(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.8.13

Tanque de guerra e asas de anjo

Tanque de guerra e asas de anjo

- És um tanque de guerra! - disse-me ele há dias, ao telefone.
Desconfio que grande parte das mulheres não achasse grande piada a um elogio deste calibre. Normalmente todas preferem ser tratadas por " Meu amor", " minha flor", " princesa da minha vida" , " anjo lindo" , " rainha do meu coração"... o certo é que qualquer destes carinhos orais me causa logo refluxos.

- Continuas inteira? - perguntou-me ontem à noite, quando finalmente nos vimos.
- Os tanques de guerra não quebram, lembras-te?-
Gosto de estar casada com um homem que sabe que sou um tanque de guerra. Há conhecimentos de causa que poupam muitas chatices, daí ser tão boa esta sua consciência de que, para o bem e para o mal, levo sempre tudo à frente.

O verdadeiro problema está no bilhetinho que esta manhã encontrei ao meu lado: parece que durante o meu sono não soube esconder as asas...

Ana Amorim Dias

Sent with Writer.

Enriquecer

Enriquecer

O despertador toca. Dou um salto da cama. Volto a tombar nela, qual desamparada sequoia, só para me levantar de novo por não poder correr riscos: tenho que levar a minha sobrinha ao autocarro das dez.
No caminho pouco falamos. Sabe perfeitamente que é um risco falar comigo tão cedo. Ainda assim arrisca:
- Como te tem corrido a feira?-
- Bem.- respondo laconicamente.
Mas agora que acordei um pouco mais, vejo o quanto a resposta foi incompleta. Nem vendi muito nem pouco. Podia ter sido muito melhor e também podia ter sido pior. O que é factual é que conheci um montão de gente, fiz amigos (daqueles mesmo amigos), falei cinco línguas (o italiano não correu lá muito bem), desenvolvi métodos próprios (e eficientes) de produção/venda em cinco metros quadrados e ventosos. Em suma, trouxe dinheiro para casa, é verdade, mas acima de tudo fui feliz!
Por isso, Mariana, terás de ler esta crónica para teres a tua resposta. Sabes? Quem só se move por dinheiro e faz dele o derradeiro objetivo nunca chega a enriquecer de verdade!! Que te corra bem a prova, minha querida.

Ana Amorim Dias

Sent with Writer.

Os três ramos do cansaço

Os três ramos do cansaço

Tenho vindo a descobrir que o cansaço tem três ramos. Para desenvolver a teoria uso-me como cobaia.
Acontece-me com alguma frequência ter dezoito horas de trabalho seguidas e sempre em redline. Quando chego finalmente à cama doem-me músculos que desconhecia ter e a exaustão impede-me de adormecer de imediato. O cansaço físico é algo simples e limpo que se recupera com uma boa noite de sono que se possa prolongar manhã fora.
Depois existe o cansaço intelectual. Ao longo dos anos habituei-me a chamar-lhe "a nuvem" porque a sensação com que fico é a de ter uma nuvem cinzenta de chuva a trespassar-me o cérebro. Resulta normalmente de ter que pensar em mil e uma coisas, cobrir todas as possibilidades, gerir as funções de várias outras pessoas, verificar se tudo está minimamente perfeito, assegurar-me de que nada falta, encontrar soluções de última hora para imprevistos e por aí fora. Este cansaço mental desaparece com jornadas bem sucedidas, noites bem dormidas e zumba ou bodyboard.
O último ramo do cansaço é o emocional. O mais temível, perigoso e mortífero cansaço é o que nos rouba a paz de espírito, as gargalhadas da alma e a vontade de viver. Como por vezes se disfarça de apatia, inércia ou simples tristeza há quem não perceba que "apenas" se trata de cansaço emocional, ou seja, de já não se ter mais forças para lidar com a monotonia ou outras situações emocionalmente desgastantes que sugam o entusiasmo de viver até à ultima gota.
Não tenho fórmulas mágicas universais (quem sou eu para isso?) para se ultrapassar o problema, mas tenho o remédio santo para as raras ocasiões em que ele me atinge a mim: encontro novos projetos e interesses e, recordando-me da minha missão, sento-me e começo a escrever.

Ana Amorim Dias

Sent with Writer.