(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

13.8.12

O salvamento




- Mãe! Salva-me!
- Não precisas de ser salvo, palerma! –
   Cenário: um mar com umas ondinhas suaves em que eu e o João andámos, ainda há pouco,  a fazer  bodyboard. Ele tinha prancha, a corrente não era forte e, para além do mais, tinha pé, portanto não precisava de ser salvo.
    Assim que ele me fez o apelo e lhe dei aquela resposta, percebi que muitas vezes as pessoas esperam que as salvem, mesmo  quando não há necessidade rigorosamente nenhuma de serem salvas. É claro que há situações pontuais em que ocorrem acidentes ou situações de real perigo das quais não nos safaríamos sem o auxílio de abnegados semelhantes, mas não é disto que estou a falar.
   O tipo de salvamento desnecessário a que me refiro é aquele de que  muitas pessoas se tornam dependentes: acreditam que não são capazes e então ficam à espera do salvamento.  Mas quem tem duas pernocas e dois bracitos não precisa que de ser alimentado, pode ganhar o seu sustento desde que tenha ganas de trabalhar ( trabalho e emprego são coisas bem diferentes que continuam a ser confundidas por puro comodismo).  Quem consegue pensar e agir não precisa de ser salvo, sustentado nem levado em braços.   Mas, nos dias que correm, o mais recorrente apelo de salvamento é o da alegria: há muitas pessoas que  continuam  a viver com um constante grito calado que clama aos outros para que as salvem da sua miséria interior!   Só que da miséria interior ninguém nos pode salvar, meus caros, a não ser, claramente, nós mesmos!  A nossa felicidade não depende dos outros e sim da nossa escolha; depende da nossa obstinada  opção  de continuar a procurar as nossas fórmulas secretas (muito únicas, pessoais e intransmissíveis) de viver em sucessivos momentos felizes e fazê-los durar tanto quanto a nossa capacidade nos permita. 
    A nossa alegria de viver não depende dos outros. E enquanto isto não for muito bem entendido, continuaremos a ouvir imensa gente a gritar-nos sem voz: “ Salva-me”. Só nos resta responder: - “ Não precisas de ser salvo, palerma! Tens em ti tudo o que te possa fazer falta!-“
Ana Amorim Dias