(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

12.9.12

A extensão mais sensual



   A extensão mais sensual de um homem continua a ser a sua mota.  Talvez por trazer reminiscências dos heróis a cavalo.  Mas convém clarificar a afirmação. Não é uma boa mota que torna um homem comum num ser desejável. Da mesma forma que não foi, durante séculos, o puro sangue do seu corsel a transformar o homem num   cavaleiro andante saído de um bom romance.  Não. Não é a mota que faz o homem. Da mesma maneira que não são as pinturas, roupas e adornos que fazem da mulher uma “bomba”. 
   O sexo feminino pode vestir roupas fantásticas,  jóias valiosíssimas e pinturas vistosas, mas tem que saber envergá-las e dominá-las, sob pena de ser apenas um cabide mal amanhado e estranho desprovido de qualquer encanto.  Com o sexo masculino passa-se o mesmo: ou o homem domina a máquina que lhe ronrona entre as pernas e se torna uno com ela numa ligação consistente, ou corre o sério risco de fazer figuras tristes e se estampar na curva seguinte.
  Adoro motas. E temo-as, claro. Talvez por isso nunca me tenha atrevido a guiá-las eu mesma. É dos poucos casos em que a atitude aventureira me fica em casa, guardada nalguma gaveta. Com as motas mantenho uma postura de donzela recatada. É um dos poucos casos em que me parece bem ser sempre o homem a comandar, levando-me abraçada atrás, por caminhos em que o vento me fustiga por fora com a mesma intensidade que a adrenalina  corre  cá dentro.
   Um passeio de mota  com ele a conduzir-me.  Algo tão poderoso,  tão intenso e ao mesmo tempo tão simples.   À volta só  vazio. O asfalto  a fugir por baixo e, à frente, as costas largas e fortes que só tenho que agarrar.
  A extensão mais sensual de um homem continua a ser a sua mota. Mas só se a dominar. Se souber ser uno com ela. Porque o mais apelativo atributo é a alma de selvagem… que sabe ser bem segura.
Ana Amorim Dias