(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

What a shame

    É desde a mais tenra infância que  somos “formatados” para a vergonha.  Se um bébé não tem qualquer pudor em estar nu ou chorar e arrotar em público, o mesmo já não pode ser dito de  uma criança com poucos anos. Porque assim que começa o entendimento começa também o culto da vergonha.
  Ao longo da vida, os mais diversos tipos de vergonha vão invadindo cada criança, jovem e adulto. Além das vergonhas básicas e compreensíveis ( há coisas que realmente fazem parte da nossa intimidade e é como tal que devem ser mantidas…) há as outras… aquelas que nos impedem de fazer o que pensamos ou sentimos… aquelas que nos paralizam quando o que queremos é dar largas aos nossos impulsos mais sentidos.  Quantos de nós não sentiram já o desejo de cantar e dançar à chuva;  de dizer uma piada despropositada ou de dar um abraço bem apertado a alguém com quem não se tem confiança para isso?  Quem nunca sentiu o impulso de falar com desconhecidos, fazer patetices ou “meter-se” onde não é chamado?
   A vergonha impede momentos únicos de acontecerem… Inviabiliza acontecimentos que, provavelmente, alterariam o curso das estórias que compoem a história.
   Poderão, neste momento, pensar que, por outro lado, a vergonha (como o medo) os protege de situações perigosas e socialmente nefastas. Quem sou eu para rebater tal argumento. É cada um que sabe, a cada momento, até que ponto está disposto a ser genuíno, mesmo pagando o preço da incompreensão e da chacota.  Porque cada pessoa é livre de expôr o seu íntimo e a sua maneira de ser… ou encobrir o encantador sorriso da sua alma sob uma cerrada capa de conveniência e “conivência” com o socialmente correcto…
   Por outro lado há a vergonha que cada pessoa tem das suas  características pessoais ou de aspectos da sua vida: é natural que  quem  tem características de que não gosta, as queira esconder,  pela vergonha de ser imperfeito. E quem tem “esqueletos no armário” não quererá, com certeza, andar a bradar aos ventos que eles lá estão escondidos… mas até que ponto é que trocar a vergonha pela aceitação de defeitos e falhas não é algo poderosamente libertador e importante para o derradeiro bem-estar de cada um?  O que será mais doloroso: viver com vergonha e a tentar esconder algo, ou assumir finalmente quem se é, como se é e de que episódios se compõe a  história de cada vida?  Porque, se pensarmos um pouco, o combustível que faz arder a chama da vergonha, nada mais é que a necessidade de aceitação. É nesta ânsia de cada pessoa por se integrar, por ser aceite, por ser aplaudido, que reside o cerne da questão...  Sendo o Homem um “animal” tão inegavelmente social, é-lhe imprescindível sentir-se parte de um todo que o aceita, ou não fosse um dos mais terríveis castigos da antiguidade ser-se votado ao ostracismo.  Mas será mesmo que é pelo filtro da vergonha que se impede tal facto? Ou será que,  vivendo sempre em vergonha,  as pessoas  se alienam de si mesmas?...
    Decidam por vocês… porque eu vou continuar com as minhas atitudes excêntricas a dar o melhor uso à vida! E tenho a certeza que, no fim, não direi : “ What a shame…”
Ana Dias  

Sem comentários:

Enviar um comentário