(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.2.13

Apaixonados eternos

Eternos apaixonados

Como é que vou cozinhar isto hoje? Esta em particular, é de suprema importância que fique bem explicadinha...
Oh Ana! Começa pelo princípio que costuma dar resultado.
Ok, ok, cá vai,então:

Estava com ela no café, perdidas como sempre nas mil coisas que temos para dizer uma à outra.
- Estar apaixonado é fácil- dizia eu - o difícil é saber ser-se eternamente apaixonado. Para isso é preciso ser muito, muito, mas mesmo muito, inteligente pois só as pessoas com uma inteligência profunda conseguem esse grandioso feito!-
- Eh páá... Lá estas tu com as tuas omeletes de homeopatia psicológica!-
Entretanto despejo o açúcar no café. Um granulado cor de rosa invade-me o poderoso néctar. Olho para o pacotinho para perceber o que se passa. E então leio: "A vida precisa de mim apaixonado." Mostro-lhe o dizer, com um espanto pouco espantado. Rimos com a cumplicidade de sempre perante a corroboração açucarada da minha omelete homeopática.
- Pois é, Ana, a vida precisa mesmo de ti apaixonada!- e guarda-me o pacotinho vazio na mala, já sabendo que ia dar crónica.
Fiquei a pensar na quantidade de pessoas por quem sou, e serei sempre, eternamente apaixonada. Senti todas as eternas paixões que me têm e agradeci em silêncio a minha imensa fortuna.
Mas foi só hoje, ao ver uma imagem parada do trailer de "Sangue quente", que a luz sábia das grandes revelações se me acabou de acender. Na tal imagem parada a legenda revelava: "E sente! Está a aprender a ser humano outra vez"
Sorrio. É mesmo disso que se trata. A vida precisa de nós apaixonados! Porque quanto mais sentimos e nos cresce a capacidade para eternas paixões, mais nos aproximamos de ser humanos de novo!
... E tu? Quantas eternas paixões já conquistaste?...

Ana Amorim Dias

Intrépidos exploradores

Intrépidos exploradores

- Olhem como ela é linda, meninos! Chora e ri ao mesmo tempo!- Diz o Ricardo aos nossos filhos.
A eles passa-lhes ao lado. Como crianças que são também abraçam despudoradamente todas as emoções, por isso em nada me estranham.
Como se pode chorar e rir de uma vez só? Como se pode rir do choro ou chorar de tanto rir? Mais: como se pode envergar o sorriso curado, condescendente e desafiador depois de a vida ter gozado connosco? Como se pode colocar a traquinice inocente num olhar que se recusa a abandonar um brilho eternamente entusiasmado com o que virá depois? A resposta é tão simples que chega a passar-nos ao lado: passamos a ser capazes de tudo quando nos assumimos como intrépidos exploradores de nós mesmos.
Já conquistamos novos mundos, o espaço, as profundezas dos oceanos e continuamos hesitantes na mais desafiante aventura porquê? Será o nosso interior tão assustador que nos faça suspeitar que não seremos capazes de lidar com o que vamos lá encontrar?
Não me restam dúvidas: os aventureiros mais corajoso são os que sabem ir ao fundo de si. E ficar lá, fieis ao que encontram mas, ainda assim, comprometidos com uma reinvenção constante que os faz envergar um sorriso reguila e trocista perante as tempestades vindouras.

Ana Amorim Dias

Lábios

Lábios

Às vezes deixo de ouvir as pessoas. Fico a olhar só para os lábios que se continuam a contorcer como se tivessem vida própria. Carnudos ou finos, longos ou curtos, belos ou feios, fascinam-me pela indiscutível quantidade de informação emocional que a cada momento vertem.
Parece-me até que os lábios sabem dizer, mesmo sem palavras, coisas que os próprios olhos não têm como expressar.
Lábios são mais que as fronteiras da entrada dos alimentos nos corpos, são a própria matéria com que se desenham os sorrisos que alimentam a alegria.
Lábios são manancial de suspiros, geradores de caricias, objeto de desejos e fonte de todos os beijos.
E são belos, todos os lábios são belos... desde que saibam deixar que seja o coração a falar.

Ana Amorim Dias