(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.3.13

Em erupção

Para não morrer de tédio

Cada vez me convenço mais que os meus maiores inimigos se chamam "tédio" e "inércia". São como um daqueles casais de primos muitos afastados que às vezes se plantam na nossa sala à espera que lhes sirvamos um cházinho.
Ainda por cima, o senhor Tédio e a dona Inércia costumam trazer de lembrança um cestinho cheio de "nada" como se o vazio que os acompanha não fosse já suficiente.
Detesto este casalinho asqueroso mais do que consigo explicar, mas pergunto-me se não serei eu quem lhes potencia as visitas. Sempre que o meu vulcão diminui a intensidade das erupções, estou a convidá-los a entrar. Sempre que o meu agitado mar se espelha, abro-lhes de par em par as portas. Sempre que a emoção e a criatividade esmorecem, nem que seja por momentos, lá chega o senhor Tédio com a sua esposa atrás.
Pode ser que algum dia o calar do vulcão não traga consigo o vazio. Mas por agora só me resta prosseguir em erupção... para não morrer de tédio.

Ana Amorim Dias

Barafunda

Línguas

Chamo os miúdos para a mesa. Instalo um em cada ponta. Ou estudam a bem ou estudam a mal. O pequenino, à minha esquerda, lê baixinho em português. O grande, à minha direita, vai tirando dúvidas de inglês.
Continuo a repetir baixinho as frases em russo que a Sveta hoje me ensinou. O russo soa bem aos miúdos porque era nessa língua que ela lhes falava quando eram pequeninos. Riem-se todos de mim. Calo-me. Mas se quiser mesmo hei-de aprender. Mergulho de novo no livro que tenho que ler, em francês, para o meu próximo projeto que vai ganhando forma no ecrã do iPad. Interrompo para ler um texto em inglês e traduzi-lo ao Tomás. A Sveta aproxima-se e presta toda a atenção porque anda a aprender essa língua.
Passado pouco tempo as crianças escapam-se para a liberdade da vida fora de portas. A Sveta regressa à sua casa e eu fico sozinha à mesa, a tentar pronunciar as frases em russo; a tentar que as páginas que leio em francês façam sentido; a tentar não me entusiasmar demasiado com o livro que estou a escrever que, suspeito, será traduzido em tantas línguas quantas as que esta tarde foram à mesa servidas.

Ana Amorim Dias

On the road again

No final de cada curva

- Gostava de ter sido camionista. - Sempre que o digo ficam a olhar para mim embasbacados, a tentar perceber se falo seriamente ou estou a ironizar.
Há algo nas estradas que me prende, fascina, enfeitiça. Sobretudo nas viagens feitas a sós com a minha música e os meus pensamentos. Vejo-me imensas vezes a desejar que a estrada não se acabe no destino; a imaginar até onde chegaria antes que o cansaço me vencesse.
Não ligo muito à viatura, apesar de, confesso, algumas me darem mais prazer que outras. Não me importa se a estrada é constantemente por mim usada ou uma via desconhecida; não penso no ponto de partida nem na hora da chegada. O que me importa é o caminho e a sensação de movimento que esbate o horror da estagnação. O que importa é o encanto hipnótico do asfalto à minha frente e a maneira segura, prazerosa e consciente com que entro em cada curva. Creio que as curvas da estrada são para mim tão atrativas quanto as do meu interior porque quando entro nelas a paisagem muda para cenários tão fantásticos, incríveis e encantadores que tudo o que sei desejar é a eternização da viagem.

Ana Amorim Dias

Sombras

Sombras

Entendemos as nossas sombras como algo de mau. Mas as sombras dependem da luz. Só não enfrentamos as nossas sombras quando nos escondemos na penumbra, quando nos escondemos da vida. Prefiro mil vezes expor-me às luzes que me acendem as sombras do que fingir que as sombras não são uma parte integrante de mim.

Ana Amorim Dias

23.3.13

Teoria da relatividade

Teoria da relatividade

A genialidade de Einstein permitiu-lhe a descoberta de uma fórmula que nem equipas de grandes cérebros, com todo o tempo e equipamentos necessários, conseguiram descortinar. Fê-lo, diz-se, nos intervalos de almoço de um emprego que tinha, provavelmente em folhas de rascunho engorduradas com salpicos da comida que ia debicando enquanto carburava as suas fantásticas visões do funcionamento do Universo.
Não tenho a menor intenção de me comparar a Einstein (como poderia!?!?) mas também nada me impede, enquanto represento a Quinta do Monte numa feira de empresas, de desenvolver a minha própria teoria da relatividade. Contudo, e ao contrário do génio, tentarei fazê-lo da forma mais compreensível possível.
Somos todos seres relativos. Mais altos que uns, mais baixos que outros. Mais feios que alguns e mais belos que tantos outros. Mais inteligentes. Ou menos. Mais intensos, amorosos, sábios, simpáticos, experientes, viajados. Ou menos. Depende do sujeito em relação ao qual nos relativizamos.
Vivemos sob o constante peso da comparação, sendo que, no final da história, tudo o que pretendemos é causar uma maior e melhor impressão aos demais, comparativamente a tudo o que veio antes. Quanto a isto não me restam grandes dúvidas.
Mas voltemos um pouco atrás antes de avançar para a conclusão. Somos todos seres relativos quando analisados como uma gota de água nos oceanos da humanidade inteira. Mas o que acontece se nos equacionarmos como algo absoluto? Se nos despirmos de todo e qualquer termo de comparação o que é que realmente nos resta?
Existirá algum botão no ser humano passível de ser desligado que desligue também a constante comparação aos demais, feita por cada um de nós e por todos os outros com quem nos relacionamos? E se o desligarmos? O que acontece depois?
Não me parece que tenhamos a capacidade de impedir que os outros nos comparem a quem quer que seja, mas quando (mesmo respeitando e aceitando os outros sete mil milhões) nos conseguimos entender individualmente como um todo, estamos preparados para transcender a relatividade e começar a caminhar com firmeza em direção à perfeição.
Assim sendo e apesar de ter sido várias vezes interrompida ao longo desta dissertação, creio ter a fórmula pronta: ES = CP vezes BS2. Eu explico: a existência sublime é igual ao conhecimento pessoal multiplicado por bons sentimentos ao quadrado.

Ana Amorim Dias

Desperta

Desperta

Um dia perguntaram a Buda:
- És Deus?-
- Não, não sou Deus. - respondeu.
- És um anjo? -
- Não, também não sou um anjo.-
- És o Messias, então! - retornaram.
- Não sou Messias nenhum.-
- Mas então o que és tu? -
- Eu? Sou desperto.-

Entrar em "estado Buda" é tão deliciosamente fácil que me espanta que não ande pelo menos meio mundo com o "sorriso de Buda" estampado no rosto.
E então alguém me pergunta:
- Como é estar desperto?-
- É sentir o divino em tudo. -
- E quando é que eu desperto? -
- Quando o teu entendimento apreender o que é realmente importante e a tua humildade te sintonizar com todos os seres.-

Ana Amorim Dias

E zumba!!

E zumba!!

Contra o que é meu costume, instalei-me no sofá para ver as notícias. Normalmente vou-me mantendo mais ou menos atenta, a uma distância minimamente segura, na secretária, protegida por atividades online executadas em vários dispositivos em simultâneo. Mas ontem sentei-me sem ter sequer os fones ao pé de mim, para fazer soar as minhas músicas quando a crise se instalasse.
Não demorou muito. Escassos minutos depois de ter iniciado a corajosa jornada, estava lavada em lágrimas, sob o olhar alarmado do meu filho mais velho a quem o pai tentou explicar a minha reação às terríveis notícias que todos os dias a crise nos traz.
Acabei por fugir para o meu porto seguro antes do final do jornal da noite. Mas pergunto-me: que raio de atitude é esta? Serei um rato desertor que não quer ver o navio a afundar? Ou apenas me protejo das energias deprimentes que podem muito bem arrancar-me todo o ânimo, inspiração e força de ação? Devo mesmo sentir-me culpada por não aceitar assistir de camarote a esta peça dantesca? Ou devo continuar a proteger-me numa redoma de trabalho constante em prol de algum rendimento e uma total alegria?
E então lembrei-me da Zumba! Daqueles momentos só meus em que a essência se entrega, ao mesmo ritmo que o corpo, a uma felicidade tão absoluta quanto suada. Ceder à pressão da crise e da depressão? Peço mil desculpas, mas não! Prefiro ceder à energia do Olimpo e zumbar. Prefiro ceder à luta de tentar criar mais trabalho e rendimento, sem esquecer que o dinheiro não é a felicidade, é apenas uma das muitas condições que propiciam uma existência feliz.

Ana Amorim Dias

19.3.13

Super pais

Pai é pai!

Poucas outras coisas tornam um homem tão sensual, maduro e completo como a paternidade. Creio que não existe mesmo lição de vida equiparável a esta, a mudá-los intrinsecamente de uma firma tão brutal... e tão bela também.
Ouve-se muito por aí o "Mãe é mãe!".
E eu respondo: "E pai é pai!!"
Mais uma vez, no dia de hoje, levanto a voz com amor, não na defesa do género masculino, mas na sua exultação. Desta vez na qualidade de progenitores capazes, dedicados e, tantas vezes, completamente atarantados!
Começo pelo exemplo do meu, de quem continuo a ouvir a voz carinhosamente trovejante do incondicional amor; aquele que será para sempre o genético, o que me criou, o da eternidade. Continuo por todos os que, ao longo da minha vida tenho encontrado, e que me devotam o mais completo amor que por uma filha se tem. E prossigo para todos os outros, para todos os que, muitas vezes subvalorizados, se entregam a esse papel que lhes determina a existência.
Conheço dezenas, ou melhor, centenas, de pais fantásticos: pais-galinha, pais-amor, pais-herói, pais-proteção, pais-mãe, pais-sozinhos, pais-amigos-confidentes, pais-de-sonho, pais que tomam filhos que não são seus como se seus filhos fossem. São pais que sentem a pressão do "mãe é mãe" sem terem quem verdadeiramente entenda que "pai é pai" e que isso é tanto como é ser mãe!
Conheço na primeira pessoa pais que, com as suas mãos gigantes trocam fraldas aos filhos recém nascidos no pânico inconfesso de os escangalharem todos; pais que só não amamentam porque não lhes sobe o leite; pais que fazem sacrifícios indizíveis pelo bem estar das crias; que dão carinho, atenção e amor no entendimento perfeito do valor destas dádivas; pais que alimentam sonhos e embalam os desgostos; pais que sofrem mais que a conta por não terem os filhos ao pé.
Poderia continuar até se cansarem de ler, mas já disse o importante: pai é pai, e ser pai é ser tanto como mãe.
A todos o meu apertado abraço!

Ana Amorim Dias

Open arms

De braços abertos

Às vezes acontecem momentos assim. Abrirmos os braços e chegamos à Vida. Esquecemos completamente o que está para trás e o que possa vir mais à frente. Não nos importamos se há alguém a olhar-nos ou se estamos sozinhos no mundo. É indiferente que os nossos sonhos se concretizem ou não porque chegamos a um novo estado: a aceitação da vida e de tudo o que ela nos possa trazer. Porque assim, de braços abertos, ficamos vulneráveis e absolutamente aptos a abraçar a intensidade da existência.

Ana Amorim Dias

17.3.13

Found in translation

Found in translation

Perdemo-nos muitas vezes na tradução verbal daquilo pensamos. Mais ou menos frequentemente, o sentido do que queremos transmitir, altera-se ao ser plasmado em palavras.
Mas também acontece o oposto. Também acontece aquela alquimia de entendermos exatamente o que pensamos e sentimos ao proceder a verbalizações coerentes e ponderadas.
Imaginem que têm que falar com alguém que não conhece a vossa língua, com alguém cujo vocabulário vocês também não dominam. Imaginem que usam então mais duas ou três línguas comuns às duas partes e, quando a comunicação falha em alguma delas, podem sempre recorrer às outras. A troca que, à partida, podia parecer impossível, torna-se mais rica e proveitosa.
Ora se isto é possível em línguas estrangeiras, porque não possibilitá-lo também na nossa língua mãe? É que as palavras são tantas e tão belas que cada mais me convenço que é impossível não nos encontrarmos na tradução.

Ana Amorim Dias

Ingrediente mágico

Pináculo da biscoitice

Comecei a fazê-los mais ou menos há três meses. Todas as semanas a mesma receita, repetida pacientemente até encher uma gigantesca lata que acaba sempre vazia.
Mas há dias, enquanto me deliciava com o saboroso paladar e crocantes sensações, acabei por dizer alto:
- Hum... cheguei ao pináculo da biscoitice!-
O Ricardo riu-se enquanto se atirava também à ainda anafada lata.
Nesse momento pensei que a repetição acaba por conduzir à perfeição. Mas depressa abandonei a teoria. Nada pode estar mais longe da verdade. A repetição dá segurança e até pode potenciar a perfeição, mas não é determinante. Os ingredientes que conduzem à perfeição do que quer que estejamos a fazer, são a alegria e o entusiasmo. Os componentes mágicos de qualquer receita, culinária ou não, são o prazer, a paixão, o amor! Tenho a certeza disto.
Não há como negar: as últimas fornadas dos meus biscoitos de avelã e sésamo têm saído perfeitas.
Mas, enquanto tiro a fotografia aos perfeitos biscoitos, sinto-me agitada com a sensação de desafio do meu próximo projeto literário. A vertigem do seu início invade-me de questões. Estarei à altura do desafio pelo qual espero há já dois anos? Conseguirei assegurar o bem estar familiar? Não me posso permitir que esta obra não seja absolutamente perfeita! O coração acelera e concentro-me de novo da imagem acabada do pináculo da biscoitice. - "Sim, Ana, claro que vais conseguir! Estás feliz, apaixonada pelo projeto. Sabes que o vais fazer com o máximo de amor, alegria, prazer e entusiasmo, por isso sairá perfeito!"-
No fundo de mim sei que sim, mas não consigo evitar entristecer-me por todos os que não geram perfeição por não terem hipótese de trabalhar com semelhante estado de alma.
Pouso a máquina fotográfica e agradeço silenciosamente as bênçãos da minha vida...enquanto mastigo outro biscoito.

Ana Amorim Dias

Mamã Ursa

Mamã Ursa

Costumava relacionar a expressão "fazer papel de urso" com atitudes apatetadas e pouco inteligentes. Mas creio que vou ter que reformular a associação.
Ando com esta fotografia guardada há uns tempos e, de cada vez que a olho, enterneço-me com as similitudes parentais entre espécies.
O meu filho João, à beira do oitavo aniversário, é dono de um corpo seco mas robusto, e de um peso que até aos meus fortes braços desafia. Além do mais, a férrea teimosia e consolidado mimo, levam-no muitas vezes a adormecer aninhado ao pai, numa cama que não é a sua. E então, quando ao início das madrugadas me tento deitar, apenas me resta fazer o transbordo daquele corpito de chumbo para os seus aposentos azuis. Não lhe pego com a boca, como faz a mamã ursa, mas o certo é que já não conseguirei fazer o transbordo durante muito mais tempo, a menos que me dedique seriamente à musculação.
Estou na vertigem de perder um dos mais saborosos tesouros que qualquer mamã ursa adora: tomar o filho adormecido nos braços e sentir toda a sua inocente confiança a render-se à nossa proteção.
É inegável que à medida que os filhos crescem muita coisa se vai perdendo e o terreno de proteção parental se vai tornando cada vez mais limitado. No entanto olho para a minha mãe e percebo: mesmo sozinha não traz um filho urso na boca...traz três! E renasce-me então o alento. Em breve não poderei carregar o João ao colo, mas não me importo. Sou como a maior parte das mães que são ursas para a eternidade e nunca largam o apatetado e mais belo papel que lhes é dado viver.

Ana Amorim Dias

13.3.13

Lê. Vai fazer-te bem!

Lê. Vai fazer-te bem!

Pode parecer um choque, mas cá vai mesmo assim!
Falo no masculino apenas por me dirigir aos dois géneros, está bem? Então vamos lá!

Ninguém te pode achar belo se tu não te vires belo. Não por muito tempo, pelo menos.
O derradeiro pináculo dos atributos de beleza é a aceitação plena e ternurenta de ti; a confiança que demonstras por realmente a sentires.
A tua componente mais atrativa e sensual é envergares o teu corpo e todo o seu conteúdo imaterial com uma coerência que diz: "sei que posso ser melhor, ando a fazer por isso, mas já me adoro inteiramente."
Não faças dietas, tratamentos de beleza, ginástica e afins, para te mostrares mais belo aos outros. Faz tudo isso, se quiseres, mas apenas para melhorares um pouco aquilo que já é perfeito, atraente e encantador. Fá-lo, não para te suportares melhor, mas para mais profundamente amares o produto encantador que resulta da conjugação do teu corpo com o teu espírito.
Lembra-te que quanto mais natural te conseguires manter, mais verdade existe em ti e, claro, menos trabalho e despesa terás que suportar.
Usa o teu corpo com a sapiência de quem é capaz de equilibrar respeito e excessos, sem te esqueceres nunca que os cinco sentidos que nele existem são para ser usados com o máximo prazer!
Abusa do teu intelecto como se não tivesse limites. Porque não tem. Cabe-te no cérebro tudo o que nele estiveres disposto a enfiar! Pode parecer que os intelectuais líquidos se te evaporam ao mesmo ritmo que os vertes lá para dentro, mas não: tudo fica bem retido.
Percebe de uma vez por todas que, à medida que a beleza exterior possa ir desfalecendo, uma muito mais poderosa se vai erguendo no teu fantástico interior.
Treina-te para o amor. Absurdo. Absoluto. Admirável. Por ti e pelos demais.
Treina-te para a positiva alegria que contagia o destino que vais depois atrair.
Treina-te para a resistência a tudo o que te causa desconforto e dor porque não existem vidas sem isso. Aceita. Sente. Ultrapassa.
Treina-te para aceitar desafios e para vencer. Não os outros, mas a ti mesmo.
E de caminho, se puderes, torna-te um pouco mais imortal.

Ana Amorim Dias

Reparador de cabeças

Reparador de cabeças

Vínhamos só as duas no carro, a saltitar freneticamente de tema em tema sem perder o fio à meada, como sempre conseguimos.
De repente vejo o cartaz, mesmo encostadinho à estrada. Por baixo de uns desenhos esquisitos, em letras gordas, pude ler: REPARADOR DE CABEÇAS.
Tentei controlar-me porque o volante era meu, mas ainda assim, exaltei-me.
- Descobri, Guida, descobri!-
- Hã? - pela primeira vez naquela tarde, ela perdeu a noção do que eu estava a querer dizer.
- Descobri o que sou! Já sei como se chama o que faço!-
Ela levantou as duas sobrancelhas enquanto virava mais a cara para mim, como sempre faz quando quer que eu lhe explique melhor os meus devaneios.
Falei-lhe então do cartaz e ela concordou.
- Sim, és uma reparadora de cabeças, sem dúvida! Agora saca mas é da mala das ferramentas que preciso aqui de uma revisão!-

Mais tarde pesquisei imagens de "reparador de cabeças" no Google para poder ilustrar as palavras, mas só me apareceram elixires de salvação de pontas espigadas. Que tristeza! Sempre me identifico mais com quem recupera cabeças de motor do que com um qualquer bálsamo colador de cabelos estropiados.
Mas uma questão se apresenta: se aquele habilidoso senhor recupera cabeças de motor, eu recupero cabeças que não são o motor, porque acho que o motor é o coração... (neste momento tenho os lábios franzidos para o lado direito da cara, sinal claro de combustão meditativa).
Hummmm...
"Puxa o fio, Ana, vá lá, tu consegues!"
Quando, há uns anos, comecei a escrever, fi-lo para recuperar a minha própria cabeça e, consequentemente, o meu motor primordial. Com o tempo percebi que a partilha destes escritos tem a faculdade de recuperar aos poucos cabeças alheias e correspondentes corações. Sei que sim porque mo dizem constantemente. E isto só acontece porque tudo aquilo que a cabeça compreende, consegue curar no coração, o mais fabuloso de todos os motores que conheço!

Ana Amorim Dias

João

João

Há nomes que literalmente invadem a nossa vida. Com maior intensidade que quaisquer outros. Nomes que embora se repitam em igual sonoridade, são irrepetíveis nos afetos provocados.
O recorrente nome que me baptiza fortes amores é "João". João para cima, João para baixo, João para os lados. João pai, João filho, João irmã com o " Maria" primeiro, e até um avô que o meu coração adotou se chamava João.
Não faço ideia se os homónimos partilham entre si alguma inexplicável forma de comunicação imperceptível aos demais. Mas nada me tira da ideia que quando várias pessoas amam muito outra, as suas energias se unem de alguma misteriosa maneira.
Ontem o João filho sentou-se ao meu colo: achei estranho. Abraçou-me: mais confusa fiquei. Encheu-me de beijos: comecei a ficar mesmo preocupada. Apertou-me ainda com mais força e deixou-se ficar naquela extrema manifestação de carinho tão pouco usual em si. Acabei por me render àquele momento sublime sem pensar mais nos "porquês" ou na estranheza daquilo.
O último beijo deu-mo na testa, após o que segredou baixinho: "adoro-te". E então fez-se luz. Percebi de onde lhe veio o tão carinhoso impulso.
Também te adoro, pai e jamais me esqueceria do teu aniversário. Já sei que há nomes e amores que nunca saem de nós.

Ana Amorim Dias

Document 3

Imprevistos

O humor irónico é um dos meus preferidos. Daquele inteligente, pouco óbvio, com uns pózinhos de sarcasmo, até. Não que os outros humores não me arranquem gargalhadas porque essas devemos tê-las sempre prontas a sair, para nos revitalizarem as células.
Creio que o que me atrai no humor irónico é o facto de a vida estar cheia dele. A sucessão dos imprevistos que nos preenchem os dias revestem-se muitas vezes de uma ironia tão sarcástica e pouco óbvia que poucos são os que se conseguem rir à gargalhada com os seus desígnios. É aqui que o humor e a inteligência podem fazer a diferença: nunca conseguiremos controlar os imprevistos mas talvez, se lhes entendermos o sentido, consigamos sacar mais umas gargalhadas à vida!

Ana Amorim Dias

9.3.13

Buracos

Buracos

O que será que leva um homem a pegar na sua mota e partir sozinho para uma viagem de volta ao Mundo?
Que estranha força, impulso ou apelo interior atira alguém para tal extremo?
Como se deseja tanto o que é, para tantos, indesejável? Como se concretiza uma quase total impossibilidade?
Muitos podem não entender as razões que movem pessoas assim. Podem até ser indiferentes a um feito tão magnífico, mas isso é quem não ousa voar sequer no espaço aberto dos sonhos.
- Quando for grande quero ser como tu! Mas sem as barbas nem o charuto na boca!-
Ele riu-se, do humilde cume de toda a experiência de vida: - Seul celui qui a emprunte la route connait la profondeur des trous- respondeu. - Só aquele que percorreu o caminho conhece a profundidade dos buracos.-
Éric Lobo, o escritor-fotógrafo-viajante-louco-aventureiro, guarda em si todos os buracos que a circum-navegação do planeta o obrigaram a passar. Buracos nas estradas, nas luvas, nos relacionamentos e na alma. Buracos feitos de paisagens menos belas percorridas com o desconforto extremo da neve, da chuva e de mil e um perigos. Buracos que lhe ficaram no coração ao ter que deixar para trás cada nova amizade conquistada sem esforço. O que não lhe ficou foi o mortal buraco de fugir do desafio.
Sim, decididamente. Quando for grande quero ser como o Éric. Mas sem a barba nem o cubano. Quero sentir nas costas todos os buracos de cada km percorrido. Quero ter as minhas luvas completamente esburacadas de tanto agarrar a vida. Quero o meu coração perfurado pelas setas da entrega dada a cada pessoa que amo. Quero ter uma alma que compreenda o mais profundamente possível a profundidade de cada buraco. Quero.

Ana Amorim Dias

Homens

Homens

Não resisto. Hoje dedico as minhas palavras aos homens. Aos serenos bravos que lidam diariamente com os femininos paradoxos comportamentais. Aos românticos inveterados que, desesperando ou não, vão esperando o seu dia de viver um amor-fusão. Aos Don Juans deste Mundo, que esvoaçam de flor em flor sedentos de erógenos néctares.
Sim, é com firmeza que enalteço os homens filhos, os homens pais, os homens maridos, namorados, amigos, amantes; apaixonados ou não; encantadores ou desencantados; protetores ou protegidos.
A todos confesso a minha admiração pela coragem que vão tentando fazer nascer em si em cada relacionamento, qualquer que ele seja, com o terrível mistério que para eles representamos.
O que pensamos? Como funcionamos? O que sentimos, por eles e por tudo o resto? Que sonhos nos movem? Que medos nos paralisam? O que é que nos ativa a paixão, nos atiça a imaginação e nos fomenta a evolução? Como podem lidar com os nossos velados silêncios, com as nossas oscilações de humor e nuances de sentimentos? Que pactos divinos terão que fazer para nos chegarem algum dia a compreender inteiramente?
Pois. É uma tarefa hercúlea, colossal e assustadora.É por isso, queridos homens, que aqui vos deixo carinhosas palavras de alento. Porque por mais difíceis, assustadoras e incompreensíveis que sejam as mulheres, os seus genes de amor estarão para sempre direcionados para a missão de vos amar e cuidar.

Ana Amorim Dias

7.3.13

Lições aprendidas

Lições aprendidas

Funciona assim: estamos muito bem e de repente a vida dá-nos um soco mesmo em cheio no nariz. Não conheço absolutamente ninguém a quem não tenha já acontecido.
Apesar de doer e ficarmos "abananados", temos então três opções: ficar de mal com tudo e todos, ativando um carpido e paralisante orgulho de criança mimada; ripostar com um gancho de esquerda, como um aguerrido pugilista; ou procurar investigar aprofundadamente a essência das lições que a vida, por si mesma ou através dos outros, nos traz.
O orgulho impede o contacto com os outros, que nos ajuda a encontrar as respostas. O pugilismo é violento e, por isso, nunca a melhor opção. Resta a tática do bom aluno: porquê, porquê, porquê? O que é que isto quer dizer? O que tenho que analisar, estudar e aprofundar para aprender esta lição? Ora bem, a apreensão de conhecimentos depende da nossa inteligência e da "bagagem" intelectual que já possuímos, mas o entendimento profundo das coisas só se atinge quando há uma predisposição emocional que se decide a ir mais fundo, de mãos dadas com a humildade e a inocência.
E é tão bom entender as lições da vida. Tudo porque simplesmente, de acordo com a ordem natural das coisas, as lições bem aprendidas não precisam de ser repetidas.

Ana Amorim Dias

Don't forget to smile

Don't forget to smile

Trouxe-lhe a pulseira cor de laranja de uma viagem qualquer. Ai de mim, regressar das viagens sem prendinhas para os putos, mas trago-as sempre pequenas devido ao tamanho da minimalista mala. E com significado, gosto de coisas com significado, sobretudo se são para demonstrar afetos.
Encontrei a tal pulseira, chorosa e perdida, no quarto do Tom. Rapinei-a sem que lhe sentisse a falta e ando a usá-la para não me esquecer de sorrir. Há alturas em que o sorriso se nos cola ao corpo todo com o mesmo brilho solar que sentimos por dentro e há outras ocasiões em que o choro sentido nos acorda, a meio da noite, de um sono pesado e profundo. Nestas alturas mais tristes, de dolorosas perdas, não merece a pena cerrar os dentes com força e negar a dor, mas podemos sempre resgatar oferendas feitas, repletas de significado, e usá-las como talismãs mágicos que nos lembrem de sorrir sempre, mesmo que as lágrimas corram. Porque no fim, quando a dor se vai, só nos fica o sorriso confiante. Por tudo o que vivemos, sentimos e aprendemos.

Ana Amorim Dias

Cair do cavalo

Cair do cavalo

- Galopas a bom trote os caminhos infindáveis da tua mente - disseram-me - ... será das botas?-
O meu primeiro pensamento foi que não, não é das botas porque no Verão não as uso e galopo à mesma o inteiro puro sangue a que chamo "Vida".
Não conheço cavaleiro que nunca tenha caído do seu cavalo. Duvido que exista. Não conheço quem galope a bom trote o cavalo "Vida" sem que tenha sido cuspido várias vezes do seu dorso. Duvido que exista.
Quem vive a bom trote não pode ter medo de cair. Quem escolhe viver a equilibrar-se em montadas plenas, velozes, sob o sol ou a chuva, com o vento na cara, sabe que acabará por cair. Mas sabe também que subirá para o cavalo uma e outra vez, sem se importar com quantas vezes este o derrube. Sabe que só no dorso desse puro sangue fugaz encontrará o sabor verdadeiro de estar completamente vivo.
Já caí de verdadeiros cavalos como já caí também, uma e outra vez, do dorso da Vida. E é em cada queda que me levanto mais convicta de que a vou montar de novo, talvez com um outro ritmo; sabendo talvez agarrar-me com mais força às suas crinas, para que ela não tenha tantas hipóteses de tomar o freio nos dentes.
Mas hoje vou repousar o corpo na erva, com um trevo entre os lábios, enquanto olho para a paisagem que se estende para lá das minhas botas e chapéu. Hoje descanso porque amanhã é dia de montar de novo, rumo ao luminoso pôr do sol do meu destino.

Ana Amorim Dias

Uma chuveirada na lingua

Uma chuveirada na língua

Com a água quente a descer sobre mim, rio-me às gargalhadas com a nova descoberta aquática.
Divirto-me tanto que agradeço uma vez mais a benção de me dar tão bem comigo e é nesse preciso instante que o fio dos pensamentos se começa a desatar.
Há pessoas que não conseguem sentar-se num restaurante e comer sozinhas; pessoas para quem é inconcebível ir a um cinema / museu / espetáculo sem companhia ou beber um copo apenas consigo. Isto faz-me confusão. Uma confusão enorme. É que o alimento ingerido, seja ele feito de nutrientes, arte, conhecimento ou sensações, tem que ser mastigado por cada um com os seus próprios dentes e sensibilidade; tem que ser digerido pelo seu interior e apreendido pelo núcleo das suas próprias células.
Que a catalização de tudo isto é muito mais eficiente se a ingestão dos momentos for partilhada com quem amamos, isso é inegável! Mas valerá a pena as pessoas privarem-se de se alimentar de vida por falta de companhia? Não, claro que não, sob pena de começarem muito rapidamente a ser intrinsecamente mal nutridas.
Continuo de boca aberta, a rir-me com um estranho riso pelas sensações que a chuveirada na língua me causa. Como se partilha isto com alguém? Como se cataliza melhor o "alimento" que um momento assim nos acrescenta à alma? Só me lembro de uma forma: esta.

Ana Amorim Dias

3.3.13

Pão para a alma

Pão para a alma

Começaram mansos, de fininho, quase com timidez. Foram crescendo na reconquista a todos os que já conhecem as deliciosas criações do Rodrigo.
A cada novo tema, magistralmente executado, fui deixando os arrepios assolarem-me, enquanto sentia a regeneração de todas as células do meu corpo, curando-se ao ritmo das soberbas melodias. E ao mesmo tempo que este milagre me acontecia, pude perceber que os músicos se estavam a entregar. Numa cumplicidade perfeita entre si. Com uma alegria extasiada por estarem a fazer o amam, aquilo para que nasceram.
No fim, depois de três encores prodigamente aplaudidos, vim-me embora de alma cheia. Banqueteada na verdade. É que a música que nos tocam, quando a deixamos tocar-nos, é mesmo o pão que nos alimenta a alma.

Ana Amorim Dias

Por quem vives?

Por quem vives tu?

E então, na apoteótica escuridão, ele disse que morreria por ela. E ela acreditou. Porque era verdade. Ali e então, ele teria mesmo morrido por ela.

Assim de repente lembro-me de algumas pessoas por quem morreria. Mas se morrer por quem se ama, por quem se ama mesmo, nos é uma premissa inata, por que raios viver por quem se ama é tão mais complicado? A morte é curta. Sofrida ou não, é um simples parar tudo, que nos devolve ao etéreo. Viver é mais lixado. Viver é todos os dias, cada momento, cada segundo. E isso é impossível fazer por quem quer que seja, por mais se ame para lá do que as palavras possam explicar.
Por quem morreria? Por dois tenho a certeza, o resto não sei, teria que viver uma daquelas cenas de filme para perceber à frente de que corpos usaria o meu como escudo. Por quem vivo? Por tantos, tantos seres. E por mim. Vivo para dar e receber. Um pouco de tudo. Um pouco de todos.

Ana Amorim Dias

Entendimentos felizes

Entendimentos felizes

Uma rumba magnífica soa alto no rádio do carro. Ele sai e diz "até logo" com um sorriso bem doce. Deixo-o atravessar a passadeira, mesmo à minha frente, e uma vontade irreprimível apodera-se do momento.
Uma leve buzinadela, um adeus convicto e um sorriso rasgado. Qualquer outro adolescente teria virado a cara para o lado e fingido que aquela mãe não era sua. Mas o Tomás, com a sua infinita paciência e doçura, só não me retribui a leve buzinadela.
O êxtase é tão grande que me torno irrefletida e não só repito o chamamento com a buzina, o sorriso e o adeus, como os acentuo intensamente. E o pobre miúdo mesmo à porta da escola, com muitos amigos por perto.
- Pronto Ana, já fizeste merda!- penso, assim que termino a compulsiva excentricidade.
Mas aquela criatura deliciosa vira-se para trás, em câmara lenta como nos filmes, e dá-me o sorriso mais orgulhoso e belo que jamais vi em alguém. Arranco devagar com o carro a fazer-me deslizar numa paradisíaca nuvem de prazer, quando reparo que os amiguinhos dele também estão a sorrir...e a fazer-me adeus!
Moral da história? Há tantas. Mas creio que a mais importante é ter comprovado que quando as compulsivas excentricidades nos nascem de um amor feliz, serão sempre bem entendidas!

Ana Amorim Dias

No cume da montanha

No cume da montanha

- O que tens?-
- Nada.-
- Vá, diz lá. Não gosto de te ver assim.-
Continuei a bater na tecla do "nada" e ele a insistir na identificação das causas do meu acinzentado humor.
- Não estás alegre nem fazer disparates porquê?-
- Mas que raio! Uma pessoa não pode estar sempre nos picos da vida!-
O seu ar confuso convenceu-me e acabei por ir mais fundo, porque não?
- A minha vida é pouco emocionante, sempre igual! Estou aborrecida. A morrer de tédio!-
Abraçou-me, a rir às gargalhadas.
- Parva, queixas-te de barriga cheia!- e foi-se embora, tranquilo por já saber a resposta, deixando-me com um humor ainda um pouco mais escuro.
Não faço a mínima ideia se todas as pessoas sentem isto de tempos a tempos, mas há alturas em que a necessidade de estar no cume da montanha se apodera de mim e me esmaga numa falta de oxigénio interior que a alma quase asfixia.
Quando se escalam demasiadas montanhas pessoais e se passa muito tempo nos emocionantes cumes da vida, creio que se fica com um certo vício nas sensações de estar no topo do Mundo e viver sempre nos picos torna-se uma necessidade.
Analiso a conjuntura o melhor que posso e percebo três coisas:
- Subir até ao topo das emoções é fácil.
- Permanecer sempre lá é provavelmente impossível.
- Entender que não se pode viver constantemente em picos é fundamental para o equilíbrio emocional.
Mas a cereja no topo deste bolo meditativo apenas se materializa quando concluo que saber viver nos píncaros da emoção mesmo na vida normal é, nada mais nada menos, que o exercício prático da mais elevada sabedoria.

Ana Amorim Dias

Manter o foco

Manter o foco

Uma autoridade na matéria dizia ontem, no noticiário da uma, que devemos vestir várias camadas de roupa para melhor enfrentar a vaga de frio que se faz sentir. Eu e o meu irmão armamos logo um pagode, sob o ar embasbacado do meu sobrinho e a atitude de habituação conformada da minha mãe.
- E quando tiverem calor, tratem de despir a roupa, camada por camada! - continuou o meu mano com o mesmo ar de quem estava a fazer a mais incrível revelação.
- Ainda bem que fazem estes importante apelos, Miguel, caso contrário as pessoas ainda saem de casa com roupa de praia!- ironizo.
- Com este frio? Nem tu!- alvitrou a nossa mãe.
Depois de uma fraternal desgarrada de apelos óbvios que nos temperam o almoço com abertas gargalhadas, recolho às minhas visões do Mundo.
"Porque insistem as pessoas em ensinar aos outros o óbvio? Mas, óh Ana, não é o que tu estás constantemente a fazer? Bolas! Será? Não, não me parece! Pelo menos não o faço de forma óbvia e sim com as mais estapafúrdias alegorias! E creio que nunca me saí com algo tão mau como: está frio, por isso vistam várias camadas de roupa..."
A questão é muito simples, na verdade. Todos sabemos o que fazer quando temos frio ou calor. Todos sabemos o que fazer quando temos sono, sede ou fome. E sim, sem dúvida que todos sabemos o que fazer quando nos sentimos vazios, tristes ou sós, sem que seja preciso aparecer uma sumidade no noticiário da uma a dar-nos instruções sobre como voltar a encontrar o nosso centro, foco e felicidade.
Mas se nunca nos esquecemos que com muito frio devemos usar várias camadas de roupa, porque nos estamos sempre a esquecer como se sorri desde as entranhas, como se lança magia aos outros e como transformamos a nossa realidade vibrando na frequência certa?
Porquê? Porquê? Porquê?
Hum??
Só me ocorre uma resposta: falta de foco! Estamos tão concentrados em coisas que não valem porra nenhuma que deixamos de conseguir sentir o frio que às vezes se instala dentro de nós. E se não estamos atentos ao frio que se nos instala na alma, como poderemos saber que está na hora de nos vestirmos de amor-próprio, entusiasmo e boas emoções? Temos que nos consciencializar desses intensos frios para tratarmos de nos aquecer com música, dança, sorrisos, abraços, amor...
Temos que saber sentir que estamos frios para nos lembrarmos dos incontáveis agasalhos do nosso roupeiro interior, que nos podem sair por todos os poros, como partículas mágicas que nos aquecem a nós e a todos à nossa volta.

Ana Amorim Dias