Não há receita infalível para educar os filhos. Não é justo: não há manual de intruções! É que nem sequer um folhetozinho informativo com algumas dicas básicas. Quando nos tornamos pais não fazemos mesmo a mínima ideia que a verdadeira aventura das nossas vidas acabou de começar.
O que é afinal, educar uma criança para a vida? Como se prepara um/a menino/a para ser um/a adulto/a feliz, decidido/a, inteligente e honrado/a? Os pais podem ter uma educação esmerada, uma cultura sólida e uma polidez invejável ; podem ter um caráter nobre e uma força de vontade imaculada e, ainda assim, não estar preparados para o constante desafio que é acompanhar estas pessoas pequeninas até se tornarem grandes indivíduos autónomos.
Não me faz confusão nenhuma que se eduquem dois (ou mais) filhos da mesma exata maneira e eles tomem rumos muito diferentes, mas não consigo conceber que haja pais que, perante os vários filhos, tenham vários pesos e diferentes medidas.
Sou mãe há dez anos e quase três meses e duplamente mãe há sete anos e tal. O que é que aprendi nestes surpreendentes anos? Que não devo esperar que sejam iguais a mim e que não devo tentar moldá-los contra a sua essência . Aprendi que cada dia pode ser uma sucessão de canseiras, patifarias e raspanetes ou pode ser simplesmente divino e repleto de ensinamentos. Mas a mais importante aprendizagem foi perceber que a soma das atitudes educativas de um progenitor não tem que ser férreamente imutável. O ato de educar, desde os primeiros dias até bem depois do abandono do ninho, é um arame preso entre duas montanhas, que se vai percorrendo, pé ante pé, sem qualquer rede por baixo. Temos que tatear o arame, sentir os humores do vento, ter uma fé enorme neles e confiar no instinto.
Educar é saber ralhar e conseguir aplaudir. Mas por vezes também é afagar quando era para se ralhar e ralhar quando era suposto aplaudir, se acaso tiverem capacidades para mais. Educar é aprender a deixar o outro ser ; é vergar um pouco a crista aos frangos sem nunca lhes tentar domar a raça de puros sangues selvagens. Educar é mostrar a diferença entre bem e mal; verdade e mentira; dinheiro e valor; prazer e suor. É ensinar a acalmar os defeitos e a realçar as virtudes. Educar é confiar e transmitir confiança.
Mas, por mais voltas que dê à questão, continuo a dizer que a receita de educar talvez seja, simplesmente, acompanhá-los a aprender a ser quem são.
Ana Amorim Dias