(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.3.12

O “Vesgo” e o “Zarolho”



- Anda lá… -
- Não!-
- Vá lá, vais ver que vais gostar. 
- Não quero ir a essa porcaria! – Costumava eu responder,  um domingo em cada mês, ao ser convidada para ir ao mercado de Cacela.
   Hoje, ao trocar o “não” por um “sim”, percebi o quanto estava a ser parva e petulante. Achava que as minhas idas ao Portobello Market, em Londres,  ou ao mercado de San Telmo, em Buenos Aires, me iriam fazer olhar para  o mercado de Cacela com atitude  de desagradada comparação.
   Mas que grande parvalhona!   Eu já devia saber que quanto mais se viaja, mais se deve conseguir ver com novos olhos o que há cá na “terrinha”!
  Já posso ter feito compras nos mais emblemáticos  mercados  de Nova Iorque, Rio de Janeiro, Paris ou Londres. Tenho recordações compradas em feiras de rua no Rio Negro, Colômbia, Formentera, Buenos Aires ou Roma; mas foi no mercado de Cacela que, sem gastar dinheiro nenhum, fiz a maior aquisição de todas: tomei consciência que os pré-julgamentos nunca são acertados. E nem é que seja preciso ver para crer, basta perceber que cada cada local tem as suas características e encantos.
   Para comemorar a epifania, ofereci aos meus filhos dois patinhos amarelos. A um chamei “Vesgo” e ao outro, “Zarolho”, para não me deixarem esquecer a minha falha de visão….
Ana Dias