(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

24.2.12

“Já o rego não vai direito”


   O José Joaquim Botequilha, mais conhecido como Zé Bambo, repete constantemente uma frase que, com uma ou outra variante, reza mais ou menos assim: “Mau… Já o rego nã vai derêto!”.  
    É que o Zé, quando a vida não lhe vai de feição, aclara a garganta num ronco profundo e profere com solenidade a dita frase, numa espécie de aviso premonitório. Como quem diz: ou isto muda ou as consequências virão depois.
    À força de tantas vezes o ouvir,  acabei por prestar atenção àquelas  palavras que lhe saem sempre com a voz semi rouca e meio toldada, mas creio que apenas as compreendi há uns tempos quando, num raro e muito aplaudido pulsar da minha fraca veia bucólica, me decidi a ajudar a plantar favas e griséus ( a quem não seja algarvio:  griséus são ervilhas). 
   Enquanto ia deixando cair as favas secas no solo fértil que as esperava, reparei que os regos estavam um pouco para o lado do torto.
- Mas que raio… -  pensei  - Afinal é por isso que o Zézinho diz sempre que o rego já não vai direito. – Não me preocupei pois percebi que não havia razão para alarmes: não era por o rego estar torto que as favas não nasceriam!
  Passei ontem pela horta. As favas e os griséus vão despontando, todos convencidos e viçosos, apesar do rego torto! O que me leva a concluir que, na maior parte das “plantações” das nossas vidas, as condições não precisam de ser perfeitas para as plantas germinarem. Na verdade nunca ouvi falar de planta alguma que deixasse de nascer só por o rego estar torto.
Ana Dias