Mergulho na memória externa e começo a viagem ao passado.
Quem havia de dizer que a fotografia seria uma banalidade do dia a dia? As máquinas fotográficas abandonadas ao pó das gavetas e os rolos que deixaram de fazer parte da vida há já tantos , são só alguns indícios de como os daguerreótipos se tornaram quase tão diários e presentes como as refeições que diariamente se tomam.
Fotografias constantes. Prolixas. A comprovar cada momento. A servir de testemunho visual da pessoa que fomos. E do que vivemos.
Mergulho na memória externa e começo a abrir pastas. Relatos de cumplicidades. De festas. De sorrisos alegres ou de uma tristeza que ninguém soube ver. Provas da existência quem já não está. Documentos que atestam a veracidade de amizades que não mais se abraçam. Texturas não palpáveis do que já foi real. Temperaturas distintas. Focagens dispersas.
E lembranças. Muitas. Mais perenes e eternas que as imagens captadas. Memórias com cheiro, som e sabor. Com suspiros, carícias e promessas gemidas.
Mergulho nos álbuns ao som do “clic” das teclas. E vou desfolhando o passado que se rende ante o meu olhar pensativo: somos realmente quem ali se plasma? Ou quem ali mora é um fantasma de nós? Sentimos saudades de quem fomos? Sentirão os outros saudades, não de quem agora somos, mas de quem assim sorria para a objetiva da máquina?
Somos o produto, sempre inacabado, da soma de tudo o que fazemos, dizemos, escolhemos? Ou uma sucessão de frames espartilhados no tempo?
Mergulho nas pastas, repletas de fotos, e revivo cada momento. Quem lá está não são fantasmas, são os pedaços da vida que fazem de nós quem somos.
Ana Amorim Dias