(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.2.13

Alimentadores

Alimentadores

Desconfio que sou assim desde sempre, mas só ao longo da vida adulta é que me comecei a aperceber disso de forma mais consciente. Não me consigo libertar da mania de tentar fazer com que as pessoas comam. Dá-me um imenso prazer ver toda a gente a comer e a beber à minha volta. Só estou bem a atulhar os outros de comida, seja quem me aparece em casa, seja nos casamentos cá na Quinta. Desde que haja grandes quantidades de comida (e bebida) a serem ingeridos com convicção e prazer, sinto que estou a cumprir bem o meu papel.
Assim, e assumindo-me como alimentadora há já muitos anos, começo a estranhar o facto de nunca ter analisado mais profundamente as motivações de tal tara. Será que há outras vidas e em alguma delas fui um chefe de tribo que deixou a populança desfalecer à mingua? Ou terei passado eu mesma muita fome? Será que esta mania se prende com carências ou abundância? Será que é por eu própria gostar tanto de comer que quero proporcionar fartura aos outros? E o que é mais curioso é que, tal como faço com a comida, também sou fervorosa adepta de alimentar com palavras. Os "porquês" é que me escapam e isso não me agrada nada.
No entanto, e para me consolar, concluo que o mais importante não é perceber as razões que nos levam a ser como somos, é sim gostarmos imensamente da nossa maneira de ser!

Ana Amorim Dias

Quem faz de nós Peter Pan(s)

Quem faz de nós Peter Pan(s)

Costuma pensar-se que quem gosta deve lutar pela presença constante do outro. Costuma sentir-se a posse como sendo a outra face do amor. Costuma encarar-se a moldagem do outro à imagem dos próprios desejos como uma decorrência natural das relações.
Mas o cume do crescimento emocional não se compadece de costumes e não se atinge com a cedência aos dogmas relacionais instituídos nem com a patética rendição ao teorema da posse.
Gostar de verdade de alguém implica um altruísmo que, embora pouco frequente, começa a ser sentido por muitos. Se gostar muito é fácil, gostar bem é tremendamente difícil...mas só até se aprender como.
Gostar bem é desenvolver todos os esforços para manter a genuinidade do outro.
Gostar bem é manter bem abertas as janelas que permitem que o outro se descubra e construa.
Gostar bem é proporcionar o brilho ao outro, mesmo ao longe.
Gostar bem é aceitar, perdoar, orgulhar.
Gostar bem é conseguir dar ao outro o céu inteiro para que volte a saber voar com a inocente e sonhadora traquinice de Peter Pan...

E tu? Quem faz de ti Peter Pan?

Ana Amorim Dias