(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

13.2.13

Deixa-me ligar-te

Deixa-me ligar-te

Há tempos li isto: "The meaning of life is to find your gift. The purpose of life is to give it away.". O que quer mais ou menos dizer que o sentido da vida é encontrar o teu dom e que o propósito da vida deve ser a entrega dessa dádiva ou dom aos outros.
Pois bem, parece-me que existem imensas pessoas que já descobriram o sentido das suas vidas e que estão comprometidas com o tal propósito, colocando os seus dons à disposição dos outros. A questão é mais profunda: quantos de nós estamos dispostos a receber essas dádivas?
Isto faz-me lembrar o episódio do violinista famoso que interpretou magistralmente uma elaborada peça à entrada de uma estação, sem que ninguém se detivesse a apreciá-lo quando, na noite anterior, tinha enchido uma sala de espectáculos com bilhetes caríssimos.
Quererá isto dizer que não sabemos receber as dádivas alheias a menos que paguemos o seu preço? Nem sempre é assim que funciona!
Como receptora de dons procuro estar sempre alerta para não perder nenhum. Como emissora, apenas me resta a esperança que os outros me deixem ligá-los para a frequência das boas emoções. Posso nem sempre conseguir mas não é lá por isso que deixarei de insistir no " Let me turn you on!"

Ana Amorim Dias

Entre ti e o Mundo

Entre ti e o Mundo

Quando me dizem que não gostam de viajar fico em estado catatónico. Chego mesmo a levar alguns minutos até voltar ao normal e tentar compreender as razões de tal calamidade. Pergunto se houve más experiências, situações traumáticas ou algo do género. Mas não. Parece que há pessoas assim, para quem sair da rotina e do espaço em que se está confortável, é tudo menos uma experiência agradável.
Poderei criticar esta visão ou indignar-me com ela? Certamente que não. Compreendo e aceito. O que não consigo mesmo compreender é quem gosta e quer e finge que não pode. O que não sei aceitar é quem se esconde constantemente atrás de desculpas perfeitamente ultrapassáveis devido a uma preguiçosa inércia que finge não saber o que está a perder.
Não tem dinheiro? Junte, daqui a um ano ou dois será mais que suficiente.
Não tem companhia? Vá sozinho/a: são indiscutivelmente as mais espantosas viagens.
Não tem tempo? O tempo constrói-se a partir do tempo que se consegue roubar ao tempo que dizemos sempre não ter. Não tem vontade? Então imagine o que é nascer de novo, mas desta vez completamente aceso, desperto e vivo...
Já fiz viagens que pouca gente faria, em condições que travariam corajosos, impediriam determinados e assustariam aventureiros. Já fiz viagens debaixo de fogos cruzados, com regressos conturbados e muita coisa a perder. Mas fui. E creio que irei sempre. Porque não quero render-me a nada que se meta entre mim e o Mundo.

Ana Amorim Dias