Marcar pontos
Assisti uma única vez aos treinos de futebol do Tomás. No final disse-lhe:
- Meu amor? Não tens jeitinho absolutamente nenhum! Devias mudar de desporto...-
Apesar de me terem chamado a atenção para tentar não colocar os factos de uma forma tão crua, tenho a certeza que agi bem. Se ele não servia para aquilo não era melhor confirmar-lhe uma certeza que ele se calhar até já tinha?
- Mãe... ok, eu deixo-te assistir ao jogo... Mas por favor: não comeces com as tuas loucuras!!-
Estou sentada a ver o jogo. O mais sossegadita que posso. Acabei de receber o sorriso rasgado de um filho feliz, veloz e ágil que, para o basquete, já tem jeito.
E não posso impedir-me de pensar que a frontalidade mais crua é, muitas vezes, a que vem a potenciar que mais e melhores pontos se marquem.
Ana Amorim Dias
(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...
Ana Amorim Dias
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...
Ana Amorim Dias
20.10.13
Terapia de choque
Saí esta manhã de casa e lá estavam eles: a cheirar tudo com uma curiosidade espantada que o barulho dos meus tacões assustou. Embora tenha ficado com pena por não ter conseguido captar a imagem cómica dos foragidos porquitos, agradeci-lhes em silêncio a visita... É que foi ela que me potenciou um poderoso regresso ao passado.
Passou-se há muitos anos. Quando eu era ainda uma citadina criatura, completamente inadaptada às duras realidades campestres.
- Vamos capar porcos, queres vir?- perguntou o avô João.
Passei muitos anos a tentar perceber as razões daquele meu "sim". Teria sido para o tentar impressionar? Teria sido obra da constante vontade de perceber como tudo funciona? Ou apenas a consciência do enorme poder das terapias de choque?
Momentos depois estava dentro das pocilgas com eles. O Ricardo a agarrar o porco; o avô a "tratar" do assunto e eu a dar assistência. A certa altura, no meio de desinfeções, cortes e guinchos, o avô João, por não ter mais onde o colocar, estendeu-me o órgão ovalado e ainda quente que, por instinto, recebi na minha mão.
Poderia deter-me aqui e fazer uma série de analogias interessantes quanto ao facto de se conseguir ter túbaros na mão. Mas não. O importante foi saber deter-me naquele momento específico (que até poderia ter sido traumático) e conseguir abraçar todo o seu grande valor mesmo sem o entender por completo.
Hoje, tantos anos depois, vejo como a menina da cidade se soube adaptar aos desafios do campo e compreendo a razão de ser daquele meu "sim". É que eu, mesmo sem saber, já sabia que a vida tem que ser mais que "enfrentar o touro pelos cornos"; tem que ser também agarrá-la a ela pelos túbaros.
Ana Amorim Dias
Passou-se há muitos anos. Quando eu era ainda uma citadina criatura, completamente inadaptada às duras realidades campestres.
- Vamos capar porcos, queres vir?- perguntou o avô João.
Passei muitos anos a tentar perceber as razões daquele meu "sim". Teria sido para o tentar impressionar? Teria sido obra da constante vontade de perceber como tudo funciona? Ou apenas a consciência do enorme poder das terapias de choque?
Momentos depois estava dentro das pocilgas com eles. O Ricardo a agarrar o porco; o avô a "tratar" do assunto e eu a dar assistência. A certa altura, no meio de desinfeções, cortes e guinchos, o avô João, por não ter mais onde o colocar, estendeu-me o órgão ovalado e ainda quente que, por instinto, recebi na minha mão.
Poderia deter-me aqui e fazer uma série de analogias interessantes quanto ao facto de se conseguir ter túbaros na mão. Mas não. O importante foi saber deter-me naquele momento específico (que até poderia ter sido traumático) e conseguir abraçar todo o seu grande valor mesmo sem o entender por completo.
Hoje, tantos anos depois, vejo como a menina da cidade se soube adaptar aos desafios do campo e compreendo a razão de ser daquele meu "sim". É que eu, mesmo sem saber, já sabia que a vida tem que ser mais que "enfrentar o touro pelos cornos"; tem que ser também agarrá-la a ela pelos túbaros.
Ana Amorim Dias
Das trevas para a luz
Das trevas para a luz
Liguei-lhe ainda antes das dez da manhã. Não sei há quantos meses não falávamos. Há muitos...
- Ana!! Passa-se alguma coisa? Eu vou já para baixo!!-
- Calma, querida! Não se passa nada. - ela quase não me deixava falar.
- Nem precisas de dizer o que é! Eu arranco já para o Algarve e vamos resolver o problema!
Por esta altura já eu estava engasgada em gargalhadas.
- Sim, Angela, eu sei: há as pessoas que criam os problemas e as que resolvem os problemas...
- ...e nós resolvemos problemas!- terminámos em coro.
A hora seguinte foi, como sempre, de uma cumplicidade, alegria e entendimento para lá do explicável e, no entanto, tão comuns como o são (felizmente que para isto ainda não criaram imposto) as grandes amizades.
Hoje acordei a pensar em ti. O cheiro extasiante da terra molhada e o encantador paradoxo do sol a desfazer o nevoeiro, trouxeram-me à memória muito do que vivemos juntas. Ao som das músicas que sempre me banham os dias, realizei um filme mental de uma beleza ímpar. E detive-me num momento, fraturado no tempo, há tantos anos atrás que parece ter sido numa outra vida qualquer...
Entraste no meu quarto, com o entusiasmo de sempre, a falar sem parar. E de repente gelaste: eu chorava copiosamente, já não me lembro porquê. A tua aflição por veres a "rocha de alegria e força" a chorar, foi tão grande e genuína que não pude impedir-me e comecei a rir por entre as lágrimas. lembras-te?
A amizade é isto! É ir ao cabo do mundo sem precisar de saber a razão. É uma amálgama de paradoxos incríveis que nos faz duvidar de toda a lógica. É a paixão incorpórea mais genuína e valiosa; aquela nos faz entender que existe quem nos consiga fazer voltar das trevas para a luz... com apenas um olhar.
E sabes que mais? Que se lixem os erróneos entendimentos! Eu amo-te!
Ana Amorim Dias
Liguei-lhe ainda antes das dez da manhã. Não sei há quantos meses não falávamos. Há muitos...
- Ana!! Passa-se alguma coisa? Eu vou já para baixo!!-
- Calma, querida! Não se passa nada. - ela quase não me deixava falar.
- Nem precisas de dizer o que é! Eu arranco já para o Algarve e vamos resolver o problema!
Por esta altura já eu estava engasgada em gargalhadas.
- Sim, Angela, eu sei: há as pessoas que criam os problemas e as que resolvem os problemas...
- ...e nós resolvemos problemas!- terminámos em coro.
A hora seguinte foi, como sempre, de uma cumplicidade, alegria e entendimento para lá do explicável e, no entanto, tão comuns como o são (felizmente que para isto ainda não criaram imposto) as grandes amizades.
Hoje acordei a pensar em ti. O cheiro extasiante da terra molhada e o encantador paradoxo do sol a desfazer o nevoeiro, trouxeram-me à memória muito do que vivemos juntas. Ao som das músicas que sempre me banham os dias, realizei um filme mental de uma beleza ímpar. E detive-me num momento, fraturado no tempo, há tantos anos atrás que parece ter sido numa outra vida qualquer...
Entraste no meu quarto, com o entusiasmo de sempre, a falar sem parar. E de repente gelaste: eu chorava copiosamente, já não me lembro porquê. A tua aflição por veres a "rocha de alegria e força" a chorar, foi tão grande e genuína que não pude impedir-me e comecei a rir por entre as lágrimas. lembras-te?
A amizade é isto! É ir ao cabo do mundo sem precisar de saber a razão. É uma amálgama de paradoxos incríveis que nos faz duvidar de toda a lógica. É a paixão incorpórea mais genuína e valiosa; aquela nos faz entender que existe quem nos consiga fazer voltar das trevas para a luz... com apenas um olhar.
E sabes que mais? Que se lixem os erróneos entendimentos! Eu amo-te!
Ana Amorim Dias
Fora do horário letivo
Fora do horário letivo
Com um filho de cada lado, consegui estender o braço até à mesinha se cabeceira. Peguei no comando para que a aparelhagem fizesse soar, aleatoriamente, uma música. E o Jorge Palma começou a narrar, com excelente melodia e ritmo, "Jeremias, o fora da lei".
- Mãe, põe outra vez!-
Não se nega boa música às criancinhas. Soou de novo e de novo e de novo até que, ao vestir-me, o espírito de fora da lei havia tomado conta de mim e as calças eleitas foram as mais rasgadas.
- Escolhe aí um CD, Tom.- pedi, quando entrámos para o carro.
Estendeu-me um dos DOORS e os meus olhos brilharam. "Ainda o dia mal começou e já conspiras a meu favor, Universo?"
- O quê, mãe?-
- Nada, nada...-
Fui todo o caminho para a escola a falar-lhes um pouco do Jim; inspirá-los com a genialidade que o som testemunhava e a tentar explicar-lhes porque é que há pessoas que não sabem lidar com a "atração do abismo". E agora, enquanto escrevo, percebo que da mesma maneira que nunca outras músicas foram tão capazes de fomentar a liberdade da alma... também nunca nada será tão poderoso, para a formação de uma criança, como as "aulas" que os pais lhes conseguem dar, fora do horário letivo.
Ana Amorim Dias
Com um filho de cada lado, consegui estender o braço até à mesinha se cabeceira. Peguei no comando para que a aparelhagem fizesse soar, aleatoriamente, uma música. E o Jorge Palma começou a narrar, com excelente melodia e ritmo, "Jeremias, o fora da lei".
- Mãe, põe outra vez!-
Não se nega boa música às criancinhas. Soou de novo e de novo e de novo até que, ao vestir-me, o espírito de fora da lei havia tomado conta de mim e as calças eleitas foram as mais rasgadas.
- Escolhe aí um CD, Tom.- pedi, quando entrámos para o carro.
Estendeu-me um dos DOORS e os meus olhos brilharam. "Ainda o dia mal começou e já conspiras a meu favor, Universo?"
- O quê, mãe?-
- Nada, nada...-
Fui todo o caminho para a escola a falar-lhes um pouco do Jim; inspirá-los com a genialidade que o som testemunhava e a tentar explicar-lhes porque é que há pessoas que não sabem lidar com a "atração do abismo". E agora, enquanto escrevo, percebo que da mesma maneira que nunca outras músicas foram tão capazes de fomentar a liberdade da alma... também nunca nada será tão poderoso, para a formação de uma criança, como as "aulas" que os pais lhes conseguem dar, fora do horário letivo.
Ana Amorim Dias
Esgrimir o tédio
- Bom dia, meninos!...Buon giorno... E dzień dobry!
Nesta altura começaram logo a bater palmas; ninguém estava à espera de um bom dia em polaco (desculpem mas sou incapaz se dizer "polonês")
Queria transmitir àqueles miúdos, nem que fosse só um bocadinho, a noção da importância da comunicação e o que ela pode fazer por nós.
Atirei-me de cabeça na conquista daquele difícil e mesclado público que me ouvia numa língua não materna.
- Vou-vos contar a história de como me transformei numa super-heroína...- comecei.
Agora que me lembro da cara de alguns, garanto-vos que me farto de rir. Ficaram tão embasbacados que tiveram de decidir depressa se estavam a entender mal ou se eu era apenas uma louca que ali entrara por engano. Mas prendi-lhes a atenção. ...Bem, pelo menos durante um bocado.
Estava no escritório, a imprimir uns documentos e, por obra do acaso, olhei para cima de um armário. E lá estava ele! O meu sabre desaparecido!
Levantei-me de rompante, saí para a rua e, mesmo ali no meio da quinta, perante o olhar estupefacto de algumas pessoas, comecei a esgrimir "em seco" contra inimigos imaginários.
Saí um pouco triste da palestra que, há dias, fui dar àqueles adolescentes: a falta de entusiasmo que lhes senti, por pouco não me contagiava. Como é que se pode ser tão jovem e inocente sem estar absolutamente entusiasmado pela vida? Serão a falta de empenho, energia e entusiasmo, algumas das maiores catástrofes do mundo atual? Fiquei triste, desiludida e preocupada. Estaremos a viver numa sociedade assim tão aborrecida que faz de todos meros recetores de produtos acabados que desconhecem o prazer dos processos criativos?
Passei largos momentos a matar saudades do sabre e a deixar sair, livre, o samurai que há em mi. Super-heroína ou não, sei que assumi o compromisso de esgrimir eternamente contra o invisível tédio... O meu e o alheio!
Ana Amorim Dias
Enviado do Writer
Nesta altura começaram logo a bater palmas; ninguém estava à espera de um bom dia em polaco (desculpem mas sou incapaz se dizer "polonês")
Queria transmitir àqueles miúdos, nem que fosse só um bocadinho, a noção da importância da comunicação e o que ela pode fazer por nós.
Atirei-me de cabeça na conquista daquele difícil e mesclado público que me ouvia numa língua não materna.
- Vou-vos contar a história de como me transformei numa super-heroína...- comecei.
Agora que me lembro da cara de alguns, garanto-vos que me farto de rir. Ficaram tão embasbacados que tiveram de decidir depressa se estavam a entender mal ou se eu era apenas uma louca que ali entrara por engano. Mas prendi-lhes a atenção. ...Bem, pelo menos durante um bocado.
Estava no escritório, a imprimir uns documentos e, por obra do acaso, olhei para cima de um armário. E lá estava ele! O meu sabre desaparecido!
Levantei-me de rompante, saí para a rua e, mesmo ali no meio da quinta, perante o olhar estupefacto de algumas pessoas, comecei a esgrimir "em seco" contra inimigos imaginários.
Saí um pouco triste da palestra que, há dias, fui dar àqueles adolescentes: a falta de entusiasmo que lhes senti, por pouco não me contagiava. Como é que se pode ser tão jovem e inocente sem estar absolutamente entusiasmado pela vida? Serão a falta de empenho, energia e entusiasmo, algumas das maiores catástrofes do mundo atual? Fiquei triste, desiludida e preocupada. Estaremos a viver numa sociedade assim tão aborrecida que faz de todos meros recetores de produtos acabados que desconhecem o prazer dos processos criativos?
Passei largos momentos a matar saudades do sabre e a deixar sair, livre, o samurai que há em mi. Super-heroína ou não, sei que assumi o compromisso de esgrimir eternamente contra o invisível tédio... O meu e o alheio!
Ana Amorim Dias
Enviado do Writer
Em inglês
Em inglês
- E sabe falar inglês, não sabe? É que a língua oficial deste evento é o inglês.-
- Não se preocupe. Falarei em inglês.- tinha acabado de aceitar o convite para dar uma pequena palestra sobre o meu ofício a adolescentes de várias nacionalidades.
- Esteja cá na terça, por volta das dez e vinte.
- Combinado.
Daqui a pouco são dez e vinte e surgem-me duas questões.
Como é que miúdos polacos, italianos e portugueses me vão entender em inglês?
O que é que lhes vou dizer durante uma hora?
As duas questões fundem-se e são de muito simples resposta. Não posso perder de vista, nem por um segundo, a mais inflamada necessidade que me norteia sempre: inspirar os outros a viver uma vida mais emocionante e significativa. Quanto às barreiras linguísticas que o seu parco entendimento do inglês possa acarretar, isso só me vem ajudar; é que quando a comunicação por palavras se torna mais complicada, temos que acionar de verdade toda a energia interior para passar a nossa mensagem... e ela ainda se propaga melhor.
Jamais voltaria as costas à oportunidade de falar para um grupo de adolescentes. Quer me compreendam bem ou me tenha que "esfolar" por isso, vou fazê-los entender que, quando nos reinventamos como nossos supremos heróis, a vida se torna épica.
Ana Amorim Dias
Enviado do Writer
Enviado via iPad
- E sabe falar inglês, não sabe? É que a língua oficial deste evento é o inglês.-
- Não se preocupe. Falarei em inglês.- tinha acabado de aceitar o convite para dar uma pequena palestra sobre o meu ofício a adolescentes de várias nacionalidades.
- Esteja cá na terça, por volta das dez e vinte.
- Combinado.
Daqui a pouco são dez e vinte e surgem-me duas questões.
Como é que miúdos polacos, italianos e portugueses me vão entender em inglês?
O que é que lhes vou dizer durante uma hora?
As duas questões fundem-se e são de muito simples resposta. Não posso perder de vista, nem por um segundo, a mais inflamada necessidade que me norteia sempre: inspirar os outros a viver uma vida mais emocionante e significativa. Quanto às barreiras linguísticas que o seu parco entendimento do inglês possa acarretar, isso só me vem ajudar; é que quando a comunicação por palavras se torna mais complicada, temos que acionar de verdade toda a energia interior para passar a nossa mensagem... e ela ainda se propaga melhor.
Jamais voltaria as costas à oportunidade de falar para um grupo de adolescentes. Quer me compreendam bem ou me tenha que "esfolar" por isso, vou fazê-los entender que, quando nos reinventamos como nossos supremos heróis, a vida se torna épica.
Ana Amorim Dias
Enviado do Writer
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Mulheres da minha vida - A fábula -
Mulheres da minha vida - a fábula-
Ao contrário do que aconteceu no domingo anterior, ontem "vesti-me" de fada e, munida de música como varinha de condão, dei uma tal "reviravolta" à casa que ela ficou a parecer um palácio das mil e uma noites.
No fim da tarefa, enquanto esperava pelos meus três meninos para irmos almoçar, sentei-me na bancada da cozinha a degustar maçã com queijo e a ver velhos álbuns de fotografias. Até que me deparei com esta e pensei: "olha, as mulheres da minha vida..."
Continuo a ver a minha mãe com os meus olhos de criança maravilhada: como um Ser etéreo, demasiado magnífico para poder ser real; como a princesa mágica que deslizava pela casa com o seu robe de seda salmão, a parecer uma visão fantástica. E lembro-me de ficar a olhar para aquela mulher alta e lindíssima, fascinada pelo facto de a ter como mãe.
- Tu vais ser escritora!- disse-me a minha irmã, sentada no almofadão do quarto, debatendo-se com um livro de matemática e um pacote de batatas fritas, enquanto ouvíamos os "Police".
- Eu? - perguntei na incredulidade dos meus seis anos.
- Sim. Tenho a certeza! Além do mais, tu podes ser tudo aquilo que sonhares...
Os anos passam. A vida muda. A visão fica.
A colossal influência das mulheres da minha vida continua gravada em mim em forma de bênçãos. Incontáveis. Valiosas. Inexplicáveis. Talvez seja daí que me chega a certeza de que as verei para todo o sempre como dois Seres fantásticos que, embora reais, só podem ter vindo do mais encantador dos reinos da fantasia.
Ana Amorim Dias
Ao contrário do que aconteceu no domingo anterior, ontem "vesti-me" de fada e, munida de música como varinha de condão, dei uma tal "reviravolta" à casa que ela ficou a parecer um palácio das mil e uma noites.
No fim da tarefa, enquanto esperava pelos meus três meninos para irmos almoçar, sentei-me na bancada da cozinha a degustar maçã com queijo e a ver velhos álbuns de fotografias. Até que me deparei com esta e pensei: "olha, as mulheres da minha vida..."
Continuo a ver a minha mãe com os meus olhos de criança maravilhada: como um Ser etéreo, demasiado magnífico para poder ser real; como a princesa mágica que deslizava pela casa com o seu robe de seda salmão, a parecer uma visão fantástica. E lembro-me de ficar a olhar para aquela mulher alta e lindíssima, fascinada pelo facto de a ter como mãe.
- Tu vais ser escritora!- disse-me a minha irmã, sentada no almofadão do quarto, debatendo-se com um livro de matemática e um pacote de batatas fritas, enquanto ouvíamos os "Police".
- Eu? - perguntei na incredulidade dos meus seis anos.
- Sim. Tenho a certeza! Além do mais, tu podes ser tudo aquilo que sonhares...
Os anos passam. A vida muda. A visão fica.
A colossal influência das mulheres da minha vida continua gravada em mim em forma de bênçãos. Incontáveis. Valiosas. Inexplicáveis. Talvez seja daí que me chega a certeza de que as verei para todo o sempre como dois Seres fantásticos que, embora reais, só podem ter vindo do mais encantador dos reinos da fantasia.
Ana Amorim Dias
A mensagem
A mensagem
Estávamos os dois na sala, espalhados pelos sofás, sem prestar muita atenção à televisão.
O telefone soou com convicção.
- Isto é o som do teu?-
- Não. E do teu também não...-
Olhei melhor. Estendi a mão, peguei no telefone do Tomás e li: tem 1 mensagem nova de "menina x" (a menina X tinha nome, mas prefiro manter-me em "segurança" e não o escrever aqui). Passei o telefone ao Ricardo que sorriu e o colocou de volta no sítio.
- Já começa...- foi tudo o que disse.
Quando entrou em casa, o Tomás agarrou no telefone e atirou-se para o sofá... e eu a observar a cena com olhos de predador. Olhou. Pousou. Inclinou a cabeça para trás e esboçou uma amostra de sorriso corado. Voltou a olhar mas sem abrir a mensagem.
- Tomás! Tomáhás! Quem é a "menina X"? - perguntei como se fosse sua irmã mais nova.
- OH MÃEE!!- e riu-se, feliz.
Curiosamente não me estou a lembrar de nenhuma analogia, alegoria ou metáfora na qual possa introduzir este episódio. Se calhar é mesmo assim; se calhar há situações e momentos em que nada mais há a dizer: basta ficar num silêncio feliz... a observá-los a crescer.
Ana Amorim Dias
Estávamos os dois na sala, espalhados pelos sofás, sem prestar muita atenção à televisão.
O telefone soou com convicção.
- Isto é o som do teu?-
- Não. E do teu também não...-
Olhei melhor. Estendi a mão, peguei no telefone do Tomás e li: tem 1 mensagem nova de "menina x" (a menina X tinha nome, mas prefiro manter-me em "segurança" e não o escrever aqui). Passei o telefone ao Ricardo que sorriu e o colocou de volta no sítio.
- Já começa...- foi tudo o que disse.
Quando entrou em casa, o Tomás agarrou no telefone e atirou-se para o sofá... e eu a observar a cena com olhos de predador. Olhou. Pousou. Inclinou a cabeça para trás e esboçou uma amostra de sorriso corado. Voltou a olhar mas sem abrir a mensagem.
- Tomás! Tomáhás! Quem é a "menina X"? - perguntei como se fosse sua irmã mais nova.
- OH MÃEE!!- e riu-se, feliz.
Curiosamente não me estou a lembrar de nenhuma analogia, alegoria ou metáfora na qual possa introduzir este episódio. Se calhar é mesmo assim; se calhar há situações e momentos em que nada mais há a dizer: basta ficar num silêncio feliz... a observá-los a crescer.
Ana Amorim Dias
Fora da caixa
Fora da caixa
"Pensa fora da caixa" está muito visto, banalizou-se. A expressão perde a sua coerência de grande sabedoria no simples facto de as pessoas, por regra, pensarem "fora da caixa". Pensar é fácil, quase tão fácil como sentarmo-nos a sonhar; o complicado mesmo é existir. EXISTIR FORA DA CAIXA. Como é que isso se faz, afinal? E, muito importante, o que é a caixa? É uma vida monótona e sem grande sentido? É o nosso corpo? São os grilhões que aceitamos que nos prendam?
Tentando colocar as coisas de uma maneira tão simples como sempre, vou partir do princípio que pensar fora da caixa é ver mais além, é sonhar e perceber que existe mais, muito mais, para lá daquilo que nos rodeia. E existir fora da caixa? A resposta parece-me óbvia e, embora possa parecer paradoxal, faz sentido. Existir fora da caixa é existir no plano da própria essência, do que há de mais intrínseco em nós. É existir para o encontro profundo connosco e com todo o "grande desconhecido" que em nós se encerra. Existir fora da caixa é seguir instintos e impulsos; é deitar a língua de fora aos medos e rir de quem goza com a nossa "inconsciência". Existir fora da caixa é conseguir encarar cada dia como uma aventura incrível; é deixar marcas nos outros de tanto deixar que eles nos toquem; é ver para lá do visível e dizer para além do dizível; é sentir o nosso divino interior numa sintonia universal.
Pensar fora da caixa, sim, mas saindo dela de facto...
Ana Amorim Dias
Enviado do Writer
"Pensa fora da caixa" está muito visto, banalizou-se. A expressão perde a sua coerência de grande sabedoria no simples facto de as pessoas, por regra, pensarem "fora da caixa". Pensar é fácil, quase tão fácil como sentarmo-nos a sonhar; o complicado mesmo é existir. EXISTIR FORA DA CAIXA. Como é que isso se faz, afinal? E, muito importante, o que é a caixa? É uma vida monótona e sem grande sentido? É o nosso corpo? São os grilhões que aceitamos que nos prendam?
Tentando colocar as coisas de uma maneira tão simples como sempre, vou partir do princípio que pensar fora da caixa é ver mais além, é sonhar e perceber que existe mais, muito mais, para lá daquilo que nos rodeia. E existir fora da caixa? A resposta parece-me óbvia e, embora possa parecer paradoxal, faz sentido. Existir fora da caixa é existir no plano da própria essência, do que há de mais intrínseco em nós. É existir para o encontro profundo connosco e com todo o "grande desconhecido" que em nós se encerra. Existir fora da caixa é seguir instintos e impulsos; é deitar a língua de fora aos medos e rir de quem goza com a nossa "inconsciência". Existir fora da caixa é conseguir encarar cada dia como uma aventura incrível; é deixar marcas nos outros de tanto deixar que eles nos toquem; é ver para lá do visível e dizer para além do dizível; é sentir o nosso divino interior numa sintonia universal.
Pensar fora da caixa, sim, mas saindo dela de facto...
Ana Amorim Dias
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