(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

7.2.13

Document 1

O voo da mudança

Vinha no carro, a voar por cima da terceira nuvem à esquerda, pensando numa frase que ontem disse: "A mais bela magia humana é a capacidade de mudar."
Disse-o a propósito das pessoas que, de forma consciente ou não, nos mudam para melhor por dentro e são depois indiretamente responsáveis pelas boas influências que vamos semeando à nossa passagem.
A certa altura, no meio do meu voo rasteiro, vejo uma enorme águia, a voar quase tão baixo como eu, na berma da estrada. Era magnífica e enorme, para deleite dos ocupantes do carro.
- Vais escrever a crónica da águia, mãe?- quiseram saber os miúdos.
- Claro!- Respondi, pensando de imediato como ia cozinhar "águias" com "mudança".
Ao verificar a simbologia da águia vejo que não representa apenas a coragem, o poder e a elevação por ser encarado como o mediador xamânico entre o divino e o espiritual. A águia é também considerada o símbolo da clarividência por poder fitar diretamente o sol. A águia tem também a simbologia da renovação e da elevação do espírito a grandes alturas.
Inspiro a vida inteira para dentro dos meus pulmões. Que sinal mais encorajador e poético me poderia a natureza dar nesta manhã em que a mudança esperava pelas minhas palavras?
A verdade é que esta crónica não teria o mesmo peso sem a visão daquela águia. A verdade é que nenhum de nós tem a mesma influência no Mundo se resistir à magia do voo em direcção à sua evolutiva mudança interior.

Ana Amorim Dias

Colinho

Colinho

Amanheci a pensar nela e nas maldades que a vida lhe fez. Contou-me no outro dia quando nos vimos pela segunda vez. Abriu o coração e chorou.
E eu, sentada no chão a seus pés, cingi-a com os meus grandes braços e deitei-lhe a cabeça no colo, num tipo diferente de abraço.
Ontem escreveu-me a agradecer o colinho que, na prática, foi um bocado invertido. Respondi-lhe que os colinhos não se agradecem e que a vida lhe há-de trazer tanto colo que vai compensar tudo o que já passou.
Que o colo cura não é novidade para ninguém. O que talvez nos esqueçamos é que podemos mesmo dar colinho a toda a gente, mesmo a quem mal conhecemos, desde que deixemos o instinto curador apoderar-se de nós. O que nem sempre lembramos é que o colo que damos surte efeitos invertidos e nos cura a nós também.

Ana Amorim Dias