Degredo na estupidez
Por altura da Passagem de Ano pensei que já tinha de novo acesso seguro à TVI; julguei erroneamente que não mais corria o risco de, no meio do zapping, me deparar com a voz odiosa da Dona Teresa a estimular o já elevadíssimo grau de estupidez crónica de pessoas que, tanto quanto me apercebo, vieram do Planeta Stupidity.
Enganei-me redondamente. Num dos novos dias deste novo ano (para o qual desejamos sempre muitas coisas boas) enquanto, de comando em riste, ia levando uma maçã à boca, deparo-me com uma cena pior que o Freddy Krueger e a menina do Exorcista a fazerem juntos uma festa do pijama: era a Dona Teresa a interrogar novos belíssimos espécimes dessa estranha estirpe de gente.
Escusado será dizer que me engasguei logo com a maçã e percebi que, até novas ordens, a TVI está interdita sem apelo nem agravo.
"Mas, Ana... Tu até és corajosa... Não podes recuar perante o perigo! Tenta ver um bocadinho para poderes escrever sobre isso", repeti-me imensas vezes, sempre sem conseguir fazer a paragem no tal canal.
Mas ontem enchi-me de força. Apertei os punhos, cerrei os dentes e, com o coração a ribombar de temor, fixei a minha atenção naquilo. Como quem aguenta uma dor lancinante; como quem se expõe à mais dura das provas, ouvi, por cinco intermináveis minutos de sofrimento excruciante, a voz de uma quantidade de gajas à bulha umas com as outras. Devo ter entrado num estado semi-catatónico, porque só me lembro de ouvir frases soltas que nem sequer me atrevo a reproduzir, de tão vazias de sentido.
Nunca conseguirei entender como é que um programa assim tem audiências. Apenas me ocorre que, tal como os condenados ao degredo, as pessoas que o vêem aceitem a condenação ao compulsivo afastamento da terra Natal da sua própria inteligência.
Ana Amorim Dias
(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...
Ana Amorim Dias
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...
Ana Amorim Dias
24.1.13
A tua força solar
A tua força solar
O meu irmão olha-me a rir.
- O que foi? - Calo a rajada de disparates para saber o que aquele olhar me esconde.
- Nada. ... É que olho para ti e imagino-te com um capacete tipo Professor Pardal, com muitas antenazinhas a lançar faíscas entre si.
Saio do carro para comprar pão. Algumas pessoas olham-me com estranheza. Estão com casacos grossos, luvas, gorros e cachecóis. Devem pensar que sou louca: só de camisa sobre o pelo, as mangas arregaçadas. Mas tenho tanto calor...
As crianças saltam-me para a cama ao acordar e enroscam-se a mim.
- Mãe! Tu estás a arder!
Não é febre. Está tudo bem. Deve ser só o efeito de uma fotografia tirada ao próprio sol de Inverno num destes ocasos frios. Uma fotografia que me deixou a pensar que todos podemos ser um sol para tanta gente; que todos devemos encontrar o nosso poder solar de brilhar e arder, incandescentes de corpo e alma, para aquecer e iluminar todas as vidas que trazem sentido à nossa própria vida.
E tu? Quantas vidas aqueces com essa tua força solar?
Ana Amorim Dias
O meu irmão olha-me a rir.
- O que foi? - Calo a rajada de disparates para saber o que aquele olhar me esconde.
- Nada. ... É que olho para ti e imagino-te com um capacete tipo Professor Pardal, com muitas antenazinhas a lançar faíscas entre si.
Saio do carro para comprar pão. Algumas pessoas olham-me com estranheza. Estão com casacos grossos, luvas, gorros e cachecóis. Devem pensar que sou louca: só de camisa sobre o pelo, as mangas arregaçadas. Mas tenho tanto calor...
As crianças saltam-me para a cama ao acordar e enroscam-se a mim.
- Mãe! Tu estás a arder!
Não é febre. Está tudo bem. Deve ser só o efeito de uma fotografia tirada ao próprio sol de Inverno num destes ocasos frios. Uma fotografia que me deixou a pensar que todos podemos ser um sol para tanta gente; que todos devemos encontrar o nosso poder solar de brilhar e arder, incandescentes de corpo e alma, para aquecer e iluminar todas as vidas que trazem sentido à nossa própria vida.
E tu? Quantas vidas aqueces com essa tua força solar?
Ana Amorim Dias
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