(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.4.12

“Pluripolares”


    O meu filho mais novo tem uma capacidade fantástica, herdada de mim, que consiste em chorar e rir ao mesmo tempo. Há alturas em que ambas as ações são tão convictas que fico sem perceber qual é a que prevalece. E isto faz-me lembrar a bipolaridade,  uma doença em que a pessoa passa muito rapidamente de um extremo de humor ao outro, diamentralmente oposto.   Deverei com isto assumir que o meu pestinha e eu somos bipolares? Não me parece. Somos apenas pessoas que conseguem achar graça a alguma coisa, mesmo estando a chorar.
   Por outro lado, também se diz que é bipolar quem tem duas personalidades, como se houvesse duas pessoas dentro de uma. Nesse caso não teremos todos uma boa dose de bipolaridade? Se a  personalidade, numa definição muito leiga e popular, é o "conjunto das características marcantes de uma pessoa”, não poderemos assumir que todos temos em nós características marcantes antagónicas? 
   Senão vejamos: todos somos bons e maus;  santos e pecadores; grandiosos e pequeninos. Todos conseguimos ser egoistas e generosos;  compreensivos e incompreensivos;  tolerantes e intolerantes. Creio que não haja um único ser à face da terra que não tenha já sentido amor e ódio, vontade de perdoar e desejo de vingança; medo e coragem.     É certo que há uma  tendência mais prevalente para algum dos lados mas, ainda assim, ninguém me tira a convicção que o ser humano é, por definição, um ser “pluripolar”.   Apenas nos resta decidir qual dos polos nos “sabe” melhor…  como faz o meu filhote, que acaba por decidir sempre que rir é muito melhor que chorar!
Ana Dias