(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

Em casa…

Lembro-me perfeitamente daquela noite, apesar de já terem passado oito anos. Eu estava sentada no chão da sala a ver álbuns de fotografias. O resto da família estava também na sala. O Juan ao computador  e a Ana Maria a trocar sms com o namorado. A Luz Helena via a novela da noite, enquanto o Ricardo e o Luis bebiam rum e conversavam sem parar. Recordo-me até hoje do que senti naquele serão, sentada no chão daquela sala,  porque estava tão em casa quanto alguém pode estar… Estava no ninho acolhedor e reconfortante do meu lar, com uma sensação de pertença tão absoluta que raiava o absurdo …. sobretudo tendo em conta o facto de estar a tantos milhares de quilómetros de casa, em Medellin, na Colômbia. 
  Conheci o Luis e a Luz Helena nas caraíbas, alguns anos antes dessa noite. Eles celebravam vinte anos de casados e eu estava em lua de mel. Algo aconteceu entre mim e o Luis… Talvez tenha sido no momento em que o conheci que comecei a ter a mente mais aberta para certas coisas,  porque só posso justificar o que aconteceu como sendo um reconhecimento de almas que desde sempre se conhecem. Estávamos na mesma excursão quando, sem mais nem quê, o comecei a tratar por Pápi, e fi-lo com uma tal naturalidade que, ao longo de todos estes anos, sempre que falamos ele trata-me por “hija mia”.  Mas não é só a maneira como nos falamos e relacionamos; é o que sentimos cá dentro: algo maior que a vida… 
  Nos últimos dias da minha lua de mel, o Luis e a Luz foram embora, deixando atrás de si uma saudade e um vazio inexplicáveis. Foram dias fabulosos. A nós os quatro  foram-se juntando outros casais apaixonados, com quem formamos um grupo vasto e divertido cujo sol em torno do qual todos gravitávamos era, indubitavelmente, o Luis.
  Duvido que haja no mundo alguém com aquela alegria e loucura; com um coração tão enorme e uma vitalidade tão viva… Talvez exista, mas será, sem dúvida, uma mera sombra do verdadeiro Sol: o meu Pápi do outro lado do mundo…
  E é com um sorriso rasgado que recordo e escrevo sobre aquela noite em que, tão longe de casa, estive realmente em casa, com aqueles pais “suplentes” com que a vida me brindou; com aqueles manos lindos com quem tão bem me entendi… E é com um sorriso no coração que olho para o colar milenar que a Luz me ofereceu… Tinha apenas dois: um para cada uma das filhas….
  E é por isso que sei que um dia direi aos meus filhos que um lar e uma família nos podem ser presenteados onde menos o esperamos!
Ana Dias

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