- São mais duas, mãe!
Olho para ele, a mover-se dentro do balcão como um peixinho na água, e continuo as caipirinhas que tenho entre mãos.
- C’um caneco! O gajo ainda no outro dia andava por aqui de fraldas, a fanar cubos das máquinas de gelo e agora já me faz pedidos destes? Como raios passou o tempo assim tão depressa? – Pensei, enquanto espremia as limas.
O Tom frequenta o Piratas desde que se começou a formar dentro da minha barriga. É por isso que não me espanta nada todo o encantamento que sente em lá estar. Da mesma forma que não me surpreendo ao ver meninas já a olhar, satisfeitas, para o meu eterno “pequeno buda” que, bem consciente do facto, vai pondo aquele olhar sonsinho e feliz de quem começa a descobrir alguns encantos da vida.
O pedido das caipirinhas já foi feito há algumas noites e só não escrevi logo sobre ele porque quis amadurecer bem a sensação que me trouxe. Não foi o pedido em si, mas a naturalidade e desenvoltura com que foi feito, que me deixou orgulhosa. E, claro, o fator surpresa que me apanhou mesmo em cheio.
Cheguei, nestes dias, à conclusão que não tenho grandes planos para os meus filhos. Não pretendo à força que sejam doutores, médicos, advogados ou engenheiros. Tudo o que quero é que não tenham que ser nada que não queiram ser. É o único verdadeiro legado que lhes poderei deixar. Tudo o que quero é que venham a fazer o que realmente gostam e que tenham a capacidade de o fazer com dignidade e excelência. Mesmo que o que venham a fazer seja vender caipirinhas num velho bar de Verão.
Ana Amorim Dias