(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

Plenitude

Se me perguntassem qual foi a coisa mais louca que até hoje fiz, responderia, sem piscar os olhos: - “ fui mãe!!!”
   Parece tão banal e esperado, esse acto de continuar a espécie, não é? Mas se virmos bem é algo que passa a determinar toda a nossa existência e, por muito que pensemos que tudo o resto também é importante (trabalho, amor, vida social, interesses), tudo se relativiza perante esse avassalador assombro da maternidade.
  No momento em que nos sabemos mães ,  toda a estrutura e conjuntura da nossa existência se transmuta e passa a prevalecer uma premissa básica: a todo o momento, qualquer que seja a ocupação, pensamento, companhia ou lugar, há algo no nosso pensamento: os filhos!! Pode ser um pensamento consciente ou mais escondido e profundo, mas a preocupação pelo seu bem estar e segurança está sempre lá!! E isto não é algo que com o tempo se esbata, muito pelo contrário: temo que se acentue ( sobretudo à medida que vão saíndo à noite, tendo carros e motas, levando lambadas da vida…)
  No momento em que os meus filhos nasceram percebi o porquê de, na natureza, as fémeas terem uma superior dose de ferocidade. Percebi algo tão simples quanto: “por eles sou capaz de morrer… e de matar.”
  Lembro-me que o meu pai me dizia, às vezes,  quando eu lhe dava trabalho: - “ um dia hás-de ter filhos…” – E eu respondia, no gozo: - “ Náá, eu compro um pastor alemão…”.  Mas ele tinha razão… E um dia eu tive filhos… e dentro de mim  passaram a  estar três pessoas:  a Ana, o Tomás  e o João… Passei a sofrer por três, a ser feliz por três, a ter sonhos por três  e a aprender lições por três… Passei a estar mais completa, mesmo na inquietude; mais combativa, mas pacificamente; mais compreensiva na minha incompreensão e mais plena, mesmo no tormento de saber que para sempre estarei alerta....
  E, na odisseia de ser mãe deles, vivo esta aventura linda feita de constantes tentativas de acertar,  mesmo sabendo que erro … percorro a estrada da vida com eles , sem os querer prender demais  nem permitir que se afastem muito… sigo, com um temor confiante, a percorrer o correr dos dias, tentando fazer deles homens merecedores do seu próprio orgulho….
Ana Dias

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