(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

12.10.11

A fotografia


   Ela leva-me ao quarto e mostra-me a fotografia que tem na mesinha mais próxima da cama. Uma bela jovem admira, extasiada, o homem seguro que a abraça com ar confiante. Toda ela é sorriso e amor. Todo ele é integridade e realização.
    Pego na moldura e absorvo cada detalhe. O requinte da envolvência; a forma como ele, feliz,  olha o infinito e segura o cigarro com estilo. A perfeição toma conta de cada singular nuance naquele daguerreótipo ainda a duas cores…
    Pouco depois, enquanto bebemos um porto sentadas à mesa,    ela diz-me:  - “Ainda o amo, sabes querida?” – O brilho daquele  olhar comprova a verdade das palavras. O sorriso saudoso, todo feito de amor, confere ao momento uma singularidade quase etérea.
   Fico sem palavras. Numa das poucas vezes em que elas me faltam, compreendo o valor do silêncio. Entendo que há frases,  ditas por todas as células,  que não esperam resposta.
  Peço-lhe para continuar. Para me falar mais desse homem perfeito que conseguiu continuar a arder na chama acesa de um amor tão forte… quarenta e três anos depois de ter morrido! E ela continua. A conversa corre, veloz e emocionante, enquanto conheço um pouco mais desse avô perdido nas brumas do tempo.
   Mas os momentos passam e a conversa acaba por ter um fim.  Contudo,  embora os momentos passem ( sejam eles uma conversa profunda ou um amor perfeito vivido durante treze anos)  os efeitos de certos momentos estendem-se no tempo de uma forma quase inexplicável…
   Trago comigo a certeza comprovada  de que os amores eternos existem.  E a esperança de que haja,  por esse mundo fora, mais homens fortes como o meu avô… capazes de enfrentar  tudo por amor; capazes de se sentirem  seguros  e plenos ao lado de  mulheres tão fortes e impetuosas como eles próprios…
Ana Dias