(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

Cavalo selvagem

- “ Estou? Anita?”
  Ouvi uma voz do outro lado da linha, mas não reconheci logo quem era.
- “ Estou. Quem fala?”
- “ É o Francisco…”
  Falou-me com uma voz tão rouca e transtornada que, por momentos, temi que algo mau tivesse acontecido.
- “ O que foi? Passa-se alguma coisa?”
- “ Li o que escreveste no facebook e quero que saibas que estou a paroveitar todos os momentos com o meu pai…”
   Eu não podia acreditar no que estava a ouvir… O durão do Francisco estava mesmo a chorar! Como se me lesse os pensamentos, e com a voz cada vez mais embargada de emoção, continuou:
- “ Sabes Anita… todos pensam que eu sou uma rocha, mas eu tambémm choro… e o que escreveste tocou-me muito… Perdemo-nos no trabalho e na vida e esquecemos o que é realmente importante…”
   Sem saber bem o que responder, balbuciei-lhe baixinho:
- “ Fico feliz, Francisco… por tu e outras pessoas estarem a perceber que são as pequenas coisas que detêm toda a grandiosidade da  vida… por te fazer pensar e sentir… e aproveitar mais o teu pai enquanto o tens contigo…”
- “ Obrigada, Anita… era só isto que te queria dizer!”
   E a voz do ruídoso, alegre e tresloucado Francisco sumiu-se no ar como se aquela conversa nunca tivesse acontecido! Mas aconteceu! E deixou-me uma marca muito consistente e uma reflexão importante ( tal como o comentário do Paulo ao dizer: “ fizeste-me chorar… a sorrir….”)
   Deixei-me ficar sentada a olhar o mar com um sorriso trocista e pensei: “ Bolas… quantos homens ando eu a pôr a chorar?... Só nesta crónica conto quatro…”
  Mas voltando à reflexão importante… tenho sido confrontada (pelos outros e por mim mesma) relativamente à enorme exposição que tenho feito da minha vida, dos meus pensamentos, do que faço, vejo, sinto, reflito, interpreto… Tenho exposto, mais que o meu dia a dia, a minha alma, deixando correr livremente tudo o que vai cá dentro como um rio corre para o mar… o mar dos vossos olhos, do vosso sentir, das vossas almas…
  Andava há quase vinte e quatro horas com este dilema de “expor” ou não “expor”; falar com a alma ou só com a razão; contar histórias na primeira pessoa ou disfarçar-me atrás de personagens como tantas vezes faço nos livros…  E eis que a mais improvável pessoa ( o espaventado do Francisco) me traz a resposta em forma de telefonema piegas e choroso! 
   É que só me apetece dizer: “ A vida realmente tem coisas do caraças!!”
E a minha reflexão vai ganhando forma ao longo da tarde, à medida que vou amadurecendo o esqueleto desta crónica que agora vos escrevo ( com a alma, sempre!) .   Vou pensando, senão com os meus botões pelo menos com os atilhos dos meus biquinis, que por mais que me critiquem pela “exposição” a que me entrego; por mais que me avisem dos perigos, continuarei a aceder aos impulsos de escrever tudo o que penso e sinto… como um cavalo selvagem a percorrer as estepes, sem dono,  sem freios, sem grilhões!  Continuo a fazer o que sempre fiz:  a seguir os meus instintos; a ouvir os apelos do meu interior e a segui-los, confiante da sua correcção e superiores desígnios.  
   Por isso, meus caros, vos digo aqui e agora que sim: que me continuo a expôr e a entregar de peito aberto, tendo por escudo protector nada mais que a confiança cega no intrínseco bem da humanidade. Faço-o com a coragem guerreira de quem sabe que, independentemente das consequências nefastas desta dita “exposição”,  ela vale a pena nem que seja apenas por o Francisco; e provavelmente o Paulo também,  estarem  a começar a apreciar verdadeiramente o tesouro de cada momento que passam com os seus  pais.
  Despeço-me agora… Vou em busca de novas aventuras e desventuras para partilhar convosco, na esperança confessa de mudar o Mundo… para melhor!
Ana Dias 

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