(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

13.3.13

Lê. Vai fazer-te bem!

Lê. Vai fazer-te bem!

Pode parecer um choque, mas cá vai mesmo assim!
Falo no masculino apenas por me dirigir aos dois géneros, está bem? Então vamos lá!

Ninguém te pode achar belo se tu não te vires belo. Não por muito tempo, pelo menos.
O derradeiro pináculo dos atributos de beleza é a aceitação plena e ternurenta de ti; a confiança que demonstras por realmente a sentires.
A tua componente mais atrativa e sensual é envergares o teu corpo e todo o seu conteúdo imaterial com uma coerência que diz: "sei que posso ser melhor, ando a fazer por isso, mas já me adoro inteiramente."
Não faças dietas, tratamentos de beleza, ginástica e afins, para te mostrares mais belo aos outros. Faz tudo isso, se quiseres, mas apenas para melhorares um pouco aquilo que já é perfeito, atraente e encantador. Fá-lo, não para te suportares melhor, mas para mais profundamente amares o produto encantador que resulta da conjugação do teu corpo com o teu espírito.
Lembra-te que quanto mais natural te conseguires manter, mais verdade existe em ti e, claro, menos trabalho e despesa terás que suportar.
Usa o teu corpo com a sapiência de quem é capaz de equilibrar respeito e excessos, sem te esqueceres nunca que os cinco sentidos que nele existem são para ser usados com o máximo prazer!
Abusa do teu intelecto como se não tivesse limites. Porque não tem. Cabe-te no cérebro tudo o que nele estiveres disposto a enfiar! Pode parecer que os intelectuais líquidos se te evaporam ao mesmo ritmo que os vertes lá para dentro, mas não: tudo fica bem retido.
Percebe de uma vez por todas que, à medida que a beleza exterior possa ir desfalecendo, uma muito mais poderosa se vai erguendo no teu fantástico interior.
Treina-te para o amor. Absurdo. Absoluto. Admirável. Por ti e pelos demais.
Treina-te para a positiva alegria que contagia o destino que vais depois atrair.
Treina-te para a resistência a tudo o que te causa desconforto e dor porque não existem vidas sem isso. Aceita. Sente. Ultrapassa.
Treina-te para aceitar desafios e para vencer. Não os outros, mas a ti mesmo.
E de caminho, se puderes, torna-te um pouco mais imortal.

Ana Amorim Dias

Reparador de cabeças

Reparador de cabeças

Vínhamos só as duas no carro, a saltitar freneticamente de tema em tema sem perder o fio à meada, como sempre conseguimos.
De repente vejo o cartaz, mesmo encostadinho à estrada. Por baixo de uns desenhos esquisitos, em letras gordas, pude ler: REPARADOR DE CABEÇAS.
Tentei controlar-me porque o volante era meu, mas ainda assim, exaltei-me.
- Descobri, Guida, descobri!-
- Hã? - pela primeira vez naquela tarde, ela perdeu a noção do que eu estava a querer dizer.
- Descobri o que sou! Já sei como se chama o que faço!-
Ela levantou as duas sobrancelhas enquanto virava mais a cara para mim, como sempre faz quando quer que eu lhe explique melhor os meus devaneios.
Falei-lhe então do cartaz e ela concordou.
- Sim, és uma reparadora de cabeças, sem dúvida! Agora saca mas é da mala das ferramentas que preciso aqui de uma revisão!-

Mais tarde pesquisei imagens de "reparador de cabeças" no Google para poder ilustrar as palavras, mas só me apareceram elixires de salvação de pontas espigadas. Que tristeza! Sempre me identifico mais com quem recupera cabeças de motor do que com um qualquer bálsamo colador de cabelos estropiados.
Mas uma questão se apresenta: se aquele habilidoso senhor recupera cabeças de motor, eu recupero cabeças que não são o motor, porque acho que o motor é o coração... (neste momento tenho os lábios franzidos para o lado direito da cara, sinal claro de combustão meditativa).
Hummmm...
"Puxa o fio, Ana, vá lá, tu consegues!"
Quando, há uns anos, comecei a escrever, fi-lo para recuperar a minha própria cabeça e, consequentemente, o meu motor primordial. Com o tempo percebi que a partilha destes escritos tem a faculdade de recuperar aos poucos cabeças alheias e correspondentes corações. Sei que sim porque mo dizem constantemente. E isto só acontece porque tudo aquilo que a cabeça compreende, consegue curar no coração, o mais fabuloso de todos os motores que conheço!

Ana Amorim Dias

João

João

Há nomes que literalmente invadem a nossa vida. Com maior intensidade que quaisquer outros. Nomes que embora se repitam em igual sonoridade, são irrepetíveis nos afetos provocados.
O recorrente nome que me baptiza fortes amores é "João". João para cima, João para baixo, João para os lados. João pai, João filho, João irmã com o " Maria" primeiro, e até um avô que o meu coração adotou se chamava João.
Não faço ideia se os homónimos partilham entre si alguma inexplicável forma de comunicação imperceptível aos demais. Mas nada me tira da ideia que quando várias pessoas amam muito outra, as suas energias se unem de alguma misteriosa maneira.
Ontem o João filho sentou-se ao meu colo: achei estranho. Abraçou-me: mais confusa fiquei. Encheu-me de beijos: comecei a ficar mesmo preocupada. Apertou-me ainda com mais força e deixou-se ficar naquela extrema manifestação de carinho tão pouco usual em si. Acabei por me render àquele momento sublime sem pensar mais nos "porquês" ou na estranheza daquilo.
O último beijo deu-mo na testa, após o que segredou baixinho: "adoro-te". E então fez-se luz. Percebi de onde lhe veio o tão carinhoso impulso.
Também te adoro, pai e jamais me esqueceria do teu aniversário. Já sei que há nomes e amores que nunca saem de nós.

Ana Amorim Dias

Document 3

Imprevistos

O humor irónico é um dos meus preferidos. Daquele inteligente, pouco óbvio, com uns pózinhos de sarcasmo, até. Não que os outros humores não me arranquem gargalhadas porque essas devemos tê-las sempre prontas a sair, para nos revitalizarem as células.
Creio que o que me atrai no humor irónico é o facto de a vida estar cheia dele. A sucessão dos imprevistos que nos preenchem os dias revestem-se muitas vezes de uma ironia tão sarcástica e pouco óbvia que poucos são os que se conseguem rir à gargalhada com os seus desígnios. É aqui que o humor e a inteligência podem fazer a diferença: nunca conseguiremos controlar os imprevistos mas talvez, se lhes entendermos o sentido, consigamos sacar mais umas gargalhadas à vida!

Ana Amorim Dias