(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

Com novos olhos

Mais um dia passado pela vida em que não admiti que ela passasse por mim sem lhe deixar algo de valioso. A  correria matinal, seguida de levar os dois diabretes à escola e a alegre chegada ao café onde todas as manhãs tomo a meia de leite e escrevo as estórias que na alma se me formam. Mais tarde, satisfeita e refeita pela criatividade derramada, segui para o resto dos afazeres agendados para hoje. Enquanto guiava vi um homem sentado no muro da igreja de uma pequena povoação onde quase todos os dias passo. E ele quase todos os dias está ali, a ver os carros passar, no seu sereno e misterioso hábito recheado de nada  ( a verdade é que  passa ali os dias sem nada fazer…). Julguei-o. Julguei-o na sua inércia e desocupação de homem novo que podia estar a fazer pela vida, pela sociedade, por si mesmo… Julguei-o e comparei-o comigo que não consigo parar quieta dois minutos; que não consigo deixar de pensar em cinco novos  projectos quando já tenho uns oito em mãos. Comparei-o com a minha velocidade impaciente ( na vida, não na estrada, ok?) de quem quer fazer a diferença, marcar posição, atingir almas, corações;  crias sorrisos, harmonia; fazer mais e mais e mais….
E foi então que percebi que quem vê tudo sempre com os mesmos olhos, vê mais ou menos o mesmo que um cego (só que os cegos normalmente são-no só dos olhos, não da alma!).  Percebi naquele momento, no meu carro ( eu percebo tanta coisa no carro!!) que estava a ser estúpidamente preconceituosa… Estava a ser julgadora quando isso não me é pedido nem esperado. Quem sabe se o senhor não é um pensador ilumidado ( ao estilo do nosso adorado Osho) que escolhe sempre o mesmo lugar para as suas extraordinárias meditações que o conduzirão à transcendência e a ser, quem sabe, um grande contributo  para a evolução da humanidade… Afinal, como diz a minha amiga Marta – “ às vezes de fraca moita, salta grande coelho!!”.   Ou, quem sabe, o senhor do muro da igreja  talvez ali esteja  para ajudar as crianças a atravessar a estrada em segurança ou com a missão de evitar algum grande acidente e salvar a vida a alguém a quem viver faça falta…. ( esta talvez pareça uma estupidez mas, se pensarem um pouco, talvez percebam que não é…)
   O certo é que segui para o resto do meu dia decidida a olhar para tudo com mais do que um olhar, que é como quem diz, decida a conseguir ver tudo sob vários prismas, direcções, iluminações. Tentar ver tudo com novas cores e nuances que não apenas as óbvias… usar os olhos do corpo e, depois, accionar também os do coração da alma e de tudo o que mais haja cá dentro…. Porque só assim é que podemos ver as razões dos outros mesmo quando achamos que eles não têm razão e isto é muito importante porque não só vai esbater conflitos e potenciar a harmonia como nos vai “limpar” por dentro de todos os sentimentos corrosivos e nefastos que não queremos em nós!
E é por isso que estou a escrever sobre os cotovelos, deitada de barriga para baixo, virada para os pés da cama… é por isso que mudei a cor das lâmpadas dos candeeiros e pus uma música inspiradora bem alto na aparelhagem…. Para olhar para tudo com novos olhos e uma nova perspectiva  tudo,  mas mesmo para tudo!!!
…. E agora vou pôr mais baixo… que os miúdos já devem ter adormecido.    
Ana Dias

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