(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.10.11

Por inteiro...


   Entro no carro e sinto o calor. Começo a percorrer os cinquenta quilómetros que agora me separam de casa e percebo que é imperativo ligar o ar condicionado.   A voz da Nina Simone invade o pequeno espaço e consola-me das saudades das maravilhosas mulheres que deixei para trás, naquela terra cinzenta e fria.
   O voo decorreu suave e ensonado mas, ao sair do avião, sinto o peso dos vinte graus a mais. Felizmente fui precavida e deixei uma fresca blusa de alças por baixo de toda a roupa que de manhã vesti.   E, perante o calor e luminosidade brilhante da minha terra, percebo que no frio também se pode encontrar calor…
  Cheguei à Holanda na sexta feira, para rever as minhas tias  e reencontrar-me com a mãe delas, o amor da vida do meu avô paterno, que nunca conheci. Ao longo dos breves dias conheci primas ( é impressionante o que a distância pode fazer…)  e “conheci” um pouco mais sobre esse avô maravilhoso a quem, na inocência da infância, pedia sempre a etérea  proteção; ouvi contar a história de um amor eterno e imortal e episódios da vida de um homem único que me deixou como legado uma imensidão de características de que tanto me orgulho. De caminho recebi uma avalanche quente de amor e mimos que me deixaram com a certeza de que há laços que nem o tempo nem a distância têm capacidade de enfraquecer.
  E então, enquanto o carro desliza suave ao som da potente voz da Nina,  sorrio para o céu numa silenciosa comunhão com dois homens que estão juntos, a brindar para toda a eternidade… Onde quer que estejam, o meu avô e o meu pai, devem ter passado um fim de semana feliz, a “ouvir” as gargalhadas e cumplicidades das suas filhas.
  E sigo o meu caminho, a sentir-me infinitamente rica e poderosa: o meu avô pode ter sofrido muito para poder viver aquele amor, mas o seus frutos estarão para sempre unidos num amor indissolúvel. Porque, como dizia o meu pai às suas meias irmãs: não há meios irmãos, há apenas e sempre, irmãos!
  E sabes, Rute? Ele tinha razão! Porque eu jamais saberia dizer-te qual a metade de mim que é tua sobrinha….
Ana Dias