(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

2.11.11

Ser inteiro

   Num feriado ainda ameno, entre um passeio de bicicleta, um banho de mar, um jogo de ténis, alguma escrita e arrumações, consigo encontrar tempo para me esticar no sofá e dar luz verde ao frenético polegar.
  Páro na volumosa Oprah.  A entrevistada é  Jane Fonda:  72 anos, um aspeto tremendamente jovem e saudável e um brilho feliz no olhar. Fico a ver. Afinal a senhora, a cada nova frase que diz, apresenta-se-me com a característica que mais gosto: coerência. Mando parar o polegar porque pressentido que algo  bom vai sair dali.
  E fico assim, durante quase uma hora, a conhecer  mais um caso de vida, como tantos, com altos e baixos, conquistas e desesperos. Sinto-me inspirada com muitas das coisas que diz… e comprova! Afinal envelhecer pode muito bem ser uma aventura maravilhosa, sábia e enriquecedora!
  Mas o momento pelo qual eu esperava, o tal que pressenti que chegaria desde o primeiro momento da entrevista, chega sob a forma de parcas palavras: “ As mulheres tentam, durante toda a vida, ser perfeitas… e esquecem que devem lutar apenas por ser inteiras!” .  A frase atinge-me com a força de um furação de boas consequências…. e começo,  de imediato, a “digerir” aquilo!
   Não são só as mulheres a buscar a perfeição quando, em vez disso,  deviam lutar por ser inteiras. Também aos homens se aplica. Cada vez mais.   Ser perfeito não será apenas uma utopia sem qualquer hipótese de concretização prática?  Ser inteiro não será a mais nobre causa a que  pode aspirar cada indivíduo, no campo da sua própria evolução? E o que implica ser inteiro? Aceitarmo-nos e aprendermos a lidar com as nossas idiossincrasias e características mais estranhas? Ou ousar colocar a nossa fasquia cum cume de realização pessoal, familiar e profissional? Ser inteiro será  aspirar a viver em absoluta e pura verdade com todos os que nos rodeiam e darmos tudo de nós?
   Creio que a resposta a esta questão apenas poderá ser dada por cada um de vocês… Mas posso partilhar que, para mim, ser inteira é não me dececionar; é ser verdadeira comigo;  é cair e voltar a reerguer-me mais forte e sábia; é saber  desistir do que não importa e descobrir o que tem realmente importância. Ser inteira é amar-me incondicionalmente, mas aceitar críticas; é amar incondicionalmente os outros sem deixar que esses outros me destruam ou suguem demasiada energia. Ser inteira, para mim, é estar ativa, cheia de planos, projetos, sonhos e metas…. enquanto, ao mesmo tempo, sei desfrutar a viagem….
Ana Dias