(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

Viagem … ao centro de mim

   A solidão assusta. Não só na vida em geral, mas nas viagens também. Começam, aos poucos, a proliferar as viagens a sós, muitas delas organizadas por agências vocacionadas para excursões a solo… mas em grupo!  E isso não é viajar sozinho, mas na companhia de desconhecidos que em breve  se tornarão companheiros de viagem… Assim é fácil…
   A solidão assusta. Sobretudo quando, lançados ao mundo, percorremos caminhos desconhecidos; enfrentamos desafios não previstos e descobrimos, perante a mais fabulosa paisagem, estar a contemplá-la a sós, sem a alegria da partilha que nos exponencia as sensações…
  E a solidão assusta porque sabemos que só contamos connosco e que, se algo correr menos bem, apenas nos restará contar com o milagre da solidariedade alheia. Mas uma viagem a sós ( daquelas marcadas na net com a convicção de não se querer ir em excursão) tem a  sua  mais temida face no tempo passado com nós mesmos… Mais que tudo o resto, é isto que nos assusta, ou pelo menos é o que tenho entendido de todos quantos, espantados, me dizem que jamais seriam capazes de fazer o que eu faço….!
  Tudo começou numa manhã de Domingo, sentada ao computador. A vontade de partir já cá estava, mas não queria partilhar o meu tempo e espaço com ninguém.  – “ Para onde vou?” – Perguntei-me. – “ Conheço meio Mundo e nunca visitei o Louvre…É isso! Vou para Paris!” -  Meia hora depois tinha os voos marcados, o hotel escolhido e o planeamento dos meus dias relativamente bem estruturado.  Por momentos pensei em convidar alguma amiga, mas o friozinho no estômago estava a saber-me tão bem que percebi que aquela viagem era mesmo só para mim:  para estar comigo… em Paris.
  Uma semana mais tarde, ao sentar-me no avião, percebi que, apesar das incontáveis vezes que me elevara nos céus, jamais o havia feito apenas comigo. Revi mentalmente tudo o que tivera de deixar preparado para a minha ausência: quanto ao trabalho, quanto à casa e aos filhos… mas depressa percebi que queria deixar tudo em casa, como que tirando umas férias da vida. Ainda bem que assim fiz ou teria corrido o risco de partir só com o corpo, deixando a alma para trás…  Mas não! Eu fui inteira! Ou pelo menos assim o pensava  ao chegar, maravilhada, à cidade Luz!
  Quando se viaja sozinha tudo tem outro encanto:  responsabilizamo-nos em absoluto por nós num silêncioso pacto de zelosa  protecção; seguimos ao nosso ritmo e divagamos, com ou sem destino, ao sabor da nossa vontade; respeitamos as regras por nós impostas, mas com a satisfeita leveza de nos sabermos senhores da nossa própria vontade e experimentamos a egoísta vivência de tudo saborear com um encantamento infantil de quem não se cansa, mesmo quando o corpo já não pode dar mais um passo…
Por isso devolvo o meu espanto a quem se admira por eu partir sozinha pelo Mundo, dizendo que jamais seria capaz… como podem negar-se a experimentar? Como podem pensar que é assustador e desconfortável?  Como podem não dar, sequer, uma condescendente hipótese à viagem que poderia abrir, mais que os vossos horizontes, as portas do vosso interior?


É por isso que não, a solidão não assusta! Só a pode temer quem  pense que não se tem a si mesmo!
  E apenas digo isto porque nessa primeira viagem a sós, sem mais companhia que a minha,  vivi um reencontro inesperado que me devolveu a mim mesma….houve segredos revelados de dentro para fora, num conhecimento mais pleno e profundo,… numa beleza tão rica quanto o destino escolhido… E é na bela paisagem do nosso interior que realmente fazemos a mais perfeita viagem… aquela nos muda e regenera e poderá muito bem ficar gravada na nossa memória como a viagem da nossa vida!
Como nessa semana em Paris… Nessa viagem… ao centro de mim…

Ana Dias

Peregrino das Estrelas

  Deixo o telefone chamar, mas ninguém atende. Espero um pouco mais. Em vez do meu irmão, atende a minha cunhada que me informa que ele está nas cem piscinas matinais. Peço que mesmo assim o interrompam, e a minha sobrinha leva-lhe o telefone à piscina. Talvez outra pessoa não merecesse a interrupção das cem mil léguas submarinas mas, para o meu genial maninho, as irmãs são uma prioridade!
  -“ Estou, maninha?” – pergunta-me, curioso e ainda meio ofegante.
- “ O planeta Terra viaja no espaço?” – Habituado aos meus devaneios, que surgem sem mais aviso, começa a responder prontamente.
- “ A Terra anda à volta do Sol…”
- “ Passa à frente, essa parte eu sei!!”
- “ …E o Sol anda à volta do centro da nossa galáxia… Um gigantesco buraco negro cuja existência já foi comprovada. Para toda a galáxia dar uma volta completa em torno do seu centro são necessários cerca de 200 milhões de anos, mas quanto a estes valores não estou bem seguro… Depois… há milhões de galáxias….” – Quando começa a falar disto já ninguém o cala.
- “ Mas diz-me, estamos a viajar no Universo?...”
- “ Tudo se move, nada é estático. Ainda para mais porque o Universo está em expansão e depois há ainda outras forças como a da gravidade que, apesar da expansão do Universo, faz com que galáxias inteiras se juntem mais umas às outras,  formando aquilo a que se chama os enxames de galáxias…”
- “ Obrigada maninho, já tenho o que preciso. Vai lá nadar outra vez!” – E desligo sem que o meu bem informado irmão chegue a ter tempo de me perguntar o porquê de tais perguntas.
  Pois bem, o “culpado” é um senhor que ontem me pediu amizade virtual e que se define como Peregrino das Estrelas. À vista desarmada,  pensei: “ Pimba… mais um chalupa…”, mas depressa reconsiderei,  por ponderar que,  no fundo, de uma forma ou de outra,  todos somos viajantes do Espaço (mas não quis escrever esta crónica sem consultar uma autoridade…).
  Vieram-me à lembrança uns meteoritos que vi no Museu de História Natural de Nova Iorque. Fiquei impressionada com a densidade dos pedregulhos que tinham um peso tremendo para o volume físico em questão. E fiquei a olhar ( e a tocar, como não??) embasbacada para aqueles pedaços de matéria vindos sabe-se lá de que confins do Universo. Fiquei a pensar se as primeiras células que deram origem aos primórdios da vida na Terra se terão gerado por cá ou terão  chegado “montadas” nalguma daquelas pedras celestes…
   Será assim tão descabido que alguém se auto proclame Peregrino das Estrelas? Afinal não estamos todos em movimento no imenso Universo? Não pertencemos ao Espaço? Não podemos voar, por dentro de nós, até aos confins desta Galáxia e de todas as outras?  Talvez desta vez me tenha “metido” por terrenos pantanosos… mas quem sabe, um dia destes, nas minhas imaginárias viagens, não me sente num confortável meteorito, com as perninhas a balançar, e parta numa emocionante viagem como Peregrina das Estrelas…
Ana Dias

O Caminho de Ítaca

“ Há muitos anos  li numa revista um pequeno texto entitulado “O Caminho de Ítaca”. Marcou-me. Guardei-o.  O papel está muito velho e gasto, mas a sabedoria das palavras apanha-me sempre com a mesma consistência quando, de longe a longe, alguma arrumação mais profunda me faz tropeçar nelas.
  Pelo que recordo, o pequeno texto fala de alguém cujo objectivo na vida é chegar a um local idílico chamado Ítaca e que gasta a sua vida na caminhada para lá chegar. Enfrenta medos e perigos, passa por belas paisagens e inesquecíveis momentos, conhece outras pessoas e conhece-se a si mesmo. Vive, descobre, perde e encontra, mas sempre de olhos postos no seu objectivo: chegar a Ítaca. Quando finalmente lá chega depara-se com duas realidades: Ítaca é um local normal, como qualquer outro no mundo: não tem uma beleza extraordinária nem riquezas sem fim;  não é o paraíso e muito menos corresponde a todas as expectativas criadas, ao contrário de muitos dos locais por onde o homem passou. Por outro lado, percebe que a sua vida se aproxima do fim, pois a vida do ser humano é sordidamente curta para cumprir todos os seus sonhos e desígnios.
  O homem percebe que gastou a vida na caminhada e que chegou a um sítio comum. E é só nesse momento que entende também que a verdadeira recompensa está na estrada da vida e não no local para onde, inexoravelmente, nos tentamos dirigir.
  Todos temos a nossa Ítaca. Para uns é a  riqueza, a fama ou a glória. Para outros tem a forma do mais perfeito amor ou da sublimação espiritual.  Qualquer que seja a nossa Ítaca, o nosso obectivo, o nosso máximo destino, é admiravelmente estranha a capacidade de esquecermos o mais importante. A Ítaca está a cada passo do caminho. O sonho concretiza-se a cada segundo que o sonhamos. O destino que cada um de nós luta, dia após dia, por alcançar está, afinal, a materializar-se a cada passo, a cada inspiração dos nossos pulmões.
   A consciência de que a nossa Ítaca está no próprio caminho da vida, é uma das muitas valiosas sabedorias que nos podem ajudar a viver a vida acordados. É o que nos pode ajudar a não ter os olhos postos apenas no prémio final  e, pelo contrário, levar todos os sentidos bem alerta e sentir, ao longo de todo o caminho, toda a sua beleza. Basta saber ver  com a alma, ouvir com o coração e respirar com a nossa essência…
   Mas todos os caminhos têm pedras, perigos e miragens. Todos os caminhos implicam esforço, cansaço, dor e perda. Há que aceitá-los também, tentado dar-lhes sentido e aprendendo com eles, pois a cada muro que derrubamos e a cada dor que ultrapassamos, estamos mais fortes e mais preparados, mais humanos e capacitados. Cada obstáculo pode representar uma lição de resistência, de perseverança, de perdão, de amor e de uma infinidade de outras coisas. Atentos ao caminho, a vivê-lo a cada instante, aprenderemos lições impensáveis e aproximar-nos-emos mais de nós mesmos.
  Saber que o verdadeiro valor do caminho de Ítaca é o próprio caminho será, enfim, a única maneira de conseguir saborear a chegada. Saber que o verdadeiro valor da nossa caminhada é o próprio caminho é a derradeira sabedoria da vida. É isto que me traz aquela velha folha de cada vez que os nossos caminhos se cruzam, porque por mais que a alma saiba, é com frequência que o corpo esquece.”

    Já não recordo a que propósito escrevi este texto, mas acabei por utilizá-lo como prefácio do segundo livro que publiquei: “ZOIA”.
   Também me acompanhou ao longo das várias apresentações e lançamentos do “Histórias do (A)Mar”, em que era sempre lido com uma convicção emocionada.
   Ao perceber a importância da marca que aquela simples página de revista deixou na minha vida, não posso deixar de pensar no poder das palavras… Não posso deixar de me render à alquimia de  certos textos que, como os pergaminhos mágicos dos filmes fantásticos, nos fazem perceber as mais preciosas lições no espaço de poucos minutos.
   Este texto/prefácio/crónica, nada mais é que um hino a esse poder; uma rendida homenagem a todos os que, com o inspirado dom da palavra, conseguem os mais inusitados feitos; conseguem deixar marcas eternas em muitos corações que comandam, depois, as ações de cada um rumo a uma existência mais plena, esclarecida, sábia e feliz!
  E por agora termino, que a página já se me acaba… Termino não só com um agradecimento a quem escreveu o texto que me inspirou, como com o sonho acordado de inspirar quem me lê!
Ana Dias


Laranjas do Algarve

Quando eu e a minha grande amiga de infância fomos morar para Lisboa, era frequente sermos confrontadas com o espanto alheio por, embora jovens,  sermos tão despachadas e decididas. E a Margarida começou a dizer, com o seu  jeito feliz, que era por termos sido “criadas” com laranjas do Algarve. Tornou-se daquelas brincadeiras que  nos acompanham pela vida fora e, quando vem a propósito, lá respondemos em coro, com uma felicidade cúmplice: -  “ É das laranjas do Algarve!” 
   Mas o que é certo é que a expressão encerra em si muito mais que a mera justificação para o facto de sermos, ambas, mulheres  determinadas e fortes; a frase encerra em si um orgulho que, não sendo ancestral  ( sou a primeira algarvia da família…) é profundamente sentido e vivido.
  O Algarve é muito mais que mar e sol; muito mais que as festas de Verão que enchem as páginas das revistas… O Algarve é mais do que apenas o sul tranquilo e quentinho onde se come bom peixe  e se reclama com os preços e  as filas durante o mês de Agosto…  O Algarve que conheço é muito mais extenso do que todos os quilómetros de costa com que namora o “seu” mar…  O Algarve que eu adoro  é muito mais completo e complexo do que os vastos  areais…. Este Algarve de que vos falo, é de uma riqueza nobremente simples; é um Algarve são, íntegro, repleto de nuances e tradições… Soubessem os forasteiros aproveitar um décimo do que cá temos!!!
  Mas, como não sou daqueles malévolos seres que gostam de despertar o interesse e escondem o “seu” tesouro com todos os sortilégios, estou determinada a colaborar neste breve e sucinto “levantar de véu” sobre as nossas valiosas riquezas ( não me fiquem a pensar que quero as laranjas só para mim…)
  Este Algarve de que falo, respira complexidade, desde logo nas pronúncias tão acentuadamente diferentes para tão reduzida área: porque se “ém” Légues” são os “és” a ser prolixos, em Faro, lembro-me que subia as “escades” do liceu para ir para “asjaulas”…. Mas o topo da cereja é quando oiço, pela manhã no café, um pescador de Monte Gordo querendo saber se tem folga… - “ Patrããão…. tá termentaaaa?” ( eu traduzo: patrão, o tempo está mau?)
Mas não é por aqui que se ficam as encantadoras nuances: as paisagens banais misturam-se com as inesquecíveis, numa profusão fantástica;  rotas interiores com represas e riachos, surgem nos mais insuspeitos caminhos; pequenos oásis e praias idílicas escondem-se, tímidos, nas épocas “mortas” em que areais inteiros existem só para mim…; e em cada cidade há um canto à espera de ser descoberto: um mágico ponto que nos leva ao passado no reverente silêncio da nossa atenção. Há esplanadas que, como cenários do próprio paraíso, nos enchem a alma com caipirinhas e lounge…. Há museus,  bilbliotecas, teatros e centros culturais, mas há mais, muito mais: há quem os povoa de arte e talento em tantas formas vertido…  E o Algarve Meu ( sim, podemos assumir já aqui uma analogia com o filme “África minha”, porque não?) gera tantas outras divinas delícias que constantemente dou graças pela suprema sabedoria de me ter fixado por cá…  Existem feiras de todo o tipo; festivais de marisco, de folares e até de chouriços… Existem dias medievais que nos transportam a outros tempos com um tal realismo que chegamos a acreditar estar na época das conquistas…
  Encontramos estrangeiros, rendidos e radicados  neste canto abençoado do mundo… Encontramos artesãos a trabalhar o barro e o vime, a fazer cestaria e licores que nada mais são que o próprio néctar dos Deuses… Encontramos gente simples e gente sofisticada; gente boa e inocente na sua genuinidade. E andamos por locais onde as portas ainda se usam abertas de para em par e os acenos de fazem, leves, a qualquer desconhecido que passe…
 Mas, apesar de tantas qualidades nas gentes, não concordo com quem vê com maus olhos as multidões nacionais que “escorregam” país abaixo de olhos postos nas quentes águas do mar e nos brancos  areais… Mas dá-me um certo maquiavélico prazer saber que estou ( ao contrário dos meus amigos espalhado pelo país…)  a cinco minutos do mar e poder, a qualquer hora do dia, passear à beira mar ou entrar por ele adentro… com a impetuosidade própria de quem foi criada com laranjas do Algarve, claro!   Mas não concordo, também, com quem chega a estas sulistas e ensolaradas terras, com ares de aleivosa superioridade e a ideia vincada de que por cá tudo anda ao relantim e nada de importante se passa (a não ser em Agosto)  porque, se soubessem a riqueza que traz à vida morar numa terra assim, talvez desfizessem os mitos…
   Pensem apenas sobre o que é viver num sítio onde realmente se V I V E; existir num contexto em que cada cada um é alguém… Imaginem o que seria a vossa vida com um mar destes sempre à mão e tão ao pé… Tentem visualizar a alegia de ver os filhos a ser criados ao ar livre, a jogar à bola na rua com um ambiente seguro; sonhem com sair do trabalho e dar um saltinho às esplanadas  com cheiro a maresia, para se deleitarem com conquilhas frescas ou deliciosos caracóis regados com as frescas “mines”…
  E, muito embora o Algarve não seja só campo ( longe disso: temos fantásticas “metrópoles”….) não consigo evitar colocar aqui uma pequena quadra do meu fabuloso conterrâneo, António Aleixo: “ A vida na grande terra / corrompe a humanidade / entre a cidade e a serra / prefiro a serra à cidade “
Fiquem bem, e se comerem laranjas…que sejam do Algarve….
Ana Dias

If you can make it there…

New York, New York!  Como se não se pudesse pronunciar o nome dessa cidade inominável sem lhe dar o épico ênfase que lhe dava Frank Sinatra….
New York, New York… Como se algo não tivesse ainda sido dito! A cidade que nunca dorme! A grande maçã! O marco, por excelência, do mundo ocidental…. A luz, o som, tudo inimitável, enérgico, frenético… Não!  Sobre New York nada há a acrescentar, apenas que é preciso senti-la para a compreender, para a poder abarcar.
Mas fica-nos sempre a soar o “ if you can make it there, you’ll make it anywhere…” como se  a big apple  fossemos nós  mesmos…  como se ” if you can make it inside yourself, you´l l  make it for anyone….”
Até já  NY… talvez esta noite sonhe em ti.
Ana Dias

Em casa…

Lembro-me perfeitamente daquela noite, apesar de já terem passado oito anos. Eu estava sentada no chão da sala a ver álbuns de fotografias. O resto da família estava também na sala. O Juan ao computador  e a Ana Maria a trocar sms com o namorado. A Luz Helena via a novela da noite, enquanto o Ricardo e o Luis bebiam rum e conversavam sem parar. Recordo-me até hoje do que senti naquele serão, sentada no chão daquela sala,  porque estava tão em casa quanto alguém pode estar… Estava no ninho acolhedor e reconfortante do meu lar, com uma sensação de pertença tão absoluta que raiava o absurdo …. sobretudo tendo em conta o facto de estar a tantos milhares de quilómetros de casa, em Medellin, na Colômbia. 
  Conheci o Luis e a Luz Helena nas caraíbas, alguns anos antes dessa noite. Eles celebravam vinte anos de casados e eu estava em lua de mel. Algo aconteceu entre mim e o Luis… Talvez tenha sido no momento em que o conheci que comecei a ter a mente mais aberta para certas coisas,  porque só posso justificar o que aconteceu como sendo um reconhecimento de almas que desde sempre se conhecem. Estávamos na mesma excursão quando, sem mais nem quê, o comecei a tratar por Pápi, e fi-lo com uma tal naturalidade que, ao longo de todos estes anos, sempre que falamos ele trata-me por “hija mia”.  Mas não é só a maneira como nos falamos e relacionamos; é o que sentimos cá dentro: algo maior que a vida… 
  Nos últimos dias da minha lua de mel, o Luis e a Luz foram embora, deixando atrás de si uma saudade e um vazio inexplicáveis. Foram dias fabulosos. A nós os quatro  foram-se juntando outros casais apaixonados, com quem formamos um grupo vasto e divertido cujo sol em torno do qual todos gravitávamos era, indubitavelmente, o Luis.
  Duvido que haja no mundo alguém com aquela alegria e loucura; com um coração tão enorme e uma vitalidade tão viva… Talvez exista, mas será, sem dúvida, uma mera sombra do verdadeiro Sol: o meu Pápi do outro lado do mundo…
  E é com um sorriso rasgado que recordo e escrevo sobre aquela noite em que, tão longe de casa, estive realmente em casa, com aqueles pais “suplentes” com que a vida me brindou; com aqueles manos lindos com quem tão bem me entendi… E é com um sorriso no coração que olho para o colar milenar que a Luz me ofereceu… Tinha apenas dois: um para cada uma das filhas….
  E é por isso que sei que um dia direi aos meus filhos que um lar e uma família nos podem ser presenteados onde menos o esperamos!
Ana Dias

Café del Mar…

   Noite quente… a ouvir  “Café del Mar” numa esplanada com velas e cheiro a maresia… e voltam-me à  lembrança memórias das Baleares, desde as estradas sinuosas do norte de Mallorca ao rebuliço de Ibiza, passando pelo azul turquesa dos mares de Formentera…
  Digo hoje, e direi sempre,  que a maior riqueza da vida ( a única que realmente levamos connosco no momento da derradeira partida ) são os momentos especiais: aqueles que se cravam em nós e  passam a fazer parte do nosso património mais intrínseco e poderoso! A maior riqueza é conseguir sentir, mesmo muitos anos depois, tudo o que se sentiu em cada um dos diferentes paraísos que se visitou.  Há memórias que ficam para sempre ( e mais além, como dizem os meus filhos) como o caso do sabor do pôr do sol nas esplanadas de Formentera, ou as loucas noites de Ibiza, povoadas de excêntricos seres sequiosos de emoção.
  Lembro-me daquela tarde, numa praia de Mallorca, em que só a força de vontade de uma mãe a tomar conta do seu filho, me impediu de adormecer depois do bem regado almoço. Lembro-me das maravilhas criações dos Hippies e das decorações lounge dos sítios que frequentei; lembro-me da atmosfera diferente e inexplicável daquelas jóias do Mediterrâneo…
  E enquanto fui escrevendo,  o “Café del Mar” deu lugar a bossa nova…. E lá vou eu, embalada em memórias, para o calçadão do Rio….
Ana Dias

Vou contar-vos um segredo….

Já alguma vez pensaram no poder que tem a frase: “ Tenho uma coisa para te contar… prometes que fica entre nós?...” É imediato: todos os sentidos reagem num alerta generalizado… as sirenes soam na nossa cabeça… é imperativo que o segredo nos seja revelado ou corremos o risco de enlouquecer de curiosidade…. Bem, pelo menos para nós mulheres é (quase) assim!
O que é que faz, então, com que a iminência de nos ser revelado um segredo ( que, por ter tal estatuto,  nos  temos que comprometer a manter ) nos desperte tão fortes instintos de conquista desse conhecimento? Será que todos temos uma percepção instintiva de que possuir conhecimentos em exclusividade é ter mais poder que os outros, que permanecem na ignorância? É sabido que deter certos  segredos é uma vantagem muito concreta em inúmeros aspectos da vida. Nos negócios, por exemplo, quem está na posse de determinadas certezas sabe melhor como e onde investir… Na política, nas guerras, no amor e em tantas outras áreas, conhecer certos segredos sempre fez a diferença: muitas vezes entre a vitória e a derrota, entre o conquistar e o ser conquistado….
 Mas eu continuo a pensar que não é tanto pelas vantagens que se podem retirar de se saber um segredo que ele é tão importante para o Homem… os motivos que realmente nos levam a vibrar com um segredo é o facto de nos considerarem dignos de confiança; é a emoção da partilha e da cumplicidade e, acima de tudo, é algum instinto primário que nos habita nos genes desde os primórdios dos tempos….
E já agora… querem saber um segredo…?
Ana Dias

Viver de ouvido…

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Cabeça de tartaruga
- “ Mãããeee!!!”
- “ Diz baby…”
- “ Mãe!! A tartaruga perdeu a cabeça!!”
   Desatei a rir. Fui ver, caso contrário a gritaria não iria parar. Tal como eu esperava, um dos muitos animais lá de casa estava apenas, como qualquer cágado normal (desculpem não ir pelo acordo ortográfico mas trata-se de uma palavra sensível…) com a cabeça enfiada dentro da carapaça, quem sabe a dormir uma merecida soneca.
  Depressa sosseguei o catraio: - “ Amor, o cágado não perdeu a cabeça: ela está enfiada na carapaça, vês? É natural!”
  Enquato o pobre, já refeito do susto, voltou às suas frenéticas e indizíveis ocupações de traquinas graduado, eu fiquei a olhar para o engraçado cágado (ou cágada, não sei…) e a rir de mim para mim, imaginando se, naquelas ocasiões em que perdemos a cabeça, ela também se nos sumisse por entre os ombros…
  Quanto mais visualizava tamanho disparate, mais me ria! Mas até faria algum sentido,  ao perdermos a cabeça, se ela nos desaparecesse para dentro do torso… evitavam-se palavras ofensivas, partilha de stresses e outros disparates que, depois da cabeça mais fria, verificamos terem sido excessivos!  Quem sabe, até, se essa ida da cabeça até ao interior do corpo não nos obrigaria a uma introspecção e a uma análise mais cuidada sobre o verdadeiro valor do motivo da cabeça perdida…  Pensem lá comigo: haverá realmente algo merecedor de nos fazer perder a cabeça? Não, pois não? Também me parece que não…
  Por isso, quanto a vocês não sei, mas eu, da próxima vez que me apetecer ficar de cabeça perdida, vou assegurar-me de que tento fazer como o sábio cágado… enfio a cabeça (pensamento e atitude) dentro do meu interior… e após a dita introspecção sei que vou lembrar-me que o lugar da minha cabeça é, sã e erguida, em cima do pescoço!!!
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    Escrevi esta crónica há uns tempos e, ao relê-la no meio das minhas bem recheadas pastas, achei-a merecedora de vir parar a esta página.
   Gosto de “brincar” com estas ficções e criar fantasias e analogias que me ajudam a encarar a vida com um olhar mais divertido e sensato. Recordo outra crónica, que não vou aqui transcrever, na qual preconizo que quando estamos num confronto, perante as ofensas alheias, as devemos encarar como projéteis incapazes de nos atingir. Nessas ocasiões devemos tentar imaginar-nos como super heróis ( o Neo do Matrix, por exemplo, é ideial para esta visualização) detentores de superiores capacidades que nos permitem passar pelas fases negras da vida com o corpo incólume, a mente imperturbável e  a alma imaculada.
   Usar a fantasia é um mecanismo tremendamente útil e sensato na arte de bem viver. Além de nos devolver a inocência da infância, recorda-nos que para quase tudo há solução, quanto mais não seja a aceitação resignada do que não se pode mudar.
   Por dentro,  podemos transformar-nos naquilo que a nossa imaginação conseguir alcançar: podemos ser um cavalo selvagem se nos tentam limitar a intrínseca liberdade com preconceitos e falsos valores; podemos ser um monge budista na mais profunda meditação se a melhor “arma” for o desarmante silêncio. Podemos ser um guerreiro da idade das trevas ou um simples jacaré se tal imagem nos ajudar a perder o medo e reencontrar a coragem; podemos ser uma princesa (ou príncipe) cuja intrínseca bondade impede o efeito nefasto de alheias invejas e pragas.  Podemos ser uma poderosa onda, um rio ou uma estrela e até podemos viajar pelo espaço “montados” num qualquer cometa, com as perninhas a abanar e o cabelo ao vento, se isso nos inspirar.
   E é no seguimento de todas estas visualizações imaginárias que outra ideia me nasce… Chamemos-lhe “ viver de ouvido”…
    Imaginem a vida como uma grande canção que vamos cantando enquanto vivemos. Tentem ver-se como parte integrante de uma grande orquestra universal na qual cada um toca o que sabe e canta como pode, criando a infinita e intemporal  melodia que soa  no planeta desde os primórdios da humanidade. Parem um pouco e ouçam o vosso contributo: estão fora de tom e de ritmo, a desafinar a imensa melodia? Ou estão a dar um válido contributo para que a grande orquestra soe cristalina e bela?
  E é exactamente aqui que entra o conceito  “viver de ouvido”… acompanhem-me o raciocínio: não são apenas os indivíduos com grande formação musical que se tornam grandes músicos; há excelentes criadores e intérpretes    que não têm qualquer formação na área, daí dizer-se que tocam de ouvido!   Mas vou um pouco mais longe: e se, ao tocarmos e cantarmos a canção da nossa vida, desistíssemos um pouco das pautas e regras e orientássemos  a nossa performance pelo que nos soa realmente bem? Porque ninguém nasce músico e ninguém nasce a saber dominar a arte de bem viver. A canção da vida, tal como a própria vida, merecem de nós mais verdade e improviso, merecem a voz cristalina da vontade audaz do nosso coração.   A sinfonia universal para a qual todos damos um valioso contributo apenas poderá melhorar se seguimos o instinto e começarmos a viver mais…  de ouvido… Será? Parece-me que sim mas, por agora, apenas vos posso sugerir que percam a cabeça como o cágado, a mergulhem no vosso interior, e meditem sobre o assunto!
Ana Dias

Uma simples ida à tasca…

   Li ontem uma pequena frase, partilhada por um amigo, o Pedro Miguel Gaspar, que me deixou a pensar (como eu já penso pouco…) e que rezava assim:  “ Quem nunca entrou numa tasca dificilmente terá classe para frequentar um casino.”
    Fiquei maravilhada! Eu, defensora acérrima, ( e frequentadora, confesso ) das tradicionais tasquitas, lá poderia viver sem, de quando em vez, beber uma “minezita” no seu habitat natural? Mas a verdade é que tanto “sei estar” numa tasca como num casino (nestes o que mais aprecio são os espectáculos porque os jogos, esses, a mim não me dizem nada…) ou em qualquer outro lugar povoado de glamour.
   Pareceu-me correcta, a sábia ( e profunda!) frase. Ainda mais porque considero que quem está bem consigo mesmo, estará bem em qualquer local ou ambiente. É claro que não convém ir para a tasca com a roupa que se leva ao casino ( o inverso também se aplica) nem ter o mesmo comportamento … Seria um tanto ou quanto estranho, num casino, rir com gargalhadas sonoras ou beber pelo gargalo!!
   Mas vou um pouco mais longe e aplico a mesma frase às pessoas: “ Quem nunca comunicou com os simples dificilmente poderá comunicar com os poderosos…”  porque considero que, de alguma estranha forma, todos somos feitos do mesmo. Seja o velho pescador ou o primeiro ministro… falo a todos por igual: com a voz das cordas vocais e as palavras ( nunca pesadas nem medidas) que me saem por este fio directo que tenho do coração à boca.
Ana Dias

Uma questão de perspectiva

    Quantas vezes já vos aconteceu falar com alguém  que parece não entender o que dizem, apesar de estarem a falar a mesma lingua? Quantas vezes já interpretaram mal o que vos foi dito?
     Tal como, por vezes, apenas vemos o que queremos ver, também sucede muito entendermos os acontecimentos e atitudes alheias… à nossa maneira!   E se experimentássemos , de quando em vez, tentar  “ver” com os olhos do outro?   E se tentássemos “ sentir” com os sentimentos do outro?  Seriamos capazes?   E o que será que resultaria daí?  Um maior entendimento?  Atitudes pacificadoras?  Menos atritos e tensões?  Parece-me que sim… porque se quando vocês  mandam  nos outros existe democracia e quando os outros mandam em vocês há ditadura…. algo vai, definitivamente, mal…
Ana Dias

Um Novo Mundo…

Enquanto preparava as tralhas para um dia inteiro de praia com os miúdos, não resisti ao impulso de enfiar no saco o “Um Novo Mundo” do Eckhart Tolle. Pode parecer estúpido, mas tenho este livro em casa há anos e anos e nunca lhe tinha pegado… talvez por saber que fala do despertar de uma nova consciência e sempre ter sentido que já era letrada na matéria… - “ Pfff, que vou eu ler ali que ainda não saiba por experiência própria?”  - E o “ pessoal” ia continuando a perguntar se eu já tinha lido e eu ia respondendo apenas que não, porque completar a resposta com a justificação que  dava a mim mesma seria absolutamente pretencioso…
Pois é, meus caros…. hoje, entre sandes de atum e banhocas com os catraios lá fui “devorando” o Novo Mundo, como se fosse uma papa Universos…. E realmente (tal como esperava) não me surpreendi muito ( pelo menos até à página 103, onde parei ). Não li nenhuma palavra nova nem conceito desconhecido; não abri a boca de espanto nem a alma de admiração, na certeza consciente de estar perante um livro que tranformará a minha vida…. Não mesmo! Nada disso! Fiquei apenas a pensar como raios é que eu, que tenho toda a consciência de que as coisas são como são ( que a maneira como encaramos a vida é o que a determina e torna boa ou má; que o ego é o que é e vale o que vale, mas que a consciência suprema e a ligação à nossa essência são o que realmente determina o que somos ) me esqueço tão frequentemente de como tudo funciona…. Quantas  e quantas vezes me deixo levar pelo ego e pelas emoções das situações e dos comportamentos alheios sem me “lembrar” que a plenitude está ao meu alcance ( ao alcance de todos na verdade ) e à distância tão  curta  e simples de apenas um sentir…. O sentir correcto e verdadeiro de quando estou ligada a mim….
O problema será despertar ou manter-nos despertos???
Ana Dias

Solidão e boa companhia

Sou suspeita para falar de solidão… Valorizo, necessito e prezo cada momento a que, embora os outros chamem solidão, eu chamo paz e plenitude. A solidão não é estar só: é são saber estar com nós mesmos; é não saber as maravilhas que em nós se encerram nem perceber os fabulosos momentos que podemos a todo o momento ter….
Esta manhã “conheci” a Helena Fernandes  no face e, ao ler sobre ela, deparei-me com a sua citação favorita: “ Detesto quem me rouba a solidão sem, em troca, oferecer verdadeiramente companhia”… Imediatamente quis escrever sobre isto, por ser importante saber a diferença e por, tantas vezes, sentir na pele o não poder estar a sós, pela presença de pessoas que não me dão companhia. Sim, eu  procuro a solidão ( dessa boa de que vos falo ), eu busco e anseio por esta companhia perfeita que, cada vez mais, respeito. E, de cada vez que mergulho mais fundo em mim, mais coisas me “ensino” e mais coisas “aprendo”, num estado sereno de plenitude alcançada… E então, quando a vida me obriga a voltar da “solidão” e me presenteia com companhia, é natural que eu exija algo mais que a presença ( não que a mera presença não seja, por vezes, excelente)… É natural que exija boa companhia….
Ana Dias

Sedes..

Li recentemente uma citação mais ou menos assim: “ Ando meio fatigada de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis” e, claro, fiquei a pensar!   Sobre a primeira parte da citação ( por mais que muito houvesse a dizer), apenas comento que há procuras que, embora nunca cheguem a bom porto, valem pela busca em si…
   O que realmente me prendeu foram as “sedes afetivas insaciáveis”…  Vieram-me logo à ideia duas coisas:  por um lado a noção de ser essa insaciável sede a tornar tão prolixos os relacionamentos efémeros  e, por outro, a existência de “checklists” cada vez mais exaustivas  por parte de quem  busca um novo relacionamento.
   Antigamente as pessoas casavam e aceitavam a sua “sorte” como algo que não lhes competia questionar nem reformular…  Hoje usa-se a fórmula do:  “ não resultou, venha outro/a!”.    E desengane-se quem pense que estou a advogar alguma das fórmulas,  quem sou eu para isso!   Apenas me parece importante deixar, quanto a isto, uma pequena chamada de atenção.
   Se a insaciabilidade existe nas nossas sedes afetivas, talvez seja por não se estar a “beber” da “fonte” certa!  Será que a saciabilidade pode, algum dia, vir dos outros? Ou virá antes de nós mesmos?  Só nos saciamos por completo tendo uma afetividade saudável com quem nos relacionamos sempre: connosco mesmos. A sede só passa se bebermos do manancial que em nós corre…  E é por isso que digo que,  só matando a sede de nós de nós mesmos,  a deixamos de sentir nos afetos alheios…
Ana Dias


Riso…

Há tantos risos diferentes…  Há os dissimulados e  trocistas, com algum decoro perante o objecto do seu divertimento…; há os gozões, sem pudor, que não escondem o divertimento nem tentam disfarçar a risada….; há os risos tímidos, encobertos por um olhar indirecto e um baixar de cabeça, que normalmente antecipam um rubor nas faces e o despontar de sentimentos… e existe o meu riso preferido: as gargalhada abertas, sinceras, desregradas … aquelas que lavam a alma e inebiam a existência com o doce bálsamo da felicidade; aquelas em as cabeças se atiram para trás e boca, escancarada, esquece pudores instalados. É esse riso, que nasce na verdade do humor genuíno, que nos faz dobrar de prazer e  perder o fôlego sem desconforto. É nas gargalhadas verdadeiras que se criam alianças e se curam muitos males; é nelas que se escode o segredo da sanidade e solução para muitos problemas.
  Mas  mesmo quando tudo o que nos resta das gargalhadas verdadeiras são dores nos abdominais, algo mais em nós ficou: … gravado nas nossas células permanecerá para sempre a alquimia curativa da sabedoria do riso…
Ana Dias

Quem tem mais poder...?

Quem terá mais poder? O presidente de um grande país ou um simples pescador? O dono de uma multinacional ou o dono de uma pequena horta?  O imediato pensamento que nos ocorre realça o óbvio: o presidente e o dono da multinacional são, indubitavelmente, os elos mais fortes! São eles que detêm a última palavra em assuntos que podem alterar a vida de tantas vidas; são eles que podem, em segundos, mobilizar meios, mover montanhas, alterar o curso da história….
Mas, olhando com um pouco mais de atenção (e sobretudo alterando um pouco o cristalizado conceito de poder) talvez consigamos ver que o pescador e o dono da pequena horta podem fazer o seu horário e saborear os elementos… Eles podem estar com a família e os amigos da tasca todos os dias, sem salamaleques ou protocolos… Talvez não se desloquem num avião privado nem movam um séquito de centenas de subalternos mas têm, seguramente, a certeza de que quem está ao seu lado está ali por eles e não pelo cargo que ocupam… O pescador e o dono da pequena horta não precisam de comandar o destino de milhares e milhões de pessoas: têm tempo não só para comandar o seu destino como para fazerem exactamente o que querem com o tempo que lhes sobra ao tempo.
Talvez nunca possamos chegar à conclusão que o pescador e o dono da pequena horta são mais poderosos que os outros dois… Mas,  olhando para o conceito de poder à luz de um novo olhar, talvez as contas fiquem um pouco mais equilibradas… porque afinal o que é o poder a não ser, talvez,  a nossa capacidade de auto determinação e bem viver….?
Ana Dias

Perdoar e esquecer

   Há dias contaram-me um caso ( um entre milhões, com toda a certeza) em que o marido traiu a mulher e foi perdoado. Segundo me foi dito ela perdoou mas não esqueceu e,  apesar de continuarem juntos, o infiel perdoado continua a sentir a presença dessa sombra não esquecida do passado.
  Volto a bater na “tecla” dos pensamentos e das emoções… As emoções são “sentires” originados quer por pensamentos quer por acontecimentos externos que são sempre filtrados e entregues pelo pensamento.
  Digo, repito e continuarei a afirmar enquanto tiver teclas no computador: pensamentos maus trazem más emoções e estas, por sua vez, dão força aos maus pensamentos que voltam a alimentar as más emoções num ciclo cicioso e viciado de complicado termo. 
  É neste momento que se interrogam em silêncio : “ Mas ela estará parva?? Como posso ter boas emoções se os estímulos exteriores forem negativos? Como posso ter bons pensamentos por alguém que injustamente me ofende ou agride de alguma forma?”
  E eu respondo que não seríamos humanos se não reagíssemos mal a maus estímulos ( com a iluminação talvez  lá cheguemos um dia…) e admito que sou a primeira a enfurecer-me e transformar-me em gladiadora quando os estímulos exteriores são ofensivos. Mas uma coisa é reagir e extravazar a emoção, outra, completamente diferente, é moer e remoer e pensar e repensar o que foi dito, feito e falado, criando o tal ciclo vicioso de pensamento e emoção do qual é difícil sair.
   Quando há confrontos, e enquanto a serenidade da ausência total de reação não nos chega, aconselho vivamente uma retirada estratégica para deixar sair “ o bicho” !  O passo seguinte deve ser dado o quanto antes ( se ocorrer no espaço de algumas horas já se podem considerar seres iluminados) e esse passo consiste em… esquecer!  Porque só esquecendo se perdoa e só perdoando se esquece!
   Esquecer certas coisas é uma das mais sábias regras do bem viver, mas usar o esquecimento também implica deixar sair a emoção na hora certa e arrumar ali mesmo com o assunto.
  Termino voltando à senhora que perdoou mas não esqueceu… quando realmente perdoar esquecerá… Talvez nesse dia perceba também que já não ama o causador da dor que já não sente… mas a vida é mesmo assim !
Ana Dias

Pensamentos

Acordo cedo. Consigo chegar à praia antes das dez! Escolho a mesa na esplanada e peço a meia de leite escura. Olho para o mar. O dia já está demasiado quente. Penso tomar um banho enquanto a meia de leite sai e não sai. Deixo mala, computador e toalha em cima da mesa e “arranco” para o mar. Entro nele como gosto, como um tanque de guerra,  sem hesitações nem rodeios. Sigo inflexivel mar adentro, sem me importar com a temperatura fria da água. Transformo-me num ser do mar. Esqueço as coisas que deixei abandonadas na mesa da esplanada. Esqueço a meia de leite que me aguarda e as mil coisas que tenho para fazer até já ser de madrugada… Deixo o sal apoderar-se de mim. Permito à água que me tranporte nas firmes braçadas que dou.
- “ Até já meu mar…” – Saio dele e volto à esplanada. O corpo de sal a pingar. Os cabelos de mar a brilhar…
  Já sabia que hoje ia escrever sobre isto: pensar e fazer! Há alguns dias que oiço o Jason Mraz a cantar que “  It takes a thought to make a word, and it takes a word to make  an  action…” . Também li, não sei onde, que o pensamento precede sempre a acção e comecei a pensar bastante nisso…  Na música do Jason até tiro a “palavra” pois não me parece que esta seja condição imprescindível à acção…  Mas, e o pensamento?? Haverá acção sem pensamento?? Sabem que mais? Continuo sem a resposta! Passo a pente fino as acções e concluo que, tendencialmente, são precedidas de pensamento ( como o impulsivo banho de mar que antecedeu a meia de leite, mas foi posterior ao pensamento de o tomar…). Mas será absoluta esta ordem das coisas?  Ou isto de pensar primeiro e agir depois será a regra que, como todas, tem excepções? Pensem lá comigo: normalmente pensam e depois fazem, certo? Mas não vos aconteceu, já, fazer sem pensar?? Não vos aconteceu, já, constatar que há casos em que o pensamento não é tido nem achado e quando se apercebem, “zás” a impulsividade já funcionou??
  Mas vamos um pouco mais longe… Até que ponto é bom ser (quase) sempre o pensamento a determinar as acções? E se deixássemos os impulsos comandar mais? Seria bom ou prejudicial? Desculpem lá, mas também não sei…  Até poderia tentar criar aqui um padrão de “quem age por bons impulsos dá-se bem e quem age por maus impulsos dá-se mal”, mas já não tenho idade para acreditar no Pai Natal…
  Agora estou a pensar que tenho que ir de novo ao banho, mas não quero que tenham feito esta  ” viagem” em vão, por isso termino com  uma breve explanação do funcionamento que me parece mais adequado: “peguem” nos sentimentos e usem-nos para domesticar os pensamentos!  Podemos controlar cada pensamento que temos, basta colocar os sentimentos na frequência correcta e já está: pensamentos bons!  E os bons pensamentos conduzem, invariavelmente, a acções correctas e acertadas!!  E estas, quando constantes  e seguras, transfornam-nos em pessoas… maravilhosas!!
Mar, aí vou eu!!
Ana Dias

O descanso do guerreiro

    Guerreiros já não são os homens que vão para a guerra lutar pelo seu território ou religião… Guerreiros são todos aqueles que lutam por algo em que acreditam; por algo que sentem ou querem fazer vingar. Há guerreiros de amor; guerreiros de paz e perdão, de inocência e partilha… Há guerreiros cujas guerras são apenas ensinar belas lições….
  E um guerreiro tem que descansar; retemperar forças para a próxima batalha; calibrar-se para a seguinte conquista…. No seu descanso, o guerreiro sonha com a vitória e com novas glórias. No seu sono, pesado e tranquilo, encerram-se memórias fantásticas de aventuras irrepetíveis.  E é nesse momento, em que todas as defesas baixam e os instintos deixam de estar alerta, que o guerreiro se rende a si mesmo, no encontro convicto com a sua verdade…
Ana Dias

O bom e o mau

Há tantos actos hediondos no Mundo… actos perpetrados por pessoas insuspeitas;  por pessoas como nós que, por algum estranho motivo, agem mal, causando sofrimento e dor aos seus pares.  Não vou enumerar esses actos. São demasiados e de tantos tipos diferentes que ninguém teria paciência ( nem estômago ) para os ler.  Gostava  apenas de deixar algumas reflexões…
Creio que em todos nós existe o bem e o mal. Ambos são partes integrantes de cada Homem. Ambos são potenciais ferramentas a determinar as nossas escolhas e comportamentos. Porque será então que existem casos extremos de bondade perseverante e abnegada que domina vidas inteiras ( veja-se a magnífica Madre Teresa de Calcutá, por exemplo ) e outros casos de existências marcadas e dominadas por sequências ininterruptas de violência e maldade? Serão os bons absolutamente bons ou saberão controlar e suprimir a maldade que em si existe? Serão os maus inteiramente maus ou não saberão usar as ferramentas da bondade por nunca a terem vivido?
Serão, o bem e o mal, características intrinsecas e hereditárias ou resultado de vivências que marcam cada um de nós?
As respostas a estas questões talvez nem sejam tão importantes como a simples ideia de que a bondade e o bem podem ser trabalhados e desenvolvidos em cada um de nós e, ao empenharmo-nos em tal plano, talvez a energia do bem comece a invadir o Mundo num efeito dominó….
Tentamos?....
Ana Dias

O baile da razão

Mais uma vez as “divagações” com um certo Paulinho, reguila e refinado, me inspiram a algumas palavras sobre um conflito que já vem da raiz dos tempos e, seguramente, se manterá até aos seus mais finos ramos… Razão ou emoção? Devemos funcionar mais com a razão, deixando que sentimentos, paixões e “sentires” tomem o leme da vida ou, pelo contrário, devemos confiar à razão toda a responsabilidade para nos levar o barco a bom porto?
Sempre que há um “ou” fico com a sensação que talvez, com engenho e boa vontade,  ele se possa converter num “e”…  Gosto de explorar todas as possibilidades que suprimam a necessidade de escolha até encontrar uma que me leve ao caminho da compatibilização…
Tem-me sido  transmitida a ideia de que os homens são Razão e as mulheres Emoção… Mas, nos dias que correm, será realmente assim?? Quase todas as minhas amigas são inteligentemente racionais, colocando a emotividade na prateleira quando ela está a atrapalhar… E a maior parte dos homens que conheço têm uma sensibilidade e capacidade de se emocionar com pequenos “ nadas” que me deixam a pensar, com a mão a segurar o queixo: “ Hummmm…. O que é que se passa aqui??”.   Nos meus livros tenho focado algumas vezes a presença da componente tanto masculina como feminina da personalidade em algumas personagens…  creio que o faço por reconhecer em mim ambas as facetas… Gosto de “pegar” no meu lado racional e deixá-lo pensar que manda, quando sei que, na verdade, as emoções é que levam, normalmente, a melhor… mas a realidade, para mim mais absoluta, é que o Eu assiste, de plateia e divertido, a este baile enamorado em que razão e emoção; masculino e feminino, se namoram cá dentro enquanto vão selando compromissos e pactos quase sempre amigáveis…
Por isso, depois da pequena reflexão, o EU percebe que é mais que razão e emoção… mais que masculino e feminino…. O Eu é verdade…
Ana Dias

Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo!

   A minha mãe sempre me disse que a avó Mariana ( a mãe dela, que nunca conheci ) costumava usar muito este provérbio: “ Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo.”
   Como todos os provérbios, se formos um pouco mais além do taxativo sentido das palavras, encontramos uma frase de extrema sabedoria… Realmente por mais cedo que acordemos não é por isso que o sol desponta no horizonte antes do momento da aurora!  Mas, por outro lado, também não é por queremos certas coisas em determinados momentos que elas surgem nas nossas vidas antes do momento em que têm que surgir!
  E surgem-me na mente outras  frases feitas: “ Há que dar tempo ao tempo”; “Saber esperar é uma virtude” ou “ Quem espera, desespera!”…   
  Há coisas pelas quais esperamos a vida toda e nunca chegam a acontecer; há outras, inesperadas, que acontecem sem que as controlemos; e outras, ainda, que tentamos concretizar a qualquer custo mas parecem vaticinadas à não ocorrência…  Mas o importante, mesmo, é acreditar que a aurora chega sempre, mesmo que o sol não se veja ( encoberto por escuras nuvens) ele está lá! Estará sempre!
  Por isso esta frase,  de que a minha avó tanto gostava, é uma presença constante na minha vida e nas minhas crenças:  porque mesmo quando eu “acordo”, ansiosa pela aurora, tento perceber que ela vai chegar… mas só na sua hora!
Ana Dias

Hábitos!

   O cliché “ o Homem é um animal de hábitos” existe com fundamento. Talvez nunca tenham reparado na tendência quase instintiva para repetirmos padrões de comportamentos, mesmo nas mais banais acções. Ou talvez já tenham notado, por exemplo, que quando chegamos ao café ou ao restaurante,  escolhemos quase sempre a mesma mesa; que colocamos a roupa da mesma maneira e no mesmo sítio, ao deitar. Ocupamos, invariavelmente, o mesmo lugar à mesa e no sofá da sala, dormimos no mesmo lado da cama todas as noites e  repetimos destinos de férias,  percursos  e caminhos.  Os exemplos são tantos e tão variados que alguma coisa devem significar… O que será que extraímos dessas repetições naturais? Sensação de segurança? De pertença? De ordem? Uma coisa é certa: não estabelecemos hábitos por falta de escolha… há sempre outras mesas no café que mais frequentamos; há outras estradas para chegar ao mesmo destino… Repetiremos as pequenas escolhas do dia a dia por comodismo ou por falta de vontade de experimentar algo novo? Porque a novidade assusta, certo? O desconhecido transtorna …
E o que dizer quando, além das pequenas escolhas, os hábitos se instalam nas mais importantes partes da vida? Valerá a pena insistir no hábito pelo conforto e sensação de segurança? Ou estaremos a perder oportunidades únicas de dar novos Mundos ao nosso “pequeno” Universo?
Ana Dias

Evolução

       Esta tarde, enquanto ia dando rédea solta às palavras, na última apresentação do “Histórias do (A)Mar” percebi, enquanto falava, (como tantas vezes me acontece) que há uma tónica comum em cada um dos meus livros: a evolução… A evolução do Homem enquanto Homem e enquanto parte integrante deste gigante bolo que compõe a humanidade. Mas afinal, a evolução, o que é? Em que consiste? Para que serve? Como se consegue? A evolução de que falo ( por ser essa que a minha alma me vai sussurrando cá dentro) passa por um conhecimento cada vez mais profundo de nós mesmos; por uma “entrada” triunfal no palco do nosso interior; numa percepção  mais plena do modo como funcionamos e como interagimos connosco e com tudo o que nos rodeia…   A evolução de que falo implica novos mecanismos que precisamos de saber desenvolver para podermos estar bem mesmo quando tudo está mal…; implica  a percepção  de que temos a capacidade de influenciar tudo com a nossa energia…
   Fiquei a pensar:  porque será que este “recado” me persegue, às vezes imperceptivelmente, em cada livro?  … A mensagem de que estamos no caminho certo para essa evolução  é algo que advogo com veemência porque, mesmo quando o Mundo parece estar louco,  me apercebo da existência de cada vez mais pessoas a seguir o caminho do amor, da verdade, da plenitude…
  Fiquei a pensar que há já muitas pessoas a evoluir, a tentar melhorar-se a si mesmas e ao universo que as rodeia, e que a prova disso mesmo é a “chegada” de tantas pessoas assim à minha vida… Obrigada a todos….
Ana Dias

Em busca do livro perdido…

Ando há meia hora desesperada, à procura de um livro que não encontro: a biografia de Osho, o meu pensador / filósofo / iluminado preferido. Tenho lido inúmeros livros que narram as suas “palestras” pelo Mundo fora. Nunca leio do princípio ao fim como faço com todos os outros livros. Os livros com as palavras do Osho são os únicos que costumo abrir à sorte e, com sorte, leio sempre algo que me toca e revoluciona; algo que vem a propósito e que me faculta uma nova visão sobre as coisas. Por vezes sublinho algumas linhas, mas páro logo depois porque se não parasse teria de sublinhar tudo!!  Como não encontro a biografia ( apenas dez outros títulos que por aqui tenho com as suas palavras) e não posso ler uma resposta que deu num exame de faculdade em que com apenas duas linhas conseguiu a melhor nota… deixo-vos com uma pequena história lida num dos seus livros…
  Um homem muito apaixonado pediu a sua amada em casamento. Ela respondeu-lhe que sim, mas impôs-lhe uma condição: viveriam em casas separadas pois só assim poderia amá-lo para sempre….
Ana Dias

El Timón

    Adoro esta palavra. Desde que me lembro, que as minhas palavras preferidas em castelhano são timón e rincón!  Agora que penso nisso um pouco mais a fundo, pergunto-me: será da sonoridade? Afinal é muito semelhante… Talvez.  Mas acredito que é o sentido mais profundo destas palavras que me faz ter esta fascinação. 
   Reparo, também, que há coisas que vão sendo entendidas com o tempo, com o devir  dos dias, com a chegada dos cabelos brancos e de uma estranha calma que nos começa a coroar a existência. Talvez esteja agora a divagar sobre  o meu gosto profundo por estas palavras porque já estou em condições de lhes entender, verdadeiramente,  o sentido… Será??
   Pois bem , o termo rincón é descrito como sendo um dispositivo que serve para dar direcção a veículos que se deslocam através de um fluido, como barcos e aviões…   “Hum… Claro! Tinha que ser! Um leme! Gosto desta palavra porque, para mim, simboliza o poder maior: o poder de guiarmos a nossa existência, o nosso destino…  Timón, para mim, é a alma; e a timoneira sou eu… ou, na verdade, será o contrário? “   Termino o raciocínio e fico baralhada. Páro para pensar (como se isto fosse coisa de se resolver a pensar e não a sentir…)  Percebo que, com o pensamento, não vou chegar a lado nenhum.   Fico em silêncio… Sinto… Recapitulo: “ Gosto do “timón” porque ele é a minha pessoa e os meus comportamentos… mas o timoneiro é a minha alma, ou melhor, eu em contacto com a minha alma… Enquanto não estava em “contacto” profundo com a minha essência, eu era só um leme à deriva (como todos são…)  mas quando “acordei” e descobri que me consigo ligar à alma sempre que quero, percebi que é a alma/essência/ ser/eu    a única que pode ser a timoneira do timón que é o meu corpo…. “   Rio-me com vontade, quando as palavras que fecham esta crónica me brotam não sei de onde:  O meu corpo… o rincón ( cantinho) onde habita o timón e a timoneira….
Quanto a vós… boas navegações através dos fluidos da existência…
Ana Dias

Discórdias…

Tenho andado a matutar, ao longo de todo o dia, numa salutar “discórdia” que ontem nasceu…
Na crónica “Pensamentos”,   escrevi: “ “peguem” nos sentimentos e usem-nos para domesticar os pensamentos!  Podemos controlar cada pensamento que temos, basta colocar os sentimentos na frequência correcta e já está: pensamenPor isso discordo de ti quando dizes que devemos colocar os sentimentos ao serviço de pensamento, mas sim o contrário. os pensamentos é que devem estar ao serviço dos sentimentos que é o impulso primário e reactivo a algo... Daí as pessoas dizerem tos bons!”
    Uma amiga, a Luísa, discordou, opinando que os pensamentos é que devem estar ao serviço dos sentimentos. De certa forma também não deixa de ser verdade: afinal são os pensamentos optimistas e positivos que têm a capacidade de nos fazer sentir bem….  Mas…reparem… entrou um novo elemento nesta equação: já não estou a falar de sentimentos e sim de SENTIR!  Pensamentos bons podem conduzir a sentimentos bons ( continuo a acreditar no inverso, também!) e podem fazer-nos sentir bem… Mas será que meros pensamentos podem mudar sentimentos?? Poderemos deixar de amar alguém pela força do pensamento? Podemos começar a amar outro alguém por tomarmos essa decisão?? Talvez… Não sei… Nunca experimentei… porque por mais que respeite cada pensamento que tenho… há algo superior cá dentro: o cérebro do meu coração, essa nascente divina de divinos sentires e sentimentos… que respeito e sigo sem hesitar… jamais!
  É assim, querida Luísa, que te digo que, da mesma maneira que há quem exerça a sua profissão mais com as mãos ou com os pés ou com o cérebro, também cada um de nós pode escolher como “funciona”: se com os pensamentos a comandar os sentimentos/sentires ou se com os sentimentos sentidos a controlar cada pensamento.
  Uma coisa é, para mim, certa: desde que venha pelo bem, não importa quem manda!! Um beijo querida Luísa!!
Ana Dias Por isso discordo de ti quando dizes que devemos colocar os sentimentos ao serviço de pensamento, mas sim o contrário. os pensamentos é que devem estar ao serviço dos sentimentos que é o impulso primário e reactivo a algo... Daí as pessoas dizerem

Desatar a voz

  Devemos dizer tudo o que pensamos?? Devemos deixar a voz correr, sem freios nem limites, tão veloz como os próprios pensamentos? Ou, pelo contrário, limitar a verbalização das nossas ideias e opiniões com regras de bom senso e convivência?   Será mais proveitoso sermos, perante os outros, tão verdadeiros como somos connosco? Ou não abolir por completo as fronteiras do socilamente correcto?
  Que vantagens traria ao mundo que desatássemos a voz? Se, quando a tia Augusta pergunta se está mais gorda, respondessemos: “ Mais gorda não, a tia parece o cruzamento de uma baleia com um rebocador de petroleiros!” ; ou quando temos que “aturar” uma conversa que não nos interessa para nada,  nos saísse pela boca um: “ fala p’rái meu chato da m… que eu vou fingindo que te oiço enquanto faço a lista mental do que tenho que fazer amanhã…”.   O que melhoraria no mundo se dessemos as nossas verdadeiras opiniões quando elas nos são pedidas?? Eu, quando não gosto de algo, safo-me com um: “ Hum… é  interessante….”, pois se desatasse a voz, produziria ferimentos que não têm porque existir ( porque lá por eu não gostar de cãezinhos de loiça, música pimba e naperons de crochet no encosto de cabeça dos sofás, não quer dizer que quem gosta precise de sofrer com o meu gozo e mordazes críticas…)
 Mas, por outro lado, quantas vezes é importante, (fundamental até) que abramos o fecho à boca e deixemos sair tudo o que nos vai cá dentro… Se não por nos aliviar, pelo menos para dar a nossa verdade ao nosso interlocutor… Quantas vezes não é pior calar e deixar por dizer coisas que, por muito que possam doer, são como tónicos de renovação; pontos de viragem; marcos importantes…?
  Por isso  é bom ter a capacidade de, a cada momento, perceber se o nosso mais pronto pensamento é para ser partilhado sem peias ou espartilhado em  silêncios e  ambiguidades…
Ana Dias

Com novos olhos

Mais um dia passado pela vida em que não admiti que ela passasse por mim sem lhe deixar algo de valioso. A  correria matinal, seguida de levar os dois diabretes à escola e a alegre chegada ao café onde todas as manhãs tomo a meia de leite e escrevo as estórias que na alma se me formam. Mais tarde, satisfeita e refeita pela criatividade derramada, segui para o resto dos afazeres agendados para hoje. Enquanto guiava vi um homem sentado no muro da igreja de uma pequena povoação onde quase todos os dias passo. E ele quase todos os dias está ali, a ver os carros passar, no seu sereno e misterioso hábito recheado de nada  ( a verdade é que  passa ali os dias sem nada fazer…). Julguei-o. Julguei-o na sua inércia e desocupação de homem novo que podia estar a fazer pela vida, pela sociedade, por si mesmo… Julguei-o e comparei-o comigo que não consigo parar quieta dois minutos; que não consigo deixar de pensar em cinco novos  projectos quando já tenho uns oito em mãos. Comparei-o com a minha velocidade impaciente ( na vida, não na estrada, ok?) de quem quer fazer a diferença, marcar posição, atingir almas, corações;  crias sorrisos, harmonia; fazer mais e mais e mais….
E foi então que percebi que quem vê tudo sempre com os mesmos olhos, vê mais ou menos o mesmo que um cego (só que os cegos normalmente são-no só dos olhos, não da alma!).  Percebi naquele momento, no meu carro ( eu percebo tanta coisa no carro!!) que estava a ser estúpidamente preconceituosa… Estava a ser julgadora quando isso não me é pedido nem esperado. Quem sabe se o senhor não é um pensador ilumidado ( ao estilo do nosso adorado Osho) que escolhe sempre o mesmo lugar para as suas extraordinárias meditações que o conduzirão à transcendência e a ser, quem sabe, um grande contributo  para a evolução da humanidade… Afinal, como diz a minha amiga Marta – “ às vezes de fraca moita, salta grande coelho!!”.   Ou, quem sabe, o senhor do muro da igreja  talvez ali esteja  para ajudar as crianças a atravessar a estrada em segurança ou com a missão de evitar algum grande acidente e salvar a vida a alguém a quem viver faça falta…. ( esta talvez pareça uma estupidez mas, se pensarem um pouco, talvez percebam que não é…)
   O certo é que segui para o resto do meu dia decidida a olhar para tudo com mais do que um olhar, que é como quem diz, decida a conseguir ver tudo sob vários prismas, direcções, iluminações. Tentar ver tudo com novas cores e nuances que não apenas as óbvias… usar os olhos do corpo e, depois, accionar também os do coração da alma e de tudo o que mais haja cá dentro…. Porque só assim é que podemos ver as razões dos outros mesmo quando achamos que eles não têm razão e isto é muito importante porque não só vai esbater conflitos e potenciar a harmonia como nos vai “limpar” por dentro de todos os sentimentos corrosivos e nefastos que não queremos em nós!
E é por isso que estou a escrever sobre os cotovelos, deitada de barriga para baixo, virada para os pés da cama… é por isso que mudei a cor das lâmpadas dos candeeiros e pus uma música inspiradora bem alto na aparelhagem…. Para olhar para tudo com novos olhos e uma nova perspectiva  tudo,  mas mesmo para tudo!!!
…. E agora vou pôr mais baixo… que os miúdos já devem ter adormecido.    
Ana Dias

Alimentos

O meu amigo Paulo Cunha  fala, volta e meia,  sobre as dificuldades de se ser músico nesta nossa ancestral pátria… Penso logo em acrescentar as dificuldades de se ser escritor, pintor e todas as “ocupações” artísticas que, à primeia vista, podem ser de inferior importância…  Afinal o que é compor uma bela melodia, pintar o lindo quadro ou escrever palavras inspiradoras quando comparado com ensinar crianças, curar doentes ou criar alimentos para saciar a mais primária das necessidades???
   Mas não se trata aqui de comparar a importância entre as diferentes profissões pois todas são, em boa verdade, fundamentais… senão vejamos em que caos ficam as cidades quando os subvalorizados senhores da recolha do lixo estão em greve!!    Nem se trata sequer de reclamar, em contestatário tom, por melhores condições para quem trabalha nas artes…  Pura e simplesmente estou a falar de algo muito concreto:   se eu posso escrever é porque tenho outras actividades que pagam as despesas e proporcionam uma vida segura aos meus filhos… Se o Paulo pode fazer música é porque, através do ensino, também vê as suas contas pagas… E quantas  centenas de exemplos não existirão!  Quem quer trabalhar com a alma e criar alimentos para a alma, seja na arte,  na caridade ou em qualquer outra coisa, tem que, simultaneamente, trabalhar nos parâmetros normais da criação de sustento e só depois,  e com o tempo que sobra, partilhar a sua dádiva de arte e alma ao mundo…
   Por isso aqui deixo o meu aplauso mais sincero a todos os corajosos que, depois de um dia de trabalho, se entregam às actividade que o chamamento interior lhes “pede” e o fazem sem esperar as recompensas ou glórias que, a maior parte das vezes, não lhes chegam…..
Não parem! Há quem vos reconheça o valor e se “alimente” com as vossas criações!!
Ana Dias

The End

Lembram-se daquele filme, “ Em busca da esmeralda perdida”, em que a Kathleen Turner é escritora e acaba um livro a escrever “ The end”,  lavada em lágrimas??   Pois é…  creio que, para qualquer escritor, o “the end” é algo simultaneamente desejado e temido… por vários motivos…  Pode ter-se o receio de nem sequer se conseguir chegar a esse ponto, ou de o fazer, por preguiça, antes de ser realmente o fim da história…  Mas também se pode ter medo do vazio que fica depois do projecto acabado… porque há quem não saiba o que fazer depois…
  Dos vários livros em que já escrevi o “the end”, chegar ao fim nunca foi problema. Nunca hesitei em terminar ( no momento certo da história, espero) obras iniciadas com a paixão que ponho em todas!  Mas há confissões a fazer:  um bom final pode determinar o valor de toda a história:  pode liquidá-la ou conferir-lhe o valor de grande obra … neste momento podem fazer analogias com coisas da vida que começam e acabam, embora não tenha sido esse o meu intuito inicial!
   Mas vou estender-me um pouco mais: quando o “the end” surge, preto no branco, a encerrar mais uma obra, mais um projecto, ele traz consigo todo o peso da solidão… Para mim é quase como se me estivesse a despedir de  uma fase da minha vida   ( que dura normalmente entre um a três ou quatro meses…) é como se perdesse a companhia perfeita de todas as ricas personagens que me povoam a alma no dia-a-dia… essas  mesmas personagens com cujas características e vidas eu “brinco” como se fosse um  Deus do Olimpo (Deusa neste caso).
  É assim, por tudo isto, que quando o “the end” é escrito, fica a habitar em mim um sabor amargo e doce… Durante uns dias ando feliz por saber que acabei mais uma obra que virá a ser adorada por muitos, mas profundamente triste com a “despedida”…
  Mas sabem que mais??? É só durante uns dias… Porque depressa me vêm visitar as novas personagens e histórias que me acompanharão o futuro….
Quanto a esta crónica, por agora acho que é o “THE END”!!
Ana Dias

Resumo da apresentação de “felicidade criativa” no Ignite de Maio de 2011 em Lisboa

  Vou pedir-vos que pensem… usem a vossa memória e recuem até algum momento em que tenham usado a vossa criatividade, independentemente do que tenham feito… Agora tentem lembrar-se exactamente do que sentiram ao accionar e usar essa criatividade… Sentiram vibração, energia, consciência, plenitude?.... Se sentiram alguma destas coisas, então pode dizer-se que sim: usaram a vossa criatividade!
   Mas vamos desfazer um mito: a criatividade não gera apenas obras de arte!! Geralmente, ao pensarmos em criatividade, pensamos automaticamente em músicas, pinturas, esculturas, filmes, etc….  Errado!! A criatividade pode estar em tudo o que fazemos! Absolutamente em tudo… na forma como fazemos um cozinhado, como preparamos uma reunião ou como deitamos  os nossos filhos à noite…. A criatividade depende apenas da forma como fazemos o que quer que estejamos a fazer… Ela pode estar na vida pessoal, na profissional, nas actividades lúdicas e até na inércia, basta que se coloque a nossa essência no que se faz!!
   Agora vou pedir que pensem um pouco mais e tentem encontrar aquela actividade em particular que mais prazer vos dá… porque, como é óbvio, a criatividade é muito mais fácil e produtiva quando estamos a fazer algo que nos dá um real prazer…  Mas, mesmo depois de encontrar a tal actividade especial, há outro problema             que surge: o tempo! Como ter tempo para aquilo que mais nos empolga? Pois bem: sejam engenhosos! Roubem tempo ao tempo e dêm esse tempo a vós mesmos e à vossa criatividade… ficarão assombrados com o prazer acrescido e sólido que daí vão retirar!!
  Quero chamar a atenção para outro ponto: por vezes poderão ter vergonha da vossa obra… por medo da comparação, da crítica ou do julgamento: poderão sentir-se sem vontade de mostrar os frutos da vossa criatividade, mas sabem que mais?? Não é importante!! Se têm guardada, nalguma gaveta, uma canção, um poema, ou uma pintura que não têm coragem de partilhar, não se preocupem: essa vontade pode chegar-vos ou não, mas não é isso o mais importante… O fundamental é que não deixem de usar a vossa criatividade apenas por não se sentirem preparados para a partilhar… Porque a criatividade consiste em mergulharmos no nosso interior, entrar em contacto com a nossa essência e trazer de lá coisas que nem suspeitávamos que lá estivessem…. E que felicidade tão sustentada isso não trás!!
  Partilhando, agora, a minha própria experiência convosco, posso dizer que, apesar das minhas muitas actividades profissionais, não me considero advogada, empresária nem organizadora de eventos…. Não! Eu sou escritora! A minha essência é essa… porque vivo em criatividade e para a criatividade; vivo para esse mergulho fantástico em mim que me leva a trazer do meu interior todos os mundos que em mim habitam, que partilho, depois, com o mundo…
   Comecei a escrever há cerca de ano e meio, num período tão complicado da minha vida que cheguei a temer o pior. Por motivos e problemas muito concretos, sentia-me a enlouquecer de dor… mas sabem que mais?... A criatividade salvou-me!! A criatividade ajudou-me a curar-me e ensinou-me a estar bem… Através da criatividade, que concretizo na escrita, descobri-me a mim, à minha força, às minhas potencialidades e à minha arte… Graças a ela tornei-me mais forte e inteira…
Quando acabei o meu primeiro romance, percebi que já não não ia parar mais: tinha concretizado o sonho de ter um livro publicado mas, muito mais importante que isso: tinha descoberto o elixir secreto da minha felicidade… a criação literária ( em todas as suas formas…)
   Descobri que posso estar feliz e em contacto com a minha essência em qualquer lugar e momento, basta ligar a ficha, acionar a criatividade e começar a escrever!
E a chave reside aqui: quando encontramos a “profissão da nossa alma”, a criatividade e a produtividade andam de mãos dadas e trazem ao colo a felicidade sustentada de que vos falo!
Por isso aqui fica o meu apelo: tentem agir com a criatividade a funcionar… encontrem aquilo que mais prazer vos dá fazer e liguem-se à vossa essência através da criatividade… a felicidade e o sucesso vêm logo atrás!!
Ana Dias

Quando escrevo

… o tempo pára. Quando escrevo mergulho… mergulho numa realidade paralela; numa dimensão magnífica de verdade e entendimento… mergulho em mim e descubro, sem procurar, uma paz que envolve todos os sentidos, com uma plenitude jamais experimentada.
Quando escrevo o tempo pára porque nada mais existe, não há espaço, não há tempo, não há nada a não ser o fascínio de  mistérios desvelados….
Ana Dias

O sorriso da criação

  Hoje, enquanto tomava a minha meia de leite escura no café onde costumo ir aos sábados de manhã, reparei num homem. A princípio  não me chamou a atenção, a não ser, talvez, pelo seu ar  simples e desleixado. As roupas, demasiado pequenas para o seu anafado corpo, davam-lhe o infantil ar de quem jamais se admira ao espelho. Quando já estava prestes a ir-me embora, o senhor tirou um caderno (daqueles de escola, pequeno, de capa preta) e e deixou deslizar as páginas que vi preenchidas pela sua caligrafia azul. Já presa àquela visão, admirei-o enquanto tirava a tampa à esferográfica ( uma bic de ponta grossa como havia antigamente) e a começou a fazer deslizar, sábia, pelas páginas finais daquele pequeno caderno. Mas o que me deliciou… o que me tocou verdadeiramente… foi o sorriso sereno que se lhe colou ao rosto. Reconheci, na serenidade plena daquele sorriso completo, o meu próprio sorriso quando, envolta no burburinho que sempre me rodeia, mergulho na magia das palavras que a criatividade me dita...
Naquele momento lembrei-me de umas palavras do Osho: “ Um criador tem de parecer tolo, tem de arriscar a sua respeitabilidade… é por isso que os poetas, pintores, bailarinos e músicos nunca são pessoas respeitáveis…”  E, agora que penso nisso, acrescento para mim mesma: “ a criação põe-nos esse sorriso pateta nos lábios… deixa-nos os olhos com brilho…  como aconteceu àquele homem que esta manhã vi escrever….”
Ana Dias

O sabre

   Apesar de ter ficado mais de quarenta e oito horas sem escrever, os últimos dois dias trouxeram acrescentos positivos à minha vida. E foram vários! 
  Sempre que faço ski (não foi o caso…) sinto-me poderosa; sinto que posso tudo e tudo consigo. Nestes dias senti o mesmo.  Desafios profissionais bem superados encheram-me de novo de gratidão pela coragem, resistência e capacidade de organização e liderança que, nem sei bem como, consigo ter…  Mas um dos pontos positivos destes dias nem sequer se prende muito com isso e sim com uma “pequena” evolução” que vi desenvolver em mim.  Perante situações limite disse a mim mesma: - “ Não sejas estúpida! Hoje não vais stressar! Vais apenas dar o teu melhor e estar feliz!”    Se bem o pensei, melhor o fiz, e o resultado foi ultrapassar momentos de tensão com a certeza de que tudo correria da mais perfeita forma. E assim foi: trabalhei, desfrutei do trabalho, mantive os ânimos bem elevados e conduzi o meu navio, a minha tripulação e a minha carga através de um enorme temporal até chegarmos, exautos mas inteiros, ao calmo mar da madrugada de domingo.  E quando me deitei, finalmente, confidenciei-me  à almofada: “ Caneco, tens cá um par de tomates!” ( desculpem a expressão, mas aprendi em Tribunal a usar as exactas palavras que têm que ser usadas para descrever o que importa: os factos!)
  Mas não foi só esta calma, crescimento e confiança que enriqueceram… Também exultei a vida no momento em que muitas das pessoas que eu amo me prestaram a alegria e a honra de estar presentes para celebrar o meu aniversário três dias depois da data…. quando por fim tive tempo para o fazer.  Pode não haver coisa mais simples do que a simples presença, mas o seu valor é tão grandioso e profundo que acaba por nos encher com o doce sabor do inesgotável amor.  A todos os que acompanharam o meu dia (suplente), aqui deixo o meu mais apertado abraço.
  E, por fim, surge o sabre, quando o meu sobrinho Pedro me desafia a abrir uma garrafa de champanhe como fazem nas mais solenes e pomposas situações.  E há lá desfio a que eu vire as costas…  Explicou-me como devia fazer e deu-me uma faca, mas eu gosto de fazer tudo de forma espectacular, grandiosa,  e decidi que o faria com uma espada… Segurei na garrafa bem gelada, encostei o sabre ao vidro e fi-lo deslizar firmemente.   Não consegui à primeira, mas à segunda tentativa, rolha e gargalo saltaram para longe num golpe firme e certeiro. As garrafas seguintes foram por mim abertas da mesma forma, deixando-me a sensação da riqueza de conseguir ser, cada vez mais, firme e certeira…
Ana Dias