(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.10.12

“Ninita” e o até já aos “Meus Branquinhos”



   Hoje deparo-me com um dilema. Dois temas inadiáveis requerem a minha atenção. É imperativo escrever sobre ambos e é por isso que esta crónica  será feita em  dois atos.
“Ninita”
    A avó Mariana, mãe da minha mãe, chamava “nena” à filha. “Nena” ou “ nenita”, é a forma carinhosa de, em castelhano, dizer menina.   Mas há coisas que (não necessariamente para mal) se deturpam e, muito rapidamente, a minha mãe começou a ser dona de uma doce alcunha: Ninita.   Durante a minha própria infância fui-me habituando a ouvir o meu pai, a minha outra avó e outras pessoas mais velhas a chamarem-lhe Ninita mas, com o passar do tempo, tal tratamento caiu no esquecimento… mas só até o Vítor e a encantadora Micá (re)entrarem de rompante nas nossas vidas.
   Hoje a Laura “Ninita” faz anos. Do alto das suas várias décadas,  mantém o ar de princesa serena que eu lhe atribuía quando só lhe chegava à cintura. Com o seu cabelo branco, andar deslizante,  pose nobre, e beleza natural,  a Laura, minha mãe, continua a ser o irreprensível ícone de matriarca compreensiva e exemplar. Mas, olhando com mais atenção, percebo que ainda nela habita a Ninita, a nena que foi em menina.  Porque todos somos tudo  o que a soma da passagem dos anos foi deixando marcado em nós.  Parabéns mãe!

Até já aos  “ Meus Branquinhos”
  Ele olhou-me com olhos tristes quando nos abraçamos com força. O combóio estava prestes a levá-los de novo para longe.
- Não vás triste… Para nos podermos ver de novo é preciso dizer “até já”.  – Segredei-lhe ao ouvido, convicta do que estava a dizer. Por muito que tenha detestado o momento do adeus, percebi que os cinco dias que passei com este maravilhoso casal valeriam todas a penas.
   Desconfio que a tristeza da separação é mais cruel para quem tem mais idade. Talvez o inconfessável receio de não haver próxima vez lhes baile no pensamento como um fantasma de negras vestes.
  Mas esses medos obscuros não passam disso mesmo: de pensamentos. Porque com a linguagem da alma o que realmente dizemos a quem amamos é que estamos sempre juntos. Para lá do espaço. Para além do tempo.
Ana Amorim Dias