(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

Peregrino das Estrelas

  Deixo o telefone chamar, mas ninguém atende. Espero um pouco mais. Em vez do meu irmão, atende a minha cunhada que me informa que ele está nas cem piscinas matinais. Peço que mesmo assim o interrompam, e a minha sobrinha leva-lhe o telefone à piscina. Talvez outra pessoa não merecesse a interrupção das cem mil léguas submarinas mas, para o meu genial maninho, as irmãs são uma prioridade!
  -“ Estou, maninha?” – pergunta-me, curioso e ainda meio ofegante.
- “ O planeta Terra viaja no espaço?” – Habituado aos meus devaneios, que surgem sem mais aviso, começa a responder prontamente.
- “ A Terra anda à volta do Sol…”
- “ Passa à frente, essa parte eu sei!!”
- “ …E o Sol anda à volta do centro da nossa galáxia… Um gigantesco buraco negro cuja existência já foi comprovada. Para toda a galáxia dar uma volta completa em torno do seu centro são necessários cerca de 200 milhões de anos, mas quanto a estes valores não estou bem seguro… Depois… há milhões de galáxias….” – Quando começa a falar disto já ninguém o cala.
- “ Mas diz-me, estamos a viajar no Universo?...”
- “ Tudo se move, nada é estático. Ainda para mais porque o Universo está em expansão e depois há ainda outras forças como a da gravidade que, apesar da expansão do Universo, faz com que galáxias inteiras se juntem mais umas às outras,  formando aquilo a que se chama os enxames de galáxias…”
- “ Obrigada maninho, já tenho o que preciso. Vai lá nadar outra vez!” – E desligo sem que o meu bem informado irmão chegue a ter tempo de me perguntar o porquê de tais perguntas.
  Pois bem, o “culpado” é um senhor que ontem me pediu amizade virtual e que se define como Peregrino das Estrelas. À vista desarmada,  pensei: “ Pimba… mais um chalupa…”, mas depressa reconsiderei,  por ponderar que,  no fundo, de uma forma ou de outra,  todos somos viajantes do Espaço (mas não quis escrever esta crónica sem consultar uma autoridade…).
  Vieram-me à lembrança uns meteoritos que vi no Museu de História Natural de Nova Iorque. Fiquei impressionada com a densidade dos pedregulhos que tinham um peso tremendo para o volume físico em questão. E fiquei a olhar ( e a tocar, como não??) embasbacada para aqueles pedaços de matéria vindos sabe-se lá de que confins do Universo. Fiquei a pensar se as primeiras células que deram origem aos primórdios da vida na Terra se terão gerado por cá ou terão  chegado “montadas” nalguma daquelas pedras celestes…
   Será assim tão descabido que alguém se auto proclame Peregrino das Estrelas? Afinal não estamos todos em movimento no imenso Universo? Não pertencemos ao Espaço? Não podemos voar, por dentro de nós, até aos confins desta Galáxia e de todas as outras?  Talvez desta vez me tenha “metido” por terrenos pantanosos… mas quem sabe, um dia destes, nas minhas imaginárias viagens, não me sente num confortável meteorito, com as perninhas a balançar, e parta numa emocionante viagem como Peregrina das Estrelas…
Ana Dias

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