(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

17.7.12

Cartagena


    Quando o avião se começou a fazer à pista tentei visualizá-lo de novo. Não me lembrava de ter entrado em nenhum hidroavião e estava prestes a aterrar no meio da água. A pista apareceu finalmente e só recordo que a primeira impressão de Cartagena de Indias, na Colômbia, foi diametralmente oposta à ideia com que de lá voltei. Inicialmente pensei que criara expetativas demasiado altas pois tudo era banal e sem graça mas,  à medida que o taxi se ia aproximando da velha Cartagena, fui-me deixando deslumbar.
    As memórias estão já vagas pois muitos anos se passaram e, nessa época, nem existiam iphones nem eu sabia ainda que era escritora e que devia registar  com palavras  cada sensação à medida que as ia sentindo. Mas ficou-me gravada a beleza quase sobrenatural do fundo do mar nas Islas del Rosário; ficou-me marcado o sentir dos cheiros, da atmosfera, dos sons e sabores. E ficou-me uma imagem:  a entrada do clube de vela, à noite, onde já não me recordo porque não cheguei a jantar.  Creio que passámos lá de charrete, a caminho de qualquer outro destino onde a noite já estava planeada.  A imagem daquela entrada de vegetação tropical e contornos coloniais, coroada pelas velas e tochas que ardiam oscilantes sob a suave brisa quente, está tão nítida em mim como se a estivesse a ver neste momento. Talvez por isso não me tenha esquecido da promessa que me fiz de lá voltar e não deixar de jantar no clube de vela…
   E agora que me lembro de tudo isto uma nova ideia me surge: é que viajar é como amar,  por melhor que se escreva não há palavras que descrevam estes dois estados de espírito.
Ana Amorim Dias