- Mãe! Salva-me!
- Não precisas de ser salvo, palerma! –
Cenário: um mar com umas ondinhas suaves em que eu e o João andámos, ainda há pouco, a fazer bodyboard. Ele tinha prancha, a corrente não era forte e, para além do mais, tinha pé, portanto não precisava de ser salvo.
Assim que ele me fez o apelo e lhe dei aquela resposta, percebi que muitas vezes as pessoas esperam que as salvem, mesmo quando não há necessidade rigorosamente nenhuma de serem salvas. É claro que há situações pontuais em que ocorrem acidentes ou situações de real perigo das quais não nos safaríamos sem o auxílio de abnegados semelhantes, mas não é disto que estou a falar.
O tipo de salvamento desnecessário a que me refiro é aquele de que muitas pessoas se tornam dependentes: acreditam que não são capazes e então ficam à espera do salvamento. Mas quem tem duas pernocas e dois bracitos não precisa que de ser alimentado, pode ganhar o seu sustento desde que tenha ganas de trabalhar ( trabalho e emprego são coisas bem diferentes que continuam a ser confundidas por puro comodismo). Quem consegue pensar e agir não precisa de ser salvo, sustentado nem levado em braços. Mas, nos dias que correm, o mais recorrente apelo de salvamento é o da alegria: há muitas pessoas que continuam a viver com um constante grito calado que clama aos outros para que as salvem da sua miséria interior! Só que da miséria interior ninguém nos pode salvar, meus caros, a não ser, claramente, nós mesmos! A nossa felicidade não depende dos outros e sim da nossa escolha; depende da nossa obstinada opção de continuar a procurar as nossas fórmulas secretas (muito únicas, pessoais e intransmissíveis) de viver em sucessivos momentos felizes e fazê-los durar tanto quanto a nossa capacidade nos permita.
A nossa alegria de viver não depende dos outros. E enquanto isto não for muito bem entendido, continuaremos a ouvir imensa gente a gritar-nos sem voz: “ Salva-me”. Só nos resta responder: - “ Não precisas de ser salvo, palerma! Tens em ti tudo o que te possa fazer falta!-“
Ana Amorim Dias