Abro o jornal. Uma pequena notícia faz-me parar. Na Alemanha desenvolvem um VW Passat e e conseguem pô-lo na estrada sem condutor… controlado por computador. O título da notícia? “Carro sem condutor tem futuro”.
Título do meu pensamento? “ Mas que raio??...” A cada dia que passa vivemos mais no futuro. Mas até que ponto isso é bom? Neste caso em concreto, até acredito que haja pessoas para quem este futuro seja perfeito, mas para mim, é como uma condenação à privação de prazeres! Sempre que volto de viagem, a segunda coisa de que mais sinto a falta ( a primeira são os putos, claro!) e para a qual volto com uma satisfação inflamada, é para o prazer de conduzir. Se estou dois ou três pares de dia sem os comandos das viaturas, falta-me uma parte de mim, da minha auto-determinação… sinto-me quase amputada! Por isso posso dizer que este futuro possível, de que a notícia fala, não será por mim escolhido!
Mas há mais: penso como seria mandar o carro buscar os miúdos à escola… Até acredito na segurança e executabilidade, mas como reagiria a dita viatura quando eles começassem com as habituais implicâncias e tropelias no banco de trás? Acredito piamente que todos os fusíveis do carro e circuitos do computador que lhe desse as ordens se derreteriam antes da primeira rotunda!! Por outro lado começo a imaginar com quem implicariam certos condutores mais irascíveis, ao verificarem que o carro que os tinha ultrapassado de forma mais abrupta não tinha ninguém lá dentro… E acabo por me lembrar do Knight Rider – o Justiceiro- , a série televisiva dos anos oitenta, com o David Hasselhoff, em que carro e condutor, além de grandes amigos, eram uma dupla imparável no combate ao crime! Não consigo evitar o riso ao imaginar os meus carros com umas luzinhas vermelhas à frente, a meterem-se comigo de cada vez que páro numa sapataria para comprar mais um par de botas…
Na verdade, a grande ironia de tudo isto é ser a marca “carro do povo” a desenvolver este conceito que me parece tão descabido como a invenção de bananas que falam, para os miúdos não se esquecerem de as comer no lanche da meia manhã!!
Mas não posso evitar ressalvar-me com a hipótese de, talvez, daqui a duas ou três décadas, ir sentada no banco de trás a ler esta crónica ao meu carro que me “ouve” com atenção enquanto me conduz a uma qualquer apresentação de um novo romance… e me responde: “Ana: devias ter acreditado no futuro”…
Ana Dias