(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.2.13

Pequeno almoço para a alma

Pequeno almoço para a alma

- Mas que raio...?-
Acordei com um forte cheiro a comida apenas alguns segundos antes de ter o quarto invadido pelos mais improváveis cozinheiros.
Uma bandeja com um pseudo english breakfast para a mãe e outra para o pai. Soergui-me ligeiramente na cama e, ao olhar para aquela visão dantesca, percebi porque é que dizem que, por mais experiência e jogo de cintura que tenhamos, nunca estamos verdadeiramente preparados para as surpresas da paternidade.
Enchi-me de coragem e ataquei o ovo mal estrelado, as salsichas frias e o leite repleto de grumos de chocolate, proferindo as mais deliciadas exclamações de prazer gastronómico, perante o ar orgulhoso das minhas duas encantadoras crias.
Hoje não é Natal, não faço anos nem há qualquer outra ocorrência que justifique este feito...a não ser talvez a demonstração de um gostar tão puro e agradecido que me fez mentir por e com amor.
Garanto que nunca tinha comido uma coisa tão horrível, mas também nunca antes uma refeição me tinha alimentado assim a alegria da alma.

Ana Amorim Dias

Mãe carnaval

Mãe Carnaval

- Mãe! Não quero ir de motoqueiro, quero ir de pirata!-disse-me o marafado miúdo ontem, mesmo antes do jantar.
- Mas João...- repliquei.
- P I R A T A!-
- Então, meu amor, desenrasca-te como quiseres porque não tenho nada preparado.
Ou melhor, ter até tinha: o fato integral da ski e o respectivo capacete fariam dele o motard mais giro do Algarve, mas lá acabei por lhe desencantar um chapéu de corsário e a pala a condizer.
- É o que há! - Disse eu ao entregar-lhe as coisas- o resto da indumentária procura tu nas tuas roupas.-
Teimoso como é, lá arranjou maneira de compor o figurino, deixando-me a pensar que não sou boa Mãe Carnaval.
Não me importam as origens, o peso cultural nem o papel que tem no ânimo das gentes. Não gosto de Carnaval e começo a duvidar vir a gostar algum dia. O motivo é simples: não acredito na veracidade e consistência da alegria com dias marcados. A paródia deve ser uma constante diária que nos faz brincar com a vida e rir de tudo a toda a hora. A folia de representar outros papéis e saber rir de nós e dos outros, só nos ativa a felicidade se acontecer com espontaneidade.
Contudo, enquanto escrevo, percebo que não é a minha intolerância visceral a estes dias que vai fazer de mim uma má Mãe Carnaval... Por isso vou ali num instante comprar uma espada ao moço.

Ana Amorim Dias