Sou fascinada por colares únicos feitos pelas mãos hábeis dos próprios artesãos que os vendem em feiras, mercados ou simples bancas na rua despontadas. Encanta-me conhecer quem faz o que trago ao peito, para estar bem segura da riqueza das peças, porque cada objeto que requer arte na sua feitura fica impregnado da energia de quem o cria; fica com um valor que transcende a matéria e a beleza.
É por isso que grande parte dos meus colares tem uma estória, mas vou-vos contar apenas a mais recente.
No domingo, último dia dos Medievais de Castro Marim, tive finalmente tempo para, pela primeira vez este ano, vaguear pelas ruelas em busca de algum tesouro. Detive-me em algumas bancas de ornamentos, mas em outras, as do produto industrializado, nem sequer parei. A certa altura os olhos prenderam-se a um colar prateado com uma pedra azul, pendurado numa minuscula bancada que era também o atelier do artista moreno que me atendeu em tronco nu. Falamos um pouco. Era de Madrid, o rapaz. Tem amigos em todo o mundo, que foi fazendo no seu jeito acertadamente errante de levar a vida.
- Esta pedra deve ser usada junto à garganta… - Disse-me – Melhora a voz e a eloquência, sabe? –
Eu ri-me. Claro. Tinha que ser.
Não trazia dinheiro suficiente no bolso das calças e disse-lhe que voltava em pouco tempo. Sorriu-me em concordância: também ele sabia que aquele colar era meu.
Mas a parte mais gira desta pequena estória não é, de todo, aquilo que já contei e sim o que ainda aí vem.
Quando fui buscar o colar, levei o meu filho mais velho comigo. O madrileno das rastas olhou para o Tomás e disse: - Este rapaz já cá veio ontem, e perguntou-me o preço do seu colar. –
- Pois foi, mãe. É o mais bonito de todos e tive a certeza que era o que escolherias. –
Abracei o meu filho enquanto o moreno artesão me talhava o colar à medida do pescoço.
“ De todas as bancas de colares ele acertou na correta e de todos os colares que aqui há, soube escolher o meu…” pensei, embevecida.
Será que o sentido estético se pega em dez anos e dois meses de vida? Será que ele é apenas um menino atento aos gostos da mãe? Ou será algo mais? Creio que é algo mais… e que o meu gosto mais íntimo lhe foi transmitido nos genes.
Ana Amorim Dias