(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

cãs

Toda a vida disse que antes dos trinta não pintava o cabelo… Mantive a palavra. Fiz trinta e um, trinta e dois e continuei a não pintar. Trinta e três, trinta e quatro e os cãs a aumentar…
- “ Ná… ainda não está na hora…” – Fui pensando sempre que a tentação me assolou.
No fundo acho que, por ter uma atitude tão jovial e descontraída, continuam a dar-me sempre menos idade do que na realidade tenho, o que ajuda à decisão.  E fiz trinta e cinco e trinta e seis, porque o tempo não pára quando nós mandamos, apesar de haver uma altura em que decidimos interiormente voltar aos vinte e sete e ficar lá para sempre…
Hesitei muito antes de escrever esta crónica. De tudo o que já escrevi, acho que é o que mais me expõe porque não estou a falar de todos e sim apenas de mim… Mas estou mesmo à porta dos trinta e sete e os cabelos continuam sem saber o que é levar com tinta ( na realidade nunca o pintei, nem para esconder os brancos nem mudar o meu delicioso castanho). Costumo dizer a quem reclama comigo, que pintarei quando me olhar ao espelho e não gostar do que vejo… Outras vezes respondo, na brincadeira, que escolho não pintar para esconder um pouco a beleza e realçar a sabedoria… Mas a verdade é só uma, aliás, duas: não vou ser escrava de cabeleireiros que me vão roubar o precioso tempo (além dos disparates que se gastam, mas isso, felizmente, é secundário) e não vou esconder a minha verdade com paliativos… ( pelo menos enquanto gostar do reflexo que o espelho me devolve, entenda-se!)   De forma que, creio, um dos desafios da minha vida vai ser resistir à tentação da falsa promessa de uma eterna juventude contida num frasco de químicos mal cheirosos… Vou-me alimentando com a ideia de que quem me ama não o faz pela cor dos meus cabelos nem pela juventude da pele, mas antes pela força da juventude interior que a sabedoria dos anos vai tornando bem mais bela! Vou ver como me saio deste grande desafio na certeza de que, se o conseguir superar, nunca vou passar pelo drama de deixar de o pintar….
Haja coragem…
Ana Dias

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