(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

22.7.12

Ouvi com os meus próprios olhos!



   Ia eu a guiar,com os meus dois anjos no banco de trás, quando oiço o Tomás a rematar a ocorrência que tinha acabado de me narrar: - Juro que ele disse isso,  mãe! Eu ouvi com os meus próprios olhos!! –
    Rebentei em gargalhadas  e ainda o ouvi perguntar: - Vai dar crónica, não vai mãe? -  Mas não lhe respondi porque fiz uma travagem (suave) para não matar um camaleão que seguia, sereno, o seu caminho.   Liguei os piscas, encostei o carro à berma e disse aos meus caçadores para apanharem o animal para repovoarmos a Quinta pois já há algum tempo que não  viamos por lá nenhum Tobias ( todos os camaleões da Quinta são batizados assim, mas não me perguntem porquê).
   Sucedeu que nem um nem outro se sentiram  confortáveis com os ferozes sopros do Tobias XVI, que se escapou para debaixo do carro. Arrancámos de novo, devagarinho, e o Tobias XVI lá saltou. Voltei a parar, a ligar os piscas e a enviar os meus caçadores de dragões naquela difícil missão. Mas,  para grande espanto meu,  faltou-lhes a coragem e lá tive eu que sair do carro e agarrar o animal pelo lombo. Meti-o dentro da mochila do lanche do João para o soltar no pinheiro mais próximo de casa, onde estavamos quase a chegar.
- Mas vocês, dois moços do campo, tão safos e corajosos, não tiveram capacidade para apanhar um mero camaleão?!?  Nem parece vosso, meninos! – Ralhei eu, genuinamente desapontada.  – Parece mentira, ter sido eu a apanhá-lo! –
- Óh mãe… Tu és mesmo nossa mãe! – Disse o Tom,  muito orgulhoso.   
  Juro que me deu este perfeito elogio. Juro porque eu ouvi… com os meus próprios olhos!
Ana Amorim Dias