(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

4.11.11

Morrer de amor


   Ela não queria acreditar! Ele estava mesmo a deixá-la. Desta vez não havia mais argumentos nem ardis para o conseguir manter a seu lado. Sabia, no fundo, que tal dia chegaria. O que não sabia era que, com a sua chegada, partiria toda a sua vontade de viver.
   Ela matou-se pouco tempo depois. Por não ter esperança. Por não ter amor para si. Por não ter amor por si. Tinha-o entregue todo. Não importa como o fez. Fê-lo simplesmente. Roubou a si mesma a vida que um dia lhe tinham dado. E partiu.
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Este caso é verdadeiro. É de alguém que eu conheci. De alguém que morreu de amor. Ou por amor, como queiram. Ela já se foi há quase um ano e só agora consigo escrever-lhe. A ela, a todos os que já morreram de amor e a todos os que já sobreviveram ao amor…
Nos filmes fantásticos há por vezes uma poção extremamente poderosa capaz de controlar o Mundo. Os personagens lutam por ela para a controlarem e a usarem em seu proveito, sejam os seus intuitos bons ou maus. Ora o amor é isso mesmo: é aquele frasquinho azul turqueza, guardado num cofre da mais alta segurança por ser algo tão poderoso que, caindo nas mãos dos “maus”,  pode destruir o todo o Universo conhecido. E é também a “substância” mais magnífica e poderosa que jamais existiu ou poderá vir a existir.
    Na realidade, a maior descoberta da humanidade deu-se no preciso momento em que um ser sentiu amor por outro…  Tornámo-nos poderosos para além do que a própria imaginação é capaz de alcançar!
  Mas então porque é que há quem ainda se mate por amor? Porque é que há quem definhe aos poucos e perca toda a razão de viver se o amor se vai? Porque é que há pessoas que se matam por serem “deixados”e outras que, como a minha mãe, que viu o seu amor de toda a vida partir para outro estado, se erguem com nobreza e enfrentam a vida da forma mais positiva que conseguem, honrando o amor que tiveram a fortuna de viver??
   Tudo depende de dois fatores: a forma como se vêem as coisas e o modo como se amou ou ainda ama…
   Sabendo olhar para um amor que se foi com o sorriso da alegria que se sentiu na sua presença, consegue-se manter viva a memória desse amor. Quem guarda,  no seu património interior, o imaculado e eterno amor, pode seguir adiante e amar de novo… sem nunca esquecer nem deixar de amar quem já amou!
  Mas sobreviver ao amor e não desejar morrer na sua ausência depende também da forma como se amou: quem ama outra pessoa deixando de se amar a si mesmo, perde-se no processo. Quem ama assim, ao perder o seu amado/a, deixa de existir e apenas encontra um caminho: a extinção! Mas quem ama alguém mantendo intacto e imaculado todo o amor e respeito que tem por si mesmo, há-de encontrar sempre a força para seguir adiante e amar de novo… porque o amor continua catalizado em si, como a tal poderosa “arma” azul turqueza de que vos falei há pouco!
  Há quem se mate por amor e há quem escolha “matar” o amor para não morrer de amor… Como sempre, o caminho do meio é o mais certo. É por isso que aconselho  a que não se matem por amor… nem escolham matar o amor: lutem por continuar a senti-lo, mesmo depois dele partir. Só escolhendo sempre o amor  estarão preparados… para amar!
Ana Dias