(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.6.12

Lendas de Paixão


  Quando vi pela primeira vez o filme “Legends of the fall” fiquei incomodada. Durante bastante tempo andei às voltas para perceber o que me perturbou daquela maneira. A princípio pensei que era a voz do urso, que soava dentro do Tristan: temi que também o meu amor ouvisse dentro de si igual rugido e que este o pudesse levar de mim, até aos confins do mundo, na conturbada busca de algo inatingível.
  De vez em quando volto a ver o filme.  Mas já não fico incomodada com a rebeldia sofrida do herói a quem o Brad Pitt emprestou o seu corpo. Há muito que percebi o porquê do meu incómodo que, por isso mesmo, foi ultrapassado.  É que, tal como o Tristan, também  em mim soa a voz do Urso. Aquela voz selvagem que nos leva por caminhos inesperados e inexplorados  que temos que percorrer sozinhos. Aquela voz que existe em todos e em cada um de nós, mas que a maioria teima em fingir que não ouve, perdendo por isso a possibilidade fabulosa  de viver… numa lenda de paixão.
Ana Amorim Dias

28.6.12

O culpado


   As constipações de Verão são lixadas. Uma pessoa passa a noite sem  poder ligar o ar condicionado, com a garganta seca e o nariz totalmente entupido.  Ouvem-se os barulhinhos todos. Os que soam e os que apenas imaginamos.  Contamos as pintinhas da parede, as canas do teto e percebemos que o pó já se instalou de novo sobre os móveis, ainda há pouco tempo limpos.
   Depois lá se dormita um bocadinho. Um sono leve e inquieto que não premeia o descanso. Três e um quarto. Gotas para o nariz. Quatro e vinte. Uma volta pela casa. Seis da manhã. Duas assoadelas. Sete e pouco. Mais um fechar de olhos. Pondero ficar de cama, mas nem o trabalho o permite, nem a cama me cura. Sei que quando o telefone soar, como o galo da manhã, me vou levantar, sacudir a gripalhada e avançar para o dia a fingir que não é nada. Entretanto penso. Escrevo com o pensamento. Lembro-me do Ford Cortina amarelo, o carro da minha vida. Tenho que lhe prestar um tributo. Será hoje? Penso num dos senhores que ajudou a contruir a piscina da casa de campo dos meus pais. Porque me lembrei dele? Recordo os incontáveis postais com pedidos de clemência, que o meu pai certo dia mandou ( não sei para onde pois era apenas uma criança) para salvar a vida de um condenado à morte.
   O sono vai e vem, o nariz entope e volta a desentupir. Lenços ranhosos e pensamentos errantes. E se o ranho me vai para o cérebro? Escreverei uma crónica ranhosa? Rio-me de mim para comigo. Consigo divertir-me bastante, mesmo em noites mal dormidas.
  Devo ter adormecido de novo porque acordo com o soar do toque do despertar… e com um pensamento sublime: é quando nos conformamos com certas perdas que vimos a descobrir que afinal nada perdemos.
Nota: se não encontrarem grande sentido nestas sentidas palavras, talvez seja culpa do ranho!
Ana Amorim Dias

27.6.12

Cozido versus Paelha

  Portugal e Espanha vão estar em “guerra” mais logo.  Dois países fantásticos, com paisagens, culturas, gentes e gastronomias fantásticas, vão entrar numa disputa (espero) meramente desportiva.
  Hoje é Manel contra Paco. De um lado o cozido, do outro a paelha. Nuns remates vai-se ouvir fado e dos outros sai flamenco.
   Não sei se esta tarde os jogadores “nuestros hermanos” dormem ou não a “siesta”, nem sequer se os nossos meninos  andarão a fazer promessas secretas à Nossa Senhora de Fátima. Tudo o que sei é que somos irmãos. Irmãos chegados, daqueles que volta e meia fazem birras, mas gostam de andar encostadinhos um ao outro e se admiram e respeitam.   
   Por isso o jogo vai ser bom! Não tem como não ser. Ganhe quem ganhar, desde que a maturidade nobre do cavalheirismo desportivo impere, ganham as duas equipas e as duas nações. Desde que os conquistadores, guerreiros da relva,  saibam dar o seu melhor para fazer brilhar as  cores das suas bandeiras, esta noite devemos ter uma Península Ibérica de fina casta, capaz de mostrar ao Mundo a beleza de um jogo entre irmãos!
  Apesar da grande quantidade de sangue andaluz que me corre nas veias, torço pelo Manel, pelo cozido e pelo fado;  mas não posso negar que vou ficar feliz, acima de tudo, se ambas as equipas e ambas as Nações souberem dar ao Mundo o exemplo de espírito aguerrido e respeitador. E que ganhem (mesmo) os melhores.
Ana Amorim Dias

26.6.12

Se não consegues vencê-los…


  Quem tem filhos toma decisões a toda a hora. Há que escolher constantemente entre o fechar os olhos, dar a palmadinha nas costas ou verbalizar um raspanete.  Mas acho que,  muitas vezes,  nem nos apercebemos da importância que têm essas escolhas, que fazemos inconscientemente, inconsequentemente e alicerçados no nosso grau de cansaço ou no nosso estado de espírito.    
   Quem cria e educa percebe perfeitamente do que estou a falar. Quantas vezes deixamos voar momentos únicos e determinantes para a vida dos nossos filhos porque simplesmente andamos demasiado ocupados e absorvidos por coisas que ( além de lhes pagar as despesas) não têm qualquer importância para a formação da sua essência e personalidade?
   Sei que os meus filhos, tal como todas as pessoas, são a soma dos seus genes, das suas personalidades e das suas vivências. É por isso que me preocupo mais em deixar-lhes as memórias de inesquecíveis vivências do que qualquer outra coisa. Foi por isso que, no outro dia, no turbilhão cómico da algazarra que “armaram” no supermercado, me rendi ao momento e, em vez do “Párem já com isso!“, consegui entrar infantilmente no momento e rir deles e com eles.
   Acho que não se vão esquecer daqueles três minutos em que a mãe, contra tudo o que é normal nas mães, assumiu a brincadeira e cooperou com eles. Quanto a mim, espero conseguir lembrar-me mais vezes que nada é mais importante para a riqueza do  baú das suas memórias felizes, que juntar-me em pleno aos meus filhos nestas inócuas brincadeiras.
Ana Amorim Dias

25.6.12

Tempo mágico


    O tempo é uma realidade pessoal!  É uma dimensão mágica e indomável,  entendida por cada indivíduo com uma perceção muito própria.  E,  mesmo para cada pessoa, o tempo passa a ritmos diferentes consoante o que está a ser vivido: se um dia bem passado corre veloz e se esvai em pouco tempo, um dia menos bom pode parecer demorar uma semana a passar.
  Portanto, se  o tempo é uma realidade pessoal e flutuante, talvez nos seja permitido encará-lo como uma dimensão distorcida que podemos aprender a “domesticar”! Porque não?
  Acho que todos concordam se eu disser que ele passa muito devagar quando estamos aborrecidos e corre veloz se o que estamos a viver é bom… Só há aqui um ligeiro problema! É que não sei se concordo muito com esta última frase!  E baseio-me em experiências,  várias vezes testadas que mais uma vez comprovei num fim de semana maravilhoso que parece ter durado oito dias!  Sim, para mim a sexta feira passada já foi há mais de oito dias!  Tudo o que nas últimas 48 horas vivi parece ter-se estendido de uma forma mágica, neste espaço temporal que esticou e esticou e esticou, até nele caber tudo o que me foi dado a viver.
   Será então que conseguimos esticar os dias emocionantes e os momentos inesquecíveis? Será que podemos fazer caber,  numa hora,  a beleza de um mês inteiro? Sim! Basta não beber sôfregamente as emoções nem lamentar a aproximação do seu final.  Se passarmos pelos dias maravilhosos com a perceção de que a nossa vida é sempre assim, eles exponenciam-se  mesmo numa dimensão mágica que dura muito, mas muito, mais!
Ana Amorim Dias

23.6.12

Mais um!!!


Quando me perguntam a idade, ponho o meu sorriso mais brilhante e respondo alegremente: - Quase quarenta!  -
  Portanto é oficial: devo ter outro dos meus genes femininos avariado! Normalmente as mulheres desgostam-se com o passar dos anos e as marcas que ele deixa, o que é uma parvoíce, deixem-me que vos diga!
   Orgulho-me profundamente dos meus 38 anos; dos meus 13.861 dias de vida. Congratulo-me por cada cabelo branco que nunca me atrevi a pintar; por cada ruga e pedacinho de sabedoria com que os erros,  acertos e vivências me foram brindando. Orgulho-me de tudo o que consegui, ganhei e perdi, porque se perdi é porque já tive; de cada gargalhada, lágrima,  sentimento e emoção; de tudo e todos que conquistei como parte integrante  do meu pequeno Universo.
  É por isso que não entendo quem se entristece ao dizer a idade,  já que é ela a soma de toda a nossa existência.
   Mas não há aniversário sem prendas e,  como tal,  quero deixar-vos a todos um agradecimento muito especial pela prenda que todos os dias me dão… ao lerem os meus dias escritos.
Ana Amorim Dias

22.6.12

Way2live

Way2live
  No solstício de Verão de 2012, como planeado, sai para o Mundo a primeira edição Online da Way2live, um projeto arquitetado pela engenhosa mente de um “padrinho/mentor” muito especial: Paulo Bernardo.
   A todos os que acreditaram e contribuíram para que este pequeno reduto da Boa Vida ganhasse forma, o meu muito obrigada!
   Resta-me desejar que se deliciem com cada página destes escritos (quase todos) inéditos e que partilhem com quem acharem que os merece ler.
   Um abraço e bom Verão!
Ana Amorim Dias
 http://content.yudu.com/Library/A1x9yp/WAY2LIVEpreview/resources/index.htm?referrerUrl=http%3A%2F%2Ffree.yudu.com%2Fitem%2Fdetails%2F543822%2FWAY2LIVE--preview&fb_source=message

Um menino no telhado

   Daqui a muitos anos anos vou contar esta estória aos meus netos: a estória do  ”Menino no telhado”.   Vou falar-lhes de um rapazito que adorava animais e fazia tudo por conseguir descobrir ninhos com pássaros bebés lá dentro. Vou contar-lhes como ele ia buscar escadotes para subir ao telhado e acabava por lá ficar, com os braços cruzados no regaço e com cara de amuo por não conseguir os seus intentos.
  Só não sei se eles vão dar tanto valor a estas estórias como eu dou. Porque ser mãe de um menino que amua no telhado é delicioso demais para conseguir transmitir em qualquer conto infantil.
Ana Amorim Dias

21.6.12

Não sou de capinar sentada


   Quando era miúda,  a minha mãe às vezes dizia-me: - Tu tens pêlo na venta! – mas dizia-o com um meio sorriso tão carregado de orgulho que comecei a perceber que não era uma crítica.  Creio que apenas achava piada ao meu jeito decidido de lutar pelos meus direitos e defender o que considerava justo.
      Já a minha avó Maria, com a sua pronúncia de Aveiro, usava outra fórmula: - Óh rapariga, tu és mesmo “atrabessada”! – No fundo dizia-me a mesma coisa.
  E, como se não fosse bastante, alguém que muito amo mas que só me conheceu já adulta, diz à boca cheia e entre risadas babadas: - Minha querida, tu não és mesmo moça de capinar sentada! –
  Ter pêlo na venta é dizer o que se pensa e calar o que não merece a pena ser dito; é explodir na hora certa para amansar logo depois; é seguir o caminho que mais ninguém considera o certo, mas que se vem a revelar o correto. Ser “atravessado” é conseguir viver de acordo com as leis no nosso interior, numa loucura sã que nos mantém em cima de qualquer que seja o tamanho da onda que o mar da vida nos trás.   E não ser de capinar sentada consiste em ir à luta, bramindo os sabres da vontade e as espadas do inconformismo.
  Concordo com eles. Com todos eles. Sim, tenho pêlo na venta, sou atravessada e não sou menina de capinar sentada, mas adoro cada minuto! Às vezes meto-me em sarilhos, é certo, mas, se assim não fosse, ia escrever sobre o quê?
Ana Amorim Dias

20.6.12

Uma questão de focagem



    Vinha eu mesmo agora, muito tranquila, a guiar e a ouvir Jamiroquai ( as crianças andam demasiado cansadas para armar confusão logo pela fresquinha) quando reparei que ando há três dias para lavar o carro.   O pinheiro que tenho  à minha porta dá uma sombra cerrada, mas também me sarapinta o carro todo, fazendo-o ficar com uma espécie de varicela automobilistica.
   E então, enquanto o Jamiro cantava, lembrei-me que há pessoas que não conseguem guiar assim, com o vidro tão encardido ( é que a água do depósito também se me acabou…).  Eu consigo! Não sou “picuinhas”. É tudo uma questão de focagem: basta abstrairmo-nos da porcaria e vermos a bela paisagem que o sol radioso ilumina.
   Já sabem a frase seguinte, não é verdade? Então digam lá em coro comigo: NA VIDA É A MESMA COISA. Ah pois é! A vida é como um carro que guiamos, por vezes com o vidro sujo. Temos uma de duas hipótes: ou nos focamos na porcaria e não aproveitamos a paisagem; ou focamos a beleza que nos rodeia e esquecemos as insignificantes manchas até termos oportunidade de as lavar!  É isso: viver bem depende mesmo da forma como  vemos a vida e  nos focamos no que realmente importa.
   Por agora vou indo. Tenho muito que fazer e ainda quero lavar o carro.
Ana Amorim Dias

19.6.12

Ferramentas mágicas para uma vida de sucesso

A marca


  O Joãozinho encontrou no Jorginho um diabrete à sua altura. Não foi à toa que se tornaram melhores amigos. Mas as patifarias dos dois deixam-me quase sempre com um sorriso rasgado ( que só me permito depois do raspanete )  e com a sensação que me estão a ensinar algo muito valioso.
   Hoje deixo-vos mais uma das “ Aventuras do João e do Jorginho”.
   No domingo, sem que ninguém reparasse, deixaram um ladrilho gravado com os seus nomes lado a lado. Só tenho pena que o tenham feito a lápis de carvão pois a marca não vai durar muito tempo. Menos mal que a fotografia tirada guardará o feito para a posteridade.
  Contudo ontem, quando me chamaram a atenção para a marca dos dois, gravada no ladrilho, soube de imediato que havia mais a dizer sobre o caso… porque fiquei a ponderar sobre  a necessidade humana de deixar marcas. Lembrei-me logo das gravuras rupestres e de todas as manifestações de arte que os artistas gravam com o seu nome numa esperança enfeitiçada de imortalidade.
- Que giro… - Pensei – Eles são apenas crianças e já tiveram este impulso de imortalidade! -   É verdade: com sete anitos apenas, estes dois amigos para a vida quiseram deixar a sua marca, quem sabe para guardar a lembrança da sua amizade e de mais um dia tão feliz.
   Isto conduz-me a duas conclusões muito claras: o gene humano de “deixar marca” existe em todos nós e desde a mais tenra idade, e consiste na tentativa inconfessa de gravar para a eternidade os nossos feitos e os momentos que queremos que sejam inesquecíveis.
   Por isso, e como os nomes destas duas crianças maravilhosas ficaram gravados a lápis de carvão, vou-lhes dar uma ajudinha e “imortalizar” o momento com mais esta crónica que, claro, vou assinar no final… para deixar a minha marca…
Ana Amorim Dias

18.6.12


Mundos Paralelos
   Ontem houve duas festas na Quinta do Monte. O almoço de segundo dia de um casamento e a festança atrasada do aniversário do Tomás. Como é costume, as amigas de longa data (aquelas com quem comemorarei tudo até ao fim da minha vida) estiveram presentes.
    A certa altura, num dos momentos só nossos, falaram-me da teoria dos Mundos Paralelos. Pelo que percebi do pouco que me falaram, esta teoria preconiza que há tantos universos quantos os rumos que as nossas vidas seguiriam se seguissemos cada uma das escolhas que podemos fazer. Fiquei baralhada, confesso. Parece-me demasiado estranho e amplo. Se escolhemos um caminho passa a ser esse o real, tudo o resto fica no limbo do “e se”. 
   Na altura pensei que, até prova em contrário, há apenas um Universo real: aquele em que acordamos e nos deparamos com o produto, bom ou mau,  das escolhas feitas.
   Mas o dia foi-me abrindo o pensamento porque havia duas festas: uma na esplanada nascente e outra na piscina. A cada momento o meu corpo só podia estar numa, por mais que o meu espírito estivesse, por vezes, na outra. E então comecei a perguntar-me: não será isso uma exitência paralela? Não será que, de cada vez que o corpo está num sítio e a mente em outro, estamos a existir em realidades diferentes?
  Que malvadas amigas: deixaram-me sem resposta para este dilema!
Ana Amorim Dias

15.6.12



A minha Fada
     Todas as miúdas sonham com contos de fadas. Também eu o fiz. No entanto foi preciso chegar à  idade adulta para encontrar a minha. E tem mesmo o nome com ela: Fada Micá, Maria do Carmo por batismo. 
   A Fada Micá “caiu-me” na vida há cerca de um ano. Não caiu do céu mas veio pelo braço de um aviador:  o Comandante Vítor, ou, como eu lhe chamo, o papá Pandinha por causa da fofura e das barbas brancas.
   Lembro-me que a paixão pela minha Fada foi imediata. Os olhos cruzaram-se; as almas tocaram-se e a ligação, automática e invacilável, estabeleceu-se nesse instante. Comecei a tratá-la por Fada das viagens pois foi ela que me ajudou a organizar a minha expedição à Argentina, mas depressa percebi que o pelouro era bem mais vasto, pleno até. E então passou a ser “apenas” a Fada Micá, a minha Fada.
   Mora do outro lado do Atlântico mas não tem importância. Mesmo nenhuma. Porque as Fadas são tão mágicas que se instalam no nosso coração e estão sempre, sempre, connosco.
   Não termino esta verídica e maravilhosa estória sem vos revelar a moral… É que as Fadas, meus anjos, não moram nos livros infantis. Elas existem e revelam-se quando menos o esperamos, em qualquer altura da vida.
Ana Amorim Dias
  

14.6.12

A 100%


     Ontem o dia foi mais cheio do que é costume. Longo, cansativo, muito desafiante e repleto de novidades. Em suma: um dia aliciante e motivado.   Fui rodando o meu botão pelos vários modos e interpretando alguns dos muitos papéis que, como toda a gente,  acumulo.
    Ao longo do dia  alternei entre a cronista/escritora; a advogada/intérprete; a R.P. da Quinta do Monte que teve que ir tratar das unhas que não estavam impecáveis; a organizadora de eventos; a decoradora; a amiga que está lá sempre; a dona de casa que fez um belo jantar; de novo a advogada e, claro, a mãe babadona que foi ver o filho/vocalista de banda à festa da escola.   
    Porque é que estou a contar esta lista interminável de coisas? Porque o dia de ontem, entre muitos outros sublimes ensinamentos, trouxe-me um que apreciei em particular:  devemos estar  focados a 100% no que estamos a fazer. Por mais que tenhamos que mudar as vestes profissionais e pessoais ao longo do dia, para interpretar os diferentes papeis, devemos estar a 100% naquilo que estamos a fazer no momento. É que é certinho e direitinho: quando estamos absolutamente empenhados, entusiasmados e concentrados em algo em particular, os dias rendem mil vezes mais; as horas esticam e o rendimento sobe. Já para não falar do prazer que é, deitar a cabeça na almofada e, nos cinco segundos que nos restam de consciência, pensar: “Caneco, pá! Tenho mesmo super-poderes!”
Ana Amorim Dias

13.6.12

Uma carta aos professores

   Para que fique bem claro, sou daquelas pessoas que acreditam com toda a força no valor indizível dos professores. Aplaudo-os de pé e durante muito, muito, tempo!
   Confirmo com a boca toda ( como dizem os meus filhos)  que uma sociedade sã e próspera só pode existir se se derem aos professores todas as ferramentas de que precisam e todo o valor  que merecem que lhes seja atribuído. Professores são Sóis que iluminam mentes; são guerreiros  abnegados em cenários de “guerra” hostis, que não se intimidam com nada e continuam a sua missão. Professores são a água e o oxigénio do conhecimento dos seus discípulos; são o exemplo mais acabado de profissionais-heróis.  É isso: professores são heróis, verdadeiros HERÓIS, a meu ver.
 Mas isto já era assim antes das coisas terem chegado ao ponto em que estão, cuja ponta do fio nem me atrevo a puxar. Se antes eram heróis, agora são semi-deuses. Quando lhes tiram todas as condições, autonomia, credibilidade,  estatuto, dignidade, esperança e meios de subsistência, como podem não lhes tirar também a vocação e a motivação?  Malditos e cegos governantes e legisladores! Será que não vêem o crime que estão a cometer perante a nobreza destes heróis? Será que o seu entendimento não alcança as dramáticas repercussões que cada vez mais se fazem sentir nas crianças e jovens que este (miserável?)  país (não) está a preparar para o futuro???
  Não escrevi esta crónica para mudar a atitude dos cegos governantes e ignóbeis legisladores pois sou sonhadora mas não utópica. Escrevi esta crónica para vocês, PROFESSORES-HERÓIS, para que  cada um de vocês não se esqueça da missão linda que tem. Sei que peço demais mas também sei que me entendem: tentem não perder a esperança; tentem não perder a motivação. Tentem continuar a iluminar,  com os brilhantes raios do sol do vosso conhecimento, as mentes dos inocentes que todos os dias vos esperam depois do toque de entrada… mesmo que nem eles, por enquanto, vos saibam reconhecer o valor.
  A todos deixo o meu sentido abraço.
Ana Amorim Dias

12.6.12

A bolha e a mosca




   Só contei  isto a algumas pessoas que me são mais próximas e, mesmo assim, a muito poucas!   Mas porque não partilhá-lo convosco?  Afinal,  o que pensamos e os métodos interiores  com que enfrentamos  a vida ainda não pagam imposto nem fazem recair sobre nós responsabilidades criminais!
  Recebo imensos mails em que pessoas “desabafam” a propósito do conteúdo das minhas crónicas: ficam com as mentes  inquietas  e os pensamentos lá presos,  a adaptar certos conceitos à sua própria vida.   Por isso, hoje,  vou-vos deixar dois  exercícios muito fáceis que “inventei”  ( provavelmente até muita gente os usa…  com “inventei” apenas quero dizer que não copiei de ninguém) e que uso muitas vezes.   Servem para enfrentar situações mais complicadas e, além de eficientes, são muito divertidos.  
   Aviso já que isto pode parecer completamente estúpido, de forma que,  se quiserem parar de ler, ainda estão a tempo!
  Ora então cá vai: 
A BOLHA
 Uso a bolha como os super-heróis usam os super-poderes!  Quando o “circo” começa a pegar fogo, aciono a bolha. Normalmente quando há estímulos externos negativos, sejam eles causados por situações complicadas, momentos dolorosos, más notícias ou pessoas descontroladas, imagino-me imediatamente dentro de uma bolha que me envolve e onde nada pode entrar. Na minha bolha só há calma, paz, luz, compreensão e amor. O que é mau não entra. Digamos que me ligo à minha essência e à raiz de tudo o que é bom. E isto é mais do que suficiente para emanar para mim mesma uma proteção poderosa e eficaz. Coloco-me num estado de quase graça que acaba por me fazer sair da situação absolutamente incólume. Imaginem a vossa bolha do tamanho e cor que quiserem e só permitam a entrada de coisas e sentimentos bons. Mas desde já aviso que quanto mais praticarem mais eficiente e impenetrável  ela se torna.

A Mosca
  Uso a técnica da mosca quando alguém me está a chatear. Olho para a pessoa em questão e, em vez de ver um ser humano, vejo uma mosca gigante a zumbir e a bater as asinhas. Deixo completamente de ouvir as palavras e fico só ali, a dar toda a minha atenção não à pessoa mas à mosca. Quando acaba de zumbir, mantenho o meu silêncio e vou-me embora sem dar resposta. O que é que se pode responder a uma mosca? Eu não sei porque não falo “mosquinhez”…
Ana Amorim Dias

 

11.6.12

O meu “pequeno” Buda


   - Larga o meu bebé! – costumo dizer ao João quando ele irrita o Tomás.  Riem-se os dois sem perceber porque é que é sempre o mais velho que eu trato por “meu bebé”.
   Desconfio que os filhos mais velhos, muito mais que os seguintes,  guardam eternamente o estatuto de “bebés”.    Ou então sou só eu que penso assim por ter algum dos “chips” da maternidade avariado.
      O Tomás nasceu comprido e magricela e, ao fim de poucos meses parecia um verdadeiro Buda. Um Buda convicto, gordinho e calmo, que nos prendia o olhar deliciado.  As gordurinhas de bebé há muito que desapareceram, mas desconfio que  a pose relaxada de Pachá será para sempre a sua imagem de marca. Tendo uma mãe tão frenética e um pai tão ativo, já me tenho perguntado como é que “saiu” com  esta essência tão:  “leve, leve e devagarinho”.  Mas cada um é como é e este meu “pequeno” Buda é tranquilo, doce e muito, muito, meigo.  
   Agora que já o vou vendo no seu jeito de rapaz, não me consigo impedir de gabar a sorte da moçoila que venha a amar. Da mesma forma que gabo a minha própria sorte por nunca me ter feito chorar e me fazer rir a toda a hora. Gabo a sorte de o ter na minha vida e bendigo o dia em que, há onze anos, o vi pela primeira vez ao vivo.  Reconheço a minha sorte e agradeço-a todos os dias, mesmo naqueles breves momentos em que faz as suas leves birras em que a beiça de baixo lhe desce até ao umbigo.
  O meu pequeno Buda tranformou-se num homenzinho de nobres sentimentos e coração de anjo. Com ele posso desabafar e até já lhe peço conselhos. Já quer que lhe leia o que escrevo e me dá abraços confiantes quando estou mais macambuzia. Já somos companheiros cúmplices,  formando um grupo de eleite só de dois, com programas só nossos e um entendimento indizível.
  Apesar de parecer ter 14  ou 15 anos devido ao do seu metro e setenta ( e de calçar o 42! ),  o meu “pequeno” Buda faz hoje 11 anos. Onze anos de vida, sabedoria, e doçura. Onze anos  de uma das alegrias mais puras que a vida já me deu!
Ana Amorim Dias


  

9.6.12

Ciúme não é amor


  O ciúme é um enorme buraco que surge na veste do amor. Ciúme é estupidez, atraso, ignorância emocional e ausência de amor-próprio.
   Não me venham cá com a estória que só há mesmo amor se também houver ciúme. Tretas! Isso é mentira!  Amor só é amor, mas AMOR de verdade, sem a asquerosa  nódoa  desse sorrateiro e ignóbil assassino de relações.  Amor só é amor, mas AMOR de verdade, quando sabemos dizer: “ O teu coração está a sentir algo por outro alguém? Então vai e sê feliz porque é assim que eu te amo. E, caso um dia te lembres que é comigo que sonhas, talvez eu ainda cá esteja… ou então talvez não.”
  Com ciúme não há amor. Há uma aberração emocional condenada ao insucesso.
Como pode alguém ser ignorante ao ponto de pensar que o coração alheio obedece à sua vontade quando nem o próprio coração o faz? Eles têm vida própria. Os corações nunca se compadecem com proibições externas nem obedecem a carrascos de atitudes possessivas.
   O ciúme é o primeiro passo para a perda e sofrimento; é a génese da destruição dos sentimentos amorosos.
   Como podem os ciumentos não perceber algo tão simples? Como podem os inseguros possessivos não entender que todo o tempo que gastam a controlar,  devia ser usado a com manifestações de carinho, sedução e atenção? Quantas relações não se salvariam assim?
  O ciúme é mesmo o Anticristo da divindade amorosa; é a força animalesca que enfraquece quem a sente. Mas acredito que já haja quem sabe amar.  Aliás, sei que existe quem sabe amar. De verdade. Sem ciúme.
Ana Amorim Dias

8.6.12

Só há dois tipos de medo!




   Falei há dias sobre uma ferramenta fundamental para a vida nos correr pelo melhor. E ela consiste em aprender a usar o medo a nosso favor.
   Acredito que existem apenas dois tipos de medo. Os justificáveis, que nos protegem dos perigos e que devemos acatar. E todos os outros, que apenas servem para nos travar e impedir de seguir o nosso caminho e explorar todas as nossas potencialidades.
  Ora pensa lá: quantas coisas já deixaste de fazer por medo? Quantas viagens perdeste escudando-te atrás de outras desculpas quando  o  que te travou foi o medo? Quantas pessoas não conheceste, escondendo-te atrás de outras desculpas, quando o que na verdade te impediu foi  o medo?  Quantas oportunidades deixaste escapar por medo? Quantas vezes viraste as costas a mergulhos no teu interior mais profundo… por medo?  
   “ Não tenho dinheiro” ; “ Não tenho tempo” ;  “ Não posso” ; “Não me deixam” ; “ Não é isto que esperam de mim”; “ Tenho que tomar conta dos filhos/marido/mulher/negócio”;  “ Não é oportuno” ; “ Não é correto” ….    São estas as justificações que dás a ti mesmo, não é?  Porque não te deixas de “merdas” e  admites de uma vez por todas, pelo menos perante ti, que o único impedimento é o medo?  Tens medo de estar sozinho contigo. Tens medo de falhar. Tens medo que não te entendam. Tens medo de perder o que tens. Tens medo que, ao sair do trilho, te votem ao ostracismo. Tens medo que te deixem. Tens medo de voar e medo de cair. Tens medo de sonhar pelo medo de não concretizares os sonhos. Tens medo do julgamento. Tens medo de te dar. Tens medo de receber. Tens medo de sentir e de mostrar o que sentes. Tens medo de te emocionar,   de chorar e de rir como um louco, não tens?  Tens medo do que queres dizer. Tens medo de ir ao fundo de ti e do que lá podes encontrar. Tens medo dos outros e de ti. Tens medo de falhar. MEDO DE FALHAR! Certo?
Sabes o que é usar o medo a teu favor? É perceber que só há dois tipos de medo: o que nos salva do perigo e o que nos impede de viver! E é no combate ao medo que nos impede de viver que a coragem se gera. Enfrenta-o sem te esconderes atrás de desculpas esfarrapadas.  Conhece-te. Conhece os outros. Conhece o Mundo. Voa. Cai. Sonha. Sente. Ri e chora. Vive o medo;  toca-lhe; cheira-o; abraça-o; e sente-o desfazer-se perante a tua coragem!
   Porque só há dois tipos de medo: o que nos salva do perigo e o que nos impede de viver. Pensa nisso!
Ana Amorim Dias

7.6.12

A solitária lágrima


  Entro no carro e arranco em direção à meia de leite.  Os contornos quentes e luminosos da manhã, a par com a voz da Ana Carolina, trazem-me memórias bons de tempos passados. Uma lágrima solitária desprende-se de mim ao recordar coisas vividas que já não voltam mais.
   Mas, algures a meio dos três quilómetros e seiscentos metros que me separam da civilização, percebo que a solitária lágrima não precisa de ser de tristeza; entendo que a nostalgia que se sente pelo que de bom já se viveu pode muito bem ser trocada pela euforia que, com alguma sabedoria, podemos trazer à vida em cada dia.
  E foi assim que, antes que a solitária lágrima secasse, fiz dela uma lágrima de alegria. Por tudo o que já fui e vivi mas, sobretudo, por tudo aquilo que agora sou e ainda me falta viver.
Ana Amorim Dias
  

6.6.12

A magia da citação




    Ele comentou  aquela crónica ( sou sincera: já não faço ideia qual ) repetindo as minhas palavras e redobrando-lhes, assim,  o sentido.  Respondi-lhe que ficava com um sentimento estranho ao “ouvir” as minhas palavras “ditas” por outras “bocas”; como se as frases deixassem de ser minhas e ganhassem uma força renovada e uma veracidade incontestável.
- Não sabia, Ana? É poder mágico da citação! – Respondeu-me.
  Sorri com a generosa oferta que o Vítor me acabara de dar e guardei-a como se guardam as jóias.
  Volta e meia repetem-me as frases. E eu, feliz com o mágico efeito da citação, leio-as como se não as tivesse escrito. Faz-me lembrar aquela sensação parva que temos,  que o que é nosso não presta e o que vem dos outros é que é bom, sabem? 
   Bem, mas voltando aos carris do que vos queria dizer,  ontem repetiram-me esta frase: “Existem dois grandes dias na vida de todos nós… o dia em que nascemos e o dia em que descobrimos porquê.”   Vi-me forçada a puxar pelos cordelinhos da memória, mas lembrei-me que sim, que tinha sido eu a escrevê-la. E, ao mesmo tempo que sentia uma vez mais o poder mágico da citação, percebi que há outro poder muito mais mágico: o de fomentar nos outros a inquietação de pensar e sentir!
Ana Amorim Dias
P. S – Obrigada Vítor. Obrigada Patrícia.
 

5.6.12

A figueira preferida


   Todos os anos é a mesma coisa. Durante o início de Junho provo o primeiro figo da figueira preferida. É sempre ela, a mais possante e frondosa, que dá os primeiros e mais doces figos da época. Nenhum dos frutos das outras figueiras tem o mesmo delicioso  sabor,  ou então sou eu que tenho esta ideia porque quando começam a dar já eu comi tantos que não me sabem igual.
   É nos últimos dias de Maio que começo a “namorar” a figueira preferida. Chego à quinta, páro o carro mesmo à beira dela e espreito os ramos carregadinhos, calculando quantos mais dias de calor serão precisos até o calor amadurecer os frutos que me deliciam. Apalpo um ou dois,  na esperança de apressar a natureza, e começo a medir forças com os meus rivais alados numa ameaça surda que lhes diz: “Livrem-se! Os primeiros são meus, depois podem comer à vontade!”
   A fruta que se come debaixo da árvore e numa altura específica do ano, tem um sabor inigualável, que se sente nas papilas gustativas da alma!  Isto é mesmo verdade!
  Por isso ontem, ao comer o primeiro figo maduro (foi só um: gordo, doce e inimitável) que depois de árdua pesquisa encontrei, senti-lhe o sabor quente do Verão. Fui até ao céu da boca e senti a alegria de saborear,  em dentadas vagarosas, a magia gastronómica anual que sempre me antecede o solstício de Verão!
Ana Amorim Dias

4.6.12

E tu quem és?

1981
- Sabes Ana, todos temos uma função neste Mundo… -
 - Sim? – Esbugalhei os olhos enquanto caminhava ao  seu lado.
- Sim. E o dia mais importante das nossas vidas é quando descobrimos qual é a nossa função. 
   Fiquei a pensar qual seria a minha, completamente rendida à solenidade daquele momento e à força daquelas palavras que, soube-o logo, jamais me abandonariam. Quem as disse foi uma professora primária, minha vizinha, com quem eu fazia todos os dias o caminho para a escola.
  
1998
- Cada dia é de uma responsabilidade enorme. – Disse-me a Drª Helena, no princípio do meu estágio.  – A Drª Ana Dias vai ter que lutar pelo valor do seu nome todos os dias! –
  Percebi a mensagem e, mais uma vez, mergulhei na solenidade daquele momento e na força daquelas palavras.
- Lutar pelo valor do meu nome. Não me esquecerei! –

2012
    Estas duas Mulheres, com tão simples frases, deixaram-me dois ensinamentos preciosos que nunca me abandonaram.  Esperei muitos anos até perceber finalmente qual é a minha verdadeira  função. Contudo não a descobri num só dia. Não. Foi uma descoberta feita ao longo de muito tempo e de muitas páginas escritas.
    Também continuo a ter a plena consciência que o valor de um nome se contrói todos os dias. Com uma invacilável força interior. Com coerência e perseverança, num exercício de cega fé que nada pode demover. Mas o meu nome não é Drª Ana Dias, a advogada. Chamo-me Ana Amorim Dias. E sou escritora.
E tu?  Quem és?
Ana Amorim Dias

3.6.12

Um excelente investimento



O olhar dela brilhou quando me viu chegar.
- Quero um café, se faz favor, Mariana. – Dei-lhe o mais rasgado sorriso. O dia de ambas já tinha algo de bom.
   O poder mágico do uso abusivo da simpatia não é novidade. Esta fabulosa descoberta já me surgiu, qual mística revelação, há muitos, muitos anos.
   Oscilo entre a mera boa educação dos dias menos apaixonantes  e a talvez excessiva simpatia que deve confundir muita gente. A ponto de,  às vezes,  me parecer ouvir alguns pensamentos alheios a suspirarem: “ Coitada… esta não deve  ser muito certa…”  Não me importo nem um bocadinho. Se estou feliz,  que melhor forma pode haver de transbordar essa boa energia para os outros?  E,  se não estou, que melhor forma pode existir de a criar de raiz?
   Gosto de espalhar simpatia. Consciente ou inconscientemente: é indiferente.  Gosto de ver os sorrisos a abrirem-se à minha chegada; de meter conversa com desconhecidos de olhar vazio e notar a diferença em poucos segundos. Gosto de tratar pelo nome quem me serve o café ou me vende o pão. Gosto de ser estúpidamente simpática, mesmo sabendo que,  às vezes, posso ser mal interpretada.   Gosto de viver num sítio pacato onde ninguém estranha que se diga   ”bom dia” a toda a gente. E gosto de saber que, por mais que às vezes me esqueça disto, volto-me sempre a lembrar.  Mas o que mais gosto é do ricochete energético que a simpatia emanada sempre me traz de volta!
Distribuir sorrisos, olhares sustentados e  palavras  amáveis é um investimento de lucros garantidos! Aqui não há risco de perdas nem crises que afetem este mercado de importantes valores.  A equação é simples: somamos as nossas demonstrações de simpatia a uma pura sinceridade, multiplicamos pelas pessoas a quem a destribuímos e ela vai-se exponenciar em  imediatos efeitos benéficos, não só em nós como em todas as pessoas  que se cruzem no caminho dos destinatários da nossa simpatia. É como uma praga, garanto-vos! Mas das boas, claro!
Ana Amorim Dias

2.6.12

O melhor dia de sempre


   Como a professora do João avisou que no dia da criança   ia precisar de faltar, armei-me em heroína e convidei dois amiguinhos para virem passar o dia com ele. Afinal estava a ser solidária com outras duas  mães e daria aos miúdos um dia inesquecível.  Percebi rapidamente porque é que o Diogo e o Jorginho são os melhores amigos do meu filho mais novo: tal como ele são uns pestinhas encantadores…
    Confesso que o dia da criança demorou um bocadinho a passar. Por volta da uma tarde eu já tinha repetido certas frases umas boas dezenas de vezes: “ Gritem mais baixo!”; “ Não assustem as galinhas!”; “ Nada de atirar pedras à colmeia!”; “Deixem alguma água na piscina!”; “Não espalhem pipocas no chão!”; “Cuidado para não salterem disparados da cama elástica!”…  E os estupores, como é óbvio, faziam ouvidos de mercador e continuavam nas suas convictas e inadiáveis atividades.  
   Ocorreu-me que mantê-los em casa, com canais infantis e playstation, seria muito mais fácil do que andar atrás deles feita louca nos largos hectares cá da quinta,  mas os maganos só se contiveram entre paredes durante pouco mais de uma hora. Garanto que ontem perdi uns dois quilos!
   Mas não posso negar que  me deu grande prazer formar neles estas memórias de mais um dia feliz.    Embora ninguém me tire da ideia que as mulheres entraram no mercado de trabalho para fugir ao cenário dantesco que os filhos conseguem instaurar em casa, não há nada que dê mais prazer a uma mãe que ouvir, ao fim do dia, que “ Este foi o melhor dia de sempre! “
 Ana Amorim Dias
  

1.6.12

Façam o favor de ler, sim?



    Eram onze e pouco da manhã quando acabei de escrever o meu quarto romance. Embora vários imprevistos me tenham impedido, ao longo das duas últimas semanas,  de escrever com a produtividade habitual, terminei  o “Quatro“ , de acordo com o que tinha estabelecido:  no último dia de Maio.
     Não me importei muito com os impedimentos que me atrasaram as últimas páginas. Acontece-me sempre a mesma coisa: na vertigem do prazer supremo da criação do final há sempre algo a travar-me; como se estivesse à espera de viver ou perceber mais alguma coisa para poder subliminar a apoteose. Mais uma vez isto aconteceu! Precisei de viver, sentir e perceber mais algumas coisas para que o fim ( ou será um novo princípio?) da estória da Leonor, da Sam, do Artur e do Vítor guardasse o significado mais saboroso.
   “Quatro” é uma fábula dos tempos modernos. Uma fábula muito real de como podemos tocar a vida e a alma uns dos outros, alterando todo o curso e sentido das existências.  Um conto de 400.000 caracteres e 85.000 palavras onde um encontro improvável de pessoas muito diferentes dá lugar  a uma sequência de acontecimentos incríveis e revelações que se aguardam, contendo a respiração, até às últimas páginas.
   “Quatro” é mais um “filho”: o quarto. Adorava que o lessem. Iriam gostar, tenho a certeza! Mas para isso é preciso que alguma editora, como a Leya, o leia realmente e não me responda um “não” apenas cinco dias depois de enviar o original. Para isso é preciso que alguma editora como a Porto, o leia e chegue a enviar alguma resposta.  E agora perdoem-me o tom sarcástico mas a crise, meus amigos, pode muito bem começar a ser superada com a exportação de tudo o que de maravilhoso por cá se faz. Perdoem-me também o tom algo convencido mas como sou leitora desde os oito anos sei bem que já li muitos “sucessos” internacionais que não são superiores ao que escrevo.
   Por isso cá deixo o apelo a algum editor que se possa cruzar com estas palavras: nas próximas semanas,  o “Quatro”, de Ana Amorim Dias, vai chegar até vós. Desta vez façam o favor de ler, sim?
Ana Amorim Dias