(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

21.9.12

Feel immortal




    Atribuir frases e aforismos nem sempre é fácil, mas talvez seja  legítimo dar  a  Hemingway os créditos desta  pérola: “ For that moment when you are making love with a woman of true greatness you will feel immortal.” Ou então isto é apenas Ernest Heminguay by woody Allan. Não garanto nada. O tema de hoje não são os créditos e sim uma reflexão sobre o sumo que escorre desta oração.
    O sexo tem sido alvo de atentados incríveis. Por parte das religiões ( a essas volto um dia destes) e  da moral. Em última análise, por parte do Homem e da sua imensa estupidez.  Acredito nesta frase. Acredito que quando um homem faz amor com uma mulher grandiosa, chega a haver o momento em que se sente imortal: o fragmento de tempo em que transpõe a barreira do humano e roça na divindade.
   Quando um homem encontra uma mulher assim e conquista, mais que o corpo, toda a sua sua essência numa fusão inexplicável, ele torna-se mesmo num Deus imortal. Mesmo que só por momentos.  E ninguém me tira da ideia  que é  exatamente  isto que todos buscam sem saber. Muitas  vezes da forma errada, julgando que é na quantidade ou no mero contacto físico que tal sublimação se conquista. Mas não.  A imortalidade momentânea e  a supressão absoluta do medo da morte e da consciência de finitude só se atingem quando a grandiosidade feminina se entrega, para lá do corpo, com a própria essência. 
   É por isso que o sexo tem sido considerado algo feio; algo a ser castrado e  calado: porque é considerado perigoso que o Homem se transmute em Deus. Mesmo que só por momentos.
Ana Amorim Dias
 

Ganhar a vida




- És escritora? – Esta pergunta saiu sem espanto. Mas ele voltou ao ataque, desta vez meio incrédulo:  - Ganhas a vida a escrever??!? –
Fiquei calada. Muda. Seca de palavras. Respirei fundo três vezes e comecei a costurar a resposta.
“ Não. Claro que não. Casei com um gajo rico que me sustenta por isso faço o que me apetece.”   
Não era justo. Porque haveria  de mentir? Afinal a pergunta até é legítima.
“ Ganhar a vida a escrever?” podia eu responder com uma sonora gargalhada. E depois calava-me. A irónica risota seria, por si, a resposta.
Mas não sinto vontade. Nem de rir nem de ser irónica.
“ Não. Ganho a vida a fazer outras dez coisas diferentes; a trabalhar como uma doida em certas alturas para conseguir pagar as contas e guardar algum tempo para mim, para o que amo fazer.”
   Aqui estaria um pouco mais próxima da verdade. Mas ainda assim muito longe. Não seria justo. Tenho que ser verdadeira.
“ Sabes, rapaz? Sim, ganho a vida a escrever.  Mas não te confundas. Pago as contas com o fruto dos meus trabalhos que nada têm que ver com a escrita. E no entanto a vida, ganho-a  todos os dias… enquanto escrevo.”
Aí tens a resposta.
Ana Amorim Dias