(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.9.12

Luso abraço




   Pergunto-me se os portugueses continuarão a apreciar a arte.  Interrogo-me se conseguirão continuar a alegrar-se com a música ou a sorrir sem motivo. Será que as feridas pessoais de cada cidadão português chegarão a sarar algum dia?
   Não faz muito sentido enumerar  uma e outra vez os incontáveis rombos que este nosso navio luso tem no casco; nem os buracos que tem nas velas ou os mastros que estão quebrados. Da mesma forma que também já de pouco serve perguntar como foi que os timoneiros que o comandam e comandaram ao longo das últimas décadas puderam transformar Portugal neste país acidentado.  Como foi que se permitiu  a homens que nem remar sabiam que fossem os comandantes?  Quando é que começamos a adernar de forma tão acentuada sem que se tomassem medidas coerentes e  sem que houvesse um único  marinheiro capaz de segurar este leme?
   Não tenho resposta. Mas também devo ser  culpada pois sou adulta, racional e eleitora.  
    Mas o que realmente quero dizer é que há algo muito importante que ninguém pode esquecer:  nós não somos só um país, somos uma nação! E o bem mais valioso deste navio metafórico são os seus Homens.
    Além de um país pacífico, de belas paisagens, monumentos  e tradições seculares, somos uma equipa fantástica de pessoas boas e corajosas.    Somos muito  mais do que uma soma de sofredores tolerantes: somos a tripulação em apuros de navio que foi contra as rochas.  Somos todos  marinheiros,  de bravo gene  ancestral, capazes de estóicos feitos.  E parece que chegou a hora de mostrarmos  de novo o valor; de nos refazermos com  recurso à nossa astúcia,  aos nossos inventivos recursos e  à nossa condição de eternos conquistadores.
     Seria bom unir-nos mais ainda, enquanto marinheiros deste barco, com demostrações de altruismo e mútuo apoio, enquanto tentamos avaliar os estragos e reparar o navio.   Seria bom que, enquanto tentamos sobreviver aos ferimentos pessoais, tentássemos simultaneamente trazer de novo à vida o orgulho de ser Português, num sentimento  coletivo de abraço a tudo o que de bom corre no nosso lusitano sangue.
  Seria bom que, apesar de toda a preocupação, angústia, injustiça e perda, mantivéssemos  a capacidade de continuar a transmitir esperança aos mais novos; a capacidade de apreciar a arte,  de nos alegrarmos  com a música  e de  sorrir sem motivo… quanto mais não seja uns aos outros.
Um forte abraço a todos,
Ana Amorim Dias