, embora estudássemos ambas na Faculdade de Direito, os laços estreitaram-se no locar onde morávamos.
  A carta que vão ler foi escrita no dia 11 de Julho de 1997, em vésperas do meu regresso ao Algarve por virtude de ter terminado o curso. Para ajudar no contexto, refiro ainda que ela tinha mais um ano pela frente e que, por aqueles dias, eu estava ausente de Lisboa… A carta foi escrita no meu quarto.
“ Descobri que gosto muito de ti
  Descobri-te como és.
 Estou aqui, no teu “ pequeno” grande mundo. Ouço os teus CD’s (perdoa a ousadia!), instalo-me na cadeira, com um buraco no fundo, moldado à tua medida…   Percorro com os dedos a secretária onde tantas e tantas vezes te vi despejar a fúria, o ódio, a paz e a calmaria… enquanto os teus olhos deslizavam pelas linhas do que lias.
   Tantas e tantas vezes  olhaste pela janela que quase te sinto. Quase que sinto a tua presença. O teu olhar recai sobre mim sentada na janela…
    Gosto da tua companhia. Habituei-me de tal forma ao teu cheiro, aos teus cabelos, à tua conversa…
  Não quero sentir-me  assim. Sinto-me dividida… Diovidida entre todo o bem que te desejo e a falta que me faz a tua companhia…
Se uma de nós se lembrar e uma de nós se esquecer… Aqui te deixo o que vou fazer… Ficar contente por esperar por ti e saber bem como vai ser!
Com amizade eterna, (guess who…)”
A Maria João Mira ( naquela altura, Maria João Ribeiro) entregou-se pela caligrafia e pela forma de escrever…. E  entregou a alma no conteúdo que ao longo dos anos me tem relembrado a força da amizade!
Esta carta aparceu-me hoje em cima da secretária ( Juro que não sabia dela há uns tempos…)
Por isso, João; esta é para ti!! Porque o  “se uma de nós se esquecer” nunca vai acontecer!!
Um beijo para ti.
Ana Dias

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