(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

1.11.11

Onze horas



    Não me emocionei tremendamente no primeiro dia de escola dos meus filhos. Encarei o facto de forma muito prática  e concluí que é  a ordem natural das coisas: nascem, gatinham, andam, falam, pensam que mandam, vão para a escola, continuam a pensar que mandam, e por aí fora.
   Mas ontem à noite um novo dado surgiu nesta perfeita e previsível equação…
- Mãe… tenho a festa do Halloween lá na escola. Quero que me leves às oito e me vás buscar às onze… pode ser?
Reconheci no seu “pode ser”  uma ferramenta rudimentar  de mal disfarçada humildade por parte de quem sabia, à partida, que a batalha estava ganha.
 - Bolas… Começas cedo…. – Respondi-lhe, com o humor a oscilar entre o orgulho e a resignada condição de mãe de pré-adolescentes.
- Óh mãe… - Por momentos o Tomás viu a vida a andar para trás.
- Tem calma! Claro que podes ir! Mas onze horas é muito tarde para quem tem só dez anos… - Mal acabei de falar lembrei-me das intermináveis negociações com o meu pai… Ri-me… Parece que foi há tante tempo e, ao mesmo tempo, há tempo nenhum…
   Ouvi, nostálgica, a forte argumentação do doce Tomás, advogando com hombridade todas as razões pelas quais considerava que às onze horas era justo para os dois.
   Condescendi sem grande dificuldade e deixei-o na sua primeira festa noturna com direito a DJ e tudo. Combinei ir buscá-lo ao portão da escola às onze em ponto e,  às cinco para as onze, lá o vi a aparecer no local combinado….cinco minutos antes do tempo, tal como eu  fazia na época em que era eu a ter que saber os limites.
   Quando lhe levei o copo de água à cama e dei o beijo de boas noites, sorri…  Isto é complicado, mas pode ser que corra bem…
Ana Amorim Dias