(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.2.12

Saber feito emoção


   Os livros forravam a parede da sala. Enormes, de capa grossa, as lombadas gravadas de nomes estranhos  com que fui povoando a minha infância. Abria-os e via, no seu interior, as imagens das que os grandes pintores tinham pintado.
   Não me lembro de ter decidido,  nessa época, que um dia veria os originais, mas sei que a reverência à arte me ficou gravada cá dentro. Não me lembro de quantas vezes mirei, estupefacta, as fotografias dos artistas e  suas obras, mas recordo os cheiros desses livros e a forma como se interiorizou em mim a importância daquelas pessoas…
   Há alguns dias, no Museu de Belas Artes de Buenos Aires, dei por mim a pensar nos porquês de me arrepiar por dentro e por fora, na presença dos quadros e esculturas dos grandes ( e pequenos) nomes da arte. Enquanto me detinha, profundamente emocionada como sempre nessas ocasiões,  perante obras de Van Gogh, Monet, Degas, Gauguin, Renoir e Loutrec, concluí que o que dá um especial sabor às artes plásticas é o facto de os artistas terem, de facto, estado em contacto físico com as obras. Quando oiço um cd  do Frank ou leio um livro do Hemingway, sei que eles não tocaram nos objetos do meu prazer, que são apenas cópias. Mas quando estou perante a Pietá, o Pensador ou Las Niñas, sei que o Miguel Ângelo, o Rodin e o Velazquez estiveram perante aqueles objetos, a derramar sobre eles toda a sua genialidade. E isso emociona-me profundamente!
  Será tal efeito causado pela biblioteca que tive a fortuna de ter em casa durante a infância? Será por ter nascido de pais formados em Belas Artes que me souberam transmitir tais valores? Ou será apenas por saber um pouco sobre a vida, obra e importância de tais artistas no Mundo?
   E então, enquanto ia deslizando numa nuvem de prazer pelas galerias de mais um fantástico museu, ocorreu-me que talvez a emoção nos venha do conhecimento e, se assim é, quero conhecer e saber cada vez mais, para melhor me poder emocionar…
Ana Dias