(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.11.11

O tempero

- E como quer que lhe prepare a carne, menina?-
- Olhe.. Não sei. – Respondi.
- Mas como é que a vai cozinhar?- Insistiu a senhora do talho, enquanto eu tentava controlar o Tomás, então com cinco anos, tendo o João ao meu colo.
- Pois… eu não cozinho.
   Apesar deste episódio se ter passado há uns bons anos, ainda me lembro bem da cara de pasmo da dita senhora,  que olhava alternadamente para mim e para as minhas rechonchudas crias, tentando perceber como raios  conseguia eu manter uma família sem cozinhar.
  Mas tudo tem o seu tempo e, se durante muitos anos eu pensei que jamais iria cozinhar, (porque não gostava ou não sabia) a vida veio a surpreender-me com o prazer desta atividade tão complexa e desafiante. Considero que, para cozinhar bem, é preciso inteligência,  vontade e instinto (requisitos que são imprescindíveis para qualquer coisa que se queira fazer bem).
  Mas, voltando à cozinha e ao fogão,  há algo mais que determina se o resultado final é um reduntante sucesso ou um tremendo fracasso: o tempero! Quando descobrimos as potencialidades do tempero e de tudo o que ele pode fazer pelas nossas criações, percebemos como é fácil garantir a presença de qualidades apetecíveis em tudo o  que confeccionamos. E, apesar das cestas repletas de especiarias, eu sei muito bem que o tempero secreto que garante o sabor das comidas que preparo é… a música! Poderá parecer estranho mas, pelo menos no meu caso, cozinhar a ouvir música faz realmente toda a diferença. E isto leva-me a pensar: já encontraram o vosso tempero para a vida?
Ana Dias