(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

3.10.11

Amanhã pode ser tarde...


    Ontem almocei de novo com o Vítor, o grande amigo,  de toda a vida, do meu pai. Quando o meu filho mais velho me perguntou quem era, respondi-lhe: - Este senhor era o João Paulinho do teu avô…. – E o Tomás, ao ouvir-me a proferir o nome do seu melhor amigo, compreendeu de imediato o valor daquela presença.
    A dada altura o Vítor, comovido, disse-me que revê muito o meu pai em mim. Fiquei feliz. Sei que, para o bem e para o mal, é uma verdade irrefutável. E, durante as poucas horas que passamos juntos, senti-lhe de novo a dor de ter esperado tanto tempo para rever o amigo João… Porque não chegou a tempo…
   E vou dizer-vos algo porque é importante que pensem: os que nos são mais queridos continuam a amar-nos sempre. Por mais que a distância e os anos separem amigos, há amizades  intocáveis!   Mas qual é o peso na nossa inércia? Qual é o sentido de dizermos a nós mesmos que não podemos ir ao outro lado do mundo ver AQUELE amigo porque não há dinheiro ou tempo ou condições?  Vou deixar-vos um desafio… sabem aquele grande amigo (que será vosso amigo para sempre, neste mundo ou no outro) que não vêem há tanto tempo?  Vão vê-lo!! Esteja ele na rua de cima ou nas profundezas da selva amazonica!  Juntem os trocos que andam a guardar para comprar o plasma maior e, se não puderem ir com a família toda, vão sozinhos!  Mesmo que seja só por uma hora ou dois ou três dias, vão vê-lo… porque amanhã podem não ter saúde para ir. Amanhã podem já não o encontrar, sorridente, à vossa espera…
   É por isso que vou ver a minha tia/grande amiga, que há tantos anos não vejo… Porque amanhã uma de nós pode já não estar cá…. É por isso que quero ver todos os que amo sempre que posso…
   Quanto ao meu filho e ao seu grande amigo, o João Paulinho,  que vivem a trezentos km um do outro, hei-de fazer os possíveis para lhes proporcionar mais tempo juntos.
   E tu, Vítor, grande amigo, pára de lamentar não teres vindo a tempo…. Posso ser  uma mera lembrança fugaz de tudo o que o meu pai foi para ti… mas devotar-te-ei para sempre a continuação da amizade que o João te tinha.
Ana Dias