Ia a passar e ouvi-a, desde o seu alpendre, a falar com uma tal fúria que me deixou espantada. Gesticulava e dava rédea solta à indignação que a consumia, perante o olhar atento do resto da família. Nem parei, apesar de os conhecer a todos e gostar imenso de cada um deles. Não parei porque há energias alheias que facilmente se “colam” à nossa pele, sobretudo se estivermos distraídos.
É aliás bastante curiosa a maneira como (normalmente de forma muito pouco consciente) nos deixamos levar por sentimentos de injustiça, raiva e ódio. Quem não anda bem “centrado” no fio de prumo da sua sabedoria interior, facilmente cai na armadilha dos maus sentimentos que se coroam com vitimizações e planos de vingança que se cozem em fogo lento: exatamente o mesmo fogo lento que passa a corroer as entranhas de quem lhe vai dando lenha e deixando sempre arder.
Nos últimos dias, perante uma injustiça de que, a par com outras pessoas, fui alvo, tenho constatado com muita admiração que pessoas que em nada foram afetatadas têm deitado muita “lenha para a fogueira” num movimento de apoio indignado contra a injustiça ocorrida. Observo, com um sorriso na alma, o espanto das pessoas ao perceberem que por mais lenha solidária que mandem ela não consegue atear o fogo. E o motivo é tão simples: quando não há fogo pode-se mandar toda a lenha do mundo para a pira que ela não arde e pronto!
Perante as injustiças, dificuldades, ofensas e toda a espécie de pedras que nos possam surgir pelo caminho, uma coisa vos garanto: vitimizações, ódios, raivas e desejos de vingança, não levam a lado nenhum. Por outro lado, apagando o inicial fogo interior de tais sentimentos e atitudes, voltamos à serenidade e readquirimos a capacidade de virar a nossa energia para o lado certo: e é nesta viragem energética que soluções maravilhosas nos surgem. Sem ódios nem raivas, os cães podem ir ladrando mas a caravana, essa, vai seguindo o seu caminho… por caminhos ainda melhores.
Ana Amorim Dias