(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

24.1.13

Degredo na estupidez

Degredo na estupidez

Por altura da Passagem de Ano pensei que já tinha de novo acesso seguro à TVI; julguei erroneamente que não mais corria o risco de, no meio do zapping, me deparar com a voz odiosa da Dona Teresa a estimular o já elevadíssimo grau de estupidez crónica de pessoas que, tanto quanto me apercebo, vieram do Planeta Stupidity.
Enganei-me redondamente. Num dos novos dias deste novo ano (para o qual desejamos sempre muitas coisas boas) enquanto, de comando em riste, ia levando uma maçã à boca, deparo-me com uma cena pior que o Freddy Krueger e a menina do Exorcista a fazerem juntos uma festa do pijama: era a Dona Teresa a interrogar novos belíssimos espécimes dessa estranha estirpe de gente.
Escusado será dizer que me engasguei logo com a maçã e percebi que, até novas ordens, a TVI está interdita sem apelo nem agravo.
"Mas, Ana... Tu até és corajosa... Não podes recuar perante o perigo! Tenta ver um bocadinho para poderes escrever sobre isso", repeti-me imensas vezes, sempre sem conseguir fazer a paragem no tal canal.
Mas ontem enchi-me de força. Apertei os punhos, cerrei os dentes e, com o coração a ribombar de temor, fixei a minha atenção naquilo. Como quem aguenta uma dor lancinante; como quem se expõe à mais dura das provas, ouvi, por cinco intermináveis minutos de sofrimento excruciante, a voz de uma quantidade de gajas à bulha umas com as outras. Devo ter entrado num estado semi-catatónico, porque só me lembro de ouvir frases soltas que nem sequer me atrevo a reproduzir, de tão vazias de sentido.
Nunca conseguirei entender como é que um programa assim tem audiências. Apenas me ocorre que, tal como os condenados ao degredo, as pessoas que o vêem aceitem a condenação ao compulsivo afastamento da terra Natal da sua própria inteligência.

Ana Amorim Dias

A tua força solar

A tua força solar

O meu irmão olha-me a rir.
- O que foi? - Calo a rajada de disparates para saber o que aquele olhar me esconde.
- Nada. ... É que olho para ti e imagino-te com um capacete tipo Professor Pardal, com muitas antenazinhas a lançar faíscas entre si.

Saio do carro para comprar pão. Algumas pessoas olham-me com estranheza. Estão com casacos grossos, luvas, gorros e cachecóis. Devem pensar que sou louca: só de camisa sobre o pelo, as mangas arregaçadas. Mas tenho tanto calor...

As crianças saltam-me para a cama ao acordar e enroscam-se a mim.
- Mãe! Tu estás a arder!

Não é febre. Está tudo bem. Deve ser só o efeito de uma fotografia tirada ao próprio sol de Inverno num destes ocasos frios. Uma fotografia que me deixou a pensar que todos podemos ser um sol para tanta gente; que todos devemos encontrar o nosso poder solar de brilhar e arder, incandescentes de corpo e alma, para aquecer e iluminar todas as vidas que trazem sentido à nossa própria vida.
E tu? Quantas vidas aqueces com essa tua força solar?

Ana Amorim Dias