(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

4.9.12

A receita




     Não há receita infalível para educar os filhos.  Não é justo: não há manual de intruções!  É que nem sequer um folhetozinho informativo com algumas dicas básicas.  Quando nos tornamos pais não fazemos mesmo a mínima ideia que a verdadeira aventura das nossas vidas acabou de começar.
    O que é afinal, educar uma criança para a vida?  Como se prepara um/a  menino/a para ser um/a adulto/a   feliz, decidido/a, inteligente e honrado/a?    Os pais  podem ter uma educação esmerada, uma cultura sólida e uma polidez invejável ; podem  ter um caráter nobre e uma força de vontade imaculada e,  ainda assim,  não estar preparados para o constante desafio que é acompanhar  estas pessoas pequeninas até se tornarem grandes indivíduos autónomos.  
   Não me faz confusão nenhuma que se eduquem  dois  (ou mais)   filhos da mesma exata maneira e eles tomem  rumos muito diferentes, mas não consigo conceber que haja pais que, perante os vários filhos,  tenham vários pesos e diferentes medidas.
   Sou mãe há dez anos e quase três meses e duplamente mãe há sete anos e tal. O que é que aprendi nestes surpreendentes anos?  Que não devo esperar que sejam iguais a mim e que não devo tentar moldá-los contra a sua essência .   Aprendi que  cada dia pode ser uma sucessão de canseiras, patifarias e raspanetes ou  pode ser simplesmente divino e repleto de ensinamentos.    Mas a mais importante aprendizagem foi perceber que  a soma das atitudes educativas    de  um progenitor  não tem que ser   férreamente imutável.   O ato de educar, desde os primeiros dias até bem depois do abandono do ninho, é um arame preso entre duas montanhas, que se vai percorrendo, pé ante pé, sem qualquer rede por baixo.   Temos que tatear o arame, sentir os humores do vento, ter uma fé enorme neles e  confiar no instinto.
   Educar é saber ralhar e conseguir aplaudir. Mas por vezes também é afagar quando era para se ralhar e ralhar quando era suposto aplaudir, se acaso tiverem capacidades para mais.  Educar é aprender a  deixar o outro ser ; é vergar um pouco a crista aos frangos sem nunca lhes tentar domar  a raça de puros sangues selvagens.   Educar é mostrar a diferença entre bem e mal; verdade e mentira; dinheiro e valor; prazer e suor.   É ensinar a acalmar os defeitos e a realçar as virtudes. Educar é confiar e transmitir confiança.
   Mas, por mais voltas que  dê à questão, continuo a dizer que a receita de  educar talvez seja, simplesmente,  acompanhá-los  a  aprender a ser quem são.
Ana Amorim Dias