(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

14.10.11

Lost in translation

    Quando o meu sobrinho mais velho estava a estudar em Inglaterra, não percebeu à primeira a razão de não ser entendido quando perguntou se era preciso usar um “monkeysuit”. As gargalhadas correram velozes quando, depois de se explicar por outras palavras, percebeu que,  em inglês,  é jumpsuit que se diz, e não fato de macaco traduzido à letra….
   Mas há outras ocasiões em que o desvirtuar do sentido das palavras proferidas nos deixa com um sorriso amarelo e as bochecas coradas de vergonha, como me aconteceu num jantar em casa de uns amigos ingleses que quis pôr à vontade revelando que gosto de todas as comidas. Ora se em bom português é absolutamente inócuo dizer-se que se é de boa boca, em inglês, dizer – “ I’m a good mouth” – deixou-os com uma palidez assustadora e a boca aberta de espanto por eu estar a ser tão inconveniente, a vangloriar-me à mesa de habilidades que não devem sair do recato dos intervenientes envolvidos em tais atividades!
   Mas há tantos outros casos… Por exemplo: os habitantes do Tibete e outras terras altas, será que gastam todas as economias e saúde em substâncias proibidas para estarem sempre”high”?  E o que dizer dos músicos que tocam instrumentos de sopro… serão perversos por terem um “blow job”?
   Enfim, há situações caricatas, cómicas até, quando nos “perdemos” na tradução. Poderia dizer que o que se perde é o sentido daquilo que pretendemos transmitir, mas insisto no “perdemo-nos” porque ficamos, realmente, perdidos!
  Se um espanhol nos disser que foi a um restaurante “exquisito”, a nossa primeira tendência é pensar: - “ ainda bem que avisas que assim já lá não vou” – e, no entanto ,  estaremos a perder uma experiência gastronómica excelente…
  Ou se um natural do norte do pais sai de casa, de manhã, e diz ao telefone a um amigo mais mouro: “ fuodass… tá um dia do carago!”, o mais certo é que, do outro lado da linha, pensem que há uma tormenta de proporções bíblicas.
  E se alguém adjetivar outrem de fleumático ou peremptório  e receber injúrias em troca?
   No fundo we can be lost in translation  independentemente da lingua ou dialeto!  A qualquer momento pode surgir a calamidade de não sermos entendidos e gerar-se a confusão de nos interpretarem erroneamente. Basta um tom de voz mais irónico ou palavras vagas para a confusão se instalar… Por isso,  meus caros, quando tiverem algo realmente importante a dizer, escolham bem as palavras e digam-no de várias maneiras diferentes… pode ser que assim não se percam…. os verdadeiros sentidos!
Ana Dias